Por Alexandre Versignassi*
Não existe força mais destrutiva que o radicalismo político. Graças a ele, tivemos o holocausto, os gulags de Stálin, o genocídio de Ruanda. Mesmo assim, o extremismo segue atraindo toneladas de adeptos, à esquerda e à direita. O motivo? Quem melhor explicou não foi um sociólogo, um filósofo, muito menos um político. Foi um humorista: John Cleese, do Monty Python:
“A gente tem ouvido muito sobre extremismo recentemente. O clima está duro, agressivo: muito desrespeito e pouca empatia”, ele diz, num esquete de humor dos anos 80. “O que nunca se ouve por aí é sobre as VANTAGENS de ser extremista”
“E a maior dessas vantagens” – continua Cleese – “é que o radicalismo faz você se sentir bem. Porque ele te proporciona inimigos. Com isso, você pode fingir que toda a maldade do mundo está nos seus inimigos, e que toda a bondade está, claro, em você.”
O britânico, então, apresenta a lista de inimigos dos extremistas. Duas listas, na verdade: “Se você se juntar à esquerda radical, os inimigos serão a polícia, os EUA, os juízes, as multinacionais, os moderados. Já se você preferir ser um extremista da direita, sem problema, também vai ter uma bela lista de inimigos: minorias, sindicatos, manifestantes, socialistas e, claro, os moderados.
Uma vez armado de umas dessas listas de inimigos, você pode fazer a perversidade que for, e ainda assim sentir que o seu comportamento é moralmente justificável”.
É isso. Quando você tem certeza de que o seu grupo carrega a chama da verdade absoluta, enquanto o resto do mundo é dividido entre obscurantistas (seus inimigos) e covardes (os “isentões”), você é um extremista. E se você é um extremista, está do lado errado – seja ele qual for.
*Texto extraído da Revista Superinteressante