Agentes de trânsito de Mossoró denunciam assédio moral, perseguição e machismo por parte de superiores

Agentes de trânsito denunciam humilhações e assédios (Foto: Divulgação PMM)

O Blog do Barreto recebeu, com exclusividade, uma série de denúncias sobre casos que vão do assédio moral à perseguição e misoginia dentro da Secretaria de Trânsito de Mossoró. O principal acusado das práticas antiprofissionais e sexistas seria o Diretor de Unidade de Trânsito, Jeová Fernandes, conhecido popularmente como “Sub”, em alusão à sua patente na militar.

De acordo com um grupo de Agentes de Trânsito, que solicitou que suas identidades não fossem reveladas, desde o início de 2021, quando a nova gestão municipal assumiu, um clima de perseguição e assédio moral se instaurou na gerência de trânsito da cidade. Os agentes inclusive iniciaram um processo de filiação em massa ao Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Mossoró (Sindiserpum) como forma de se proteger dos ataques sofridos no ambiente de trabalho.

Um dos servidores relata que são incontáveis os casos de humilhação e silenciamento dos trabalhadores por parte do gestor. Ele afirma que as principais vítimas são as mulheres, que recebem um tratamento ainda pior e mais rude.

“Desde que tomou posse, o diretor tem tido um comportamento bastante inadequado. Tem servidores que ele parece não gostar, e isso acontece sem nenhuma explicação lógica ou profissional, e por conta disso pune trocando escalas, mudando horários, impedindo de fazer plantões, o que acaba sendo convertendo em uma punição financeira também. Em relação as mulheres, podemos dizer que ele passa ainda mais dos limites, tendo várias vezes gritado e silenciado agentes na frente de todos” afirma o servidor que explica que o sistema de plantões garante um ganho financeiro aos agentes e que normalmente é feito um rodízio entre os profissionais para que todos possam receber a bonificação, mas que desde o início do ano existem servidores proibidos de participar dos plantões.

Em meio às graves denúncias de um ambiente tóxico e marcado pelo autoritarismo, os servidores afirmam que decidiram procurar amparo jurídico com o Sindserpum. O Blog do Barreto procurou a Diretoria do sindicato para confirmar as alegações feitas pelos profissionais. Por meio de sua assessoria, a entidade respondeu:

“Realmente recebemos dos agentes de trânsito graves denúncias de assédio moral e ambiente tóxico de trabalho. É preciso destacar que a Gerencia de Trânsito não é o único espaço onde tais denúncias vem surgindo. Nos últimos meses elas vem se multiplicando. O Sindiserpum e sua Assessoria Jurídica vem acompanhando de perto a situação, respeitando, obviamente o anonimato dos denunciantes e a gravidade das denúncias. A pauta do fim imediato dos assédios morais nos locais de trabalho já faz parte de nosso conjunto de reivindicações e já foi apresentada à Prefeitura em inúmeras audiências” respondeu a entidade confirmando as alegações dos Agentes.

Outra grave denúncia é de que os servidores que, de alguma forma, questionam o trabalho e as decisões do diretor acabam sofrendo retaliações em suas escalas de trabalho e funções.

“Certa vez tive minha escala de trabalho alterada à minha revelia, sem nenhuma conversa ou diálogo, e isso me prejudicou muito, pois tenho um problema de pele e preciso evitar contato com o sol extremo. Em meu antigo horário eu exercia minha função sem me expor ao sol, isso foi acordado anteriormente, e foi uma decisão que levou em consideração o bom senso de todos. Depois que reclamei da mudança sem o devido diálogo fui transferida de setor e hoje estou alocada em um serviço totalmente diferente daquele pelo qual prestei concurso público. Gosto de estar nas ruas e de realizar minha função e tenho certeza que a mudança repentina de função foi uma retaliação aos meus questionamentos” contou uma servidora

O comportamento narrado se assemelha muito ao que é característico nos casos de assédio moral no trabalho, quando os profissionais pouco a pouco vão sendo afastados de suas funções originárias e perdem contato com colegas e demais profissionais, perdendo assim também a capacidade de realizar um bom trabalho, interagir e crescer profissionalmente

De acordo com o Desembargador Brasilino Ramos, em entrevista ao Portal Jus Brasil “ o assédio moral é caracterizado quando há a repetição de atos que objetivem constranger a pessoa, como a perseguição contumaz no ambiente de trabalho, a exigência de carga horária ou volume de trabalho superior às forças do empregado, não dar nenhum trabalho a ele, ignorá-lo, tratá-lo grosseiramente de forma reiterada, tudo com intuito claro de prejudicar a pessoa no ambiente de trabalho. É uma prática odiosa, um verdadeiro terror psicológico contra o assediado”.

 “O Sub tem repúdio às mulheres. É misoginia mesmo”, afirmam agentes.

Se o clima de trabalho carregado de pressão e conflitos atinge a todos os servidores do trânsito de Mossoró, pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas que é para as mulheres o maior ônus da relação conflituosa e autoritária. É o que relatam as agentes de trânsito que conversaram com a nossa reportagem, em muitos episódios elas relatam as humilhações e silenciamentos vividos.

Uma das servidoras comenta que se tornou habitual que o diretor já citado só escute os agentes homens. Ela narra:

“Certa vez em uma ocorrência tivemos de ir à sala do diretor para relatar um problema sobre um acidente.  Quando entramos, eu, outra agente e um agente homem, comecei a explicar o que havia ocorrido e ele prontamente me mandou calar a boca, afirmando que eu estava muito estressada. Minha colega de farda também tentou falar e ele não permitiu, mandou ela calar a boca também. Apontado para o agente homem, ele disse que queria ouvir a versão dos fatos dele e somente dele”, narrou uma servidora.

Ela conta que em outra oportunidade foi a sala do superior acompanhada por um colega de farda para relatar outra situação.  O Diretor questionou se os dois tratariam do mesmo assunto e ao receber a resposta positiva teria afirmado: “Pode sair da sala, vou ouvir apenar ele” e dispensou a agente.

Em outra oportunidade o Diretor teria humilhado e ameaçado em público uma servidora que entrou em um supermercado para comprar uma caneta. A caneta seria usada para registrar uma ocorrência ao lado do supermercado. Fernandes teria aparecido de surpresa e abordado com truculência a servidora questionando o que ela fazia dentro do mercado e afirmando que ele estava ali para “flagrar servidores que tomavam café no horário de expediente”. Aos gritos, em meio à via pública, o diretor teria dito que iria a abrir um processo administrativo contra a agente.

“São muitos os episódios de gritos e humilhações aos servidores e principalmente às servidoras. O diretor em questão tem repúdio às mulheres. É misoginia mesmo. Machismo mesmo. O clima de trabalho está cada vez pior para todas as pessoas. Hoje parece que ele escolheu uma pessoa para oprimir com maior violência, amanhã pode ser qualquer outro”, afirmou uma das agentes.

Secretario de Trânsito teria sido informado do ambiente tóxico, mas se omitiu perante denúncias

De acordo com os servidores as informações sobre um ambiente tóxico vivido dentro da Secretaria Municipal de Segurança Pública, Defesa Civil, Mobilidade Urbana e Trânsito (Sesem) chegou até o responsável pela pasta Cledinilson Morais.

Os agentes afirmam que apesar de saber dos conflitos e situações vexatórias vividas pelos profissionais, o secretário Cledinilson optou por não manifestar, apurar os fatos ou punir seu assessor.

Durante todo o dia de ontem (28) Blog do Barreto contatou a assessoria de comunicação da Secretaria de Trânsito e também da Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) buscando maiores informações acerca das denúncias e sobre as providências que serão tomadas caso os episódios de assédio, perseguição e machismo sejam realmente confirmados.

Por meio de nota a PMM afirmou estar “apurando junto à Secretaria Municipal de Segurança Pública, Defesa Civil, Mobilidade Urbana e Trânsito (SESEM) a respeito de denúncia de suposta agressão envolvendo servidor da referida secretaria.” Nenhuma outra informação sobre as acusações foi repassada até o fechamento dessa reportagem

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto