Sempre existiu a figura sinistra das viúvas da ditadura militar, mas com a Internet ela ganhou voz e capacidade de se propagar utilizando-se de meios democráticos para impor ideias autoritárias.
A viúva da ditadura militar é uma figura cuja relação com os livros de história é de puro ódio. “São panfletos manipulados pela esquerda”.
As viúvas da ditadura militar costumam falar que na época dos fardados no poder não tinha corrupção. Tudo ia muito bem porque a moralidade era a marca do regime. “Se não roubavam já estava de bom tamanho”, costumam argumentar.
Mas não é bem assim: estávamos numa época de autoritarismo onde a imprensa estava amordaçada pela censura, a oposição consentida estava esmagada e a Polícia Federal e Ministério Público eram miragens do que temos hoje. Mesmo assim os escândalos da ponte Rio/Niterói e Transamazônica estão aí para quem gosta de ler alguma coisa.
Mas para as viúvas da ditadura militar isso não é levado em consideração. “É coisa de petista”.
A viúva da ditadura militar fala que o Brasil viveu uma era de desenvolvimento e de grandes obras. Mas não se toca que aquele foi um período em que o crescimento se deu pela repressão aos trabalhadores beneficiando grandes empresários. A promessa de crescer o bolo para depois distribuir não foi cumprida. Pelo contrário: a herança do regime foi a hiperinflação. Incrível como as viúvas da ditadura culpam o PT por todos os problemas do país e não conseguem fazer essa relação simplória de causa e consequência do que aconteceu há quatro décadas.
O argumento mais apaixonado e convincente (para quem não se informa além de postagens do Facebook) das viúvas dos fardados está em dizer que tinha menos violência. Mas os números torturam a viúva do regime. Até o início dos anos 1960 o número de homicídios na cidade de São Paulo era de 5 para cada 100 mil habitantes. Ao final do regime eram 39 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Apenas para citar a maior cidade do país como exemplo.
Mas as viúvas da ditadura dirão que isso é coisa de petista.
Outro argumento é o de que tudo que era feito no regime era por uma causa justa: o combate aos comunistas. Toda viúva da ditadura militar embarca na conversa fiada de que o golpe de 1964 evitou que o Brasil se tornasse um “república sindicalista”.
Até hoje me pergunto o que danado seria uma “república sindicalista”?
No entanto, a história vem de novo para torturar as viúvas saudosas de ouvir um coturno marchando pela sua porta: o deputado Rubens Paiva não era um guerrilheiro nem terrorista. Ele foi assassinado pelo regime. JK e Carlos Lacerda foram exilados mesmo sendo fiadores do golpe e os dois morreram em condições suspeitíssimas em pleno período da operação condor (Jango também faleceu na mesma época que seus outrora algozes). Crianças foram fichadas como elementos subversivos como Ernesto Carlos Dias do Nascimento. Ele tinha um ano e três meses de idade e foi preso junto com os irmãos de 4, 6 e 9 anos. Um tremendo pau de arara para saudosistas da ditadura que bancam caçadores de pedófilos na Internet.
Dezenas de deputados e senadores tiveram os mandatos cassados e ficaram sem direitos políticos por 10 anos. Eles não eram terroristas. Mas isso, as viúvas da ditadura não se importam.
As viúvas da ditadura chamam o golpe de 1964 de “revolução”. As mais comedidas chamam de “contragolpe” ou “golpe preventivo”. As mais cegas de paixão afirmam que foi tudo dentro da constituição porque João Goulart tinha fugido do Brasil. Pelo visto em 1964 o Rio Grande do Sul estava independente. Sempre argumentam que o STF não se opôs como se o Supremo daquela época tivesse o mesmo poder de hoje. Não sabem as viúvas da ditadura que ministros chegaram a ser ameaçados de perde de cargos logo após o golpe.
Mas as viúvas da ditadura vivem num mundo à parte. Agora ganharam a companhia das amantes da ditadura, os que se dizem “liberais” e defensores da democracia estão há vários dias justificando atrocidades do período como sendo algo que valeu apena por perseguir comunistas. Mais parecem “bolsominions” envergonhados.
É comum ver viúvas da ditadura usando termos como “ditabranda”, “mataram pouca gente”, “tinha eleição”, “pelo menos nos salvou do comunismo”, “no Chile foi muito pior”, “Fidel e Stálin mataram muito mais gente”, etc…
A viúva da ditadura convive muito bem com a amante como as mulheres reprimidas do passado que não tinham noção dos próprios direitos.
A história mostra que regimes autoritários também atingem seus entusiastas. Mas livro de história não é uma coisa interessante para uma viúva da ditadura. Nem para suas parceiras “liberais”.
A viúva da ditadura ficou muito chateada com a revelação dos documentos da CIA que mostram que o ditador Ernesto Geisel dava autorização para matar subversivos.
A viúva da ditadura (e as amantes) vão apelar com esse texto. Serei chamado de petista, vermelho, terrorista, etc…
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