A terceira via tem chance?

Por Ney Lopes*

Se haverá ou não “terceira via” é uma indagação habitual, quando se fala da eleição de 2022.

Há tempo pela frente. A previsão é que o último dia para filiação a um partido político seja 7 de abril de 2022, com as eleições em  2 de outubro (1° turno) e 30 de outubro (2° turno)

 Luiz Inácio Lula da Silva uniu-se a Jair Messias Bolsonaro e aguçam a polarização política entre os extremos, através da difusão de ressentimentos recíprocos.

Ambos levam no ridículo a hipótese de uma “terceira via”, por não lhes convir.

Enquanto isso, as pesquisas mostram mais de um terço do eleitorado sem candidato à presidente da República, prenunciando a viabilidade eleitoral de solução fora dos extremos.

Todavia, a terceira via para tornar-se realidade terá que dar urgentemente sinal de unidade e evitar a pulverização de pretensos candidatos.

A radicalização prejudica o debate amplo, promove a intolerância e reduz a confiança no diálogo e na construção de soluções negociadas para problemas coletivos.

Como bem afirmou o ex-presidente Michel Temer “o Brasil não pode continuar mais com esta guerra entre brasileiros e as próprias instituições”.

A candidatura alternativa exige a união em torno de “um nome”, que aglutine forças políticas e leve o eleitor a direcionar o seu voto para essa opção, se ele não quer votar em Bolsonaro, ou Lula.

Em momentos de crise política, os partidos sempre constroem pontes e coalizões entre grupos antagônicos.

Isso aconteceu na coalização formada por nacionalistas judeus e árabes-israelenses para derrubar o ex-premiê Benjamin Netanyahu, em Israel.

Joe Biden nos Estados Unidos, em 2020, juntou democratas e republicanos mais moderados.

No Brasil, na eleição de 1985 as forças democráticas se uniram em torno da candidatura de Tancredo Neves.

Em 2018, Bolsonaro ganhou uma eleição plebiscitária, que girou em torno de quem teria mais chances de tirar o PT do poder.

A eleição municipal de 2020 foi emblemática.

Não prevaleceu a polarização Lula e Bolsonaro.

Os maiores partidos  PT e PSL fizeram menos prefeitos, que as cinco legendas menores MDB (783), Progressistas (687), PSD (654), PSDB (521) e DEM (466).

Os resultados demonstram, campo aberto na formação de uma coligação ampla, que viabilize a terceira via, em 2022.

Há contradições, que merecem análise.

Frequentemente, Bolsonaro e Lula criticam o “centro”, mas tentam atraí-lo para alianças.

Lula ao recuperar a elegibilidade correu em busca de apoios junto a caciques do centro, como José Sarney, Eunício Oliveira e até mesmo seu velho concorrente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Insinuou que gostaria de ter como “vice” nomes como Alexandre Kalil, prefeito de BH (PSD), a empresária Luiza Trajano, dona da rede varejista Magazine Luiza, Josué Gomes, presidente da FIESP, ou o general Santos Cruz, ex-ministro do governo Bolsonaro.

Ultimamente, Bolsonaro faz o mesmo e levou o líder do “centrão” senador Ciro Nogueira para o núcleo do governo, mesmo após seu ministro Augusto Heleno ter cantarolado: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”.

O general fez uma paródia do samba “Gente Bacana”, cujo refrão diz: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”.

Vê-se, que cada candidato joga poeira nos próprios olhos, para desviar atenção do que realmente tem importância.

Visão pragmática do quadro político de 2022, não pode considerar a “terceira via” como a salvação nacional.

Será apenas assegurar o direito ao cidadão de ter alternativa e decidir na urna.

Bolsonaro e Lula não devem ser subestimados.

O presidente mantém percentual de apoio em torno de 25%. e Lula lidera as pesquisas, embora a sua candidatura possa ser afetada por algum processo judicial, a ponto de torná-lo novamente inelegível, com base na Lei da Ficha Limpa.

Já se percebe, que o debate da eleição não será em torno da pandemia, diante da possibilidade da vacinação em massa, nem tão pouco de questões econômicas abstratas para a maioria dos cidadãos, como teto de gastos, PIB, câmbio etc.

O fator decisivo para levar o eleitor à urna será o “bolso da população”, não apenas dos mais pobres, mas também da classe média que definha, empregos, preços, saúde precária, condições de vida, além de um projeto político, social e econômico, que defenda a “união nacional”, a exemplo do que fizeram países como Chile, Espanha, Portugal, Polônia e outros.

Ninguém se engane: além de melhoria na qualidade de vida, o brasileiro quer paz.

Deseja uma nação unida, com menos tumultos.

Diante de quadro tão complexo, não se justifica cruzar os braços e simplesmente buscar o “mal menor”.

Nunca se deve esquecer a advertência do cientista político Luiz Felipe D’Ávila, ao lembrar a filosofa alemã Hannah Arendt, que disse:

“aqueles que escolhem o mal menor esquecem rapidamente de que escolheram o mal”.

*É jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado.

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