A pequenez como prática na política mossoroense

Por Thadeu Brandão

A política como ela é, ou realpolitik como denominam os cientistas políticos, é um teatro (se pensarmos em termos de espaço) onde diversos atores atuam através de suas representações e a partir de estratégias e táticas. Seu objetivo final é a conquista do poder, alcançada através da posse de cargos públicos. Daí, auferem-se capitais para a consecução de seus projetos mais amplos, ligados às suas ideologias ou aos interesses dos que ali lhes colocaram.

Não há inocência nesse processo. Luta-se por cargos e por projetos de poder, a curto ou a longo prazo. Isto é determinado pela força do grupo político ou pela sua capacidade de manutenção. Também é determinado pela sua capacidade de sintetizar os interesses dos seus “patrocinadores” ou dos discursos políticos predominantes.
As estratégias e táticas são determinadas pelo sistema político e como este direciona as formas de luta possíveis. Numa democracia, como bem nos lembrou Noberto Bobbio, as regras do jogo precisam estar postas antecipadamente e os recursos desta luta têm que ser iguais para todos. Ao mesmo em teoria.
Em Mossoró, a realpolitik parece ser guarnecida por táticas de conquista e manutenção do poder que, se não são iguais para todos, nem todos querem usá-las. Com o advento da internet e das redes sociais, as difamações pessoais, os ardis mesquinhos, as infâmias e fofocas de comadres aparecem como instrumentos fundamentais da disputa política. Pouco se vê a crítica da ação política em si. Quase nunca encontramos a discussão ideológica que permeiam projetos e planos para a cidade. Sobram picuinhas, salamaleques invertidos de uma tragédia nem um pouco shakespeariana. Vale falar mal até da sexualidade dos atores, como se esta influenciasse em seu papel de gestor político ou administrativo e em sua competência.
O que se esconde por trás de tudo isso? A velha disputa por cargos, é claro. Cargos, benesses, rendas e prebendas. Não apenas o cargo em si, mas um “favorzinho” no acesso àquela vaga comercial, naquele ponto, naquela barraquinha. Uma “ajudazinha” naquela concorrência ou naquele emprego na empresa terceirizada para o “amigo do cunhado da namorada do irmão do meu primo em quarto grau”… Paroquialismo? Mais do que isso! Uma dinâmica tradicional de fazer política que, não se espante, ainda está presente Brasil afora, inclusive nas mais altas esfera do poder.
Em Mossoró, a política é eivada de pequenez não por ser mossoroense, mas pelo fato de Mossoró ser tão brasileira.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto