Por Herculano Barreto Filho
UOL
As buscas por dois fugitivos do presídio de Mossoró (RN), a primeira da história das unidades prisionais federais, têm semelhanças com o caso Lázaro Barbosa. Ele foi capturado e morto em junho de 2021, após 20 dias de operação, suspeito de matar uma família no Distrito Federal e cometer outros crimes em Goiás.
O que aconteceu
Buscas em áreas rurais. O cenário das buscas são áreas rurais, que dificultam o trabalho das forças de segurança por causa do clima e do tamanho dos territórios.
Reféns. Rogério da Silva Mendonça, 35, e Deibson Cabral Nascimento, 33, os dois fugitivos de Mossoró, fizeram uma família refém em 16 de fevereiro, dois dias após a fuga. Comeram e levaram de lá dois celulares. Acusado de matar quatro pessoas da mesma família, Lázaro adotou a mesma tática durante a sua fuga, passando por chácaras e fazendo reféns.
Comparsas. A PF prendeu três suspeitos de ajudar os detentos do presídio de Mossoró na fuga. Assim como eles, Lázaro recebeu ajuda de um ex-patrão e de um funcionário dele, segundo as investigações da época das buscas.
Reforço nas forças de segurança. Nas buscas por Lázaro, os trabalhos foram coordenados pela SSP-GO (Secretaria de Estado da Segurança Pública). Foram mobilizados mais de 270 agentes. Entre eles, as Polícias Civil e Militar de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (DF) e Corpo de Bombeiros Militar. A força-tarefa empenhada em encontrar os fugitivos de Mossoró tem agentes estaduais e federais envolvidos.
Longo tempo de buscas. Lázaro foi encontrado pelas equipes de segurança após 20 dias de investigação. Ele foi morto aos 32 anos, com mais de dez tiros da cintura para cima, incluindo a cabeça. A advogada dos fugitivos de Mossoró teme pela vida deles. “Não há nada que comprove que eles saíram do presídio vivos”, disse ela ao pedir acesso às imagens do presídio.
Preocupação de familiares. Em junho de 2021, a família de Lázaro tinha esperanças de que ele se entregasse à polícia. A mãe do fugitivo disse que ele não tinha condições de contratar um advogado e relatou ter recebido ameaças. No caso dos fugitivos de Mossoró, as mães também fizeram apelos às autoridades. Nelita Nogueira da Silva, mãe de Rogério, pediu aos agentes que capturem os detentos, para que eles voltem à prisão e cumpram suas penas. Maria Auxiliadora Nascimento Vieira, mãe de Deibson, disse ao UOL temer que o filho seja morto.
Pegadas, uniforme e apreensões em Mossoró
Ao menos três pessoas foram presas em flagrante por suspeita de ajudar os fugitivos. Dessas, duas foram presas em flagrante e outra preventivamente. Na quarta-feira (22), a Polícia Federal cumpriu nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró, Quixeré (CE) e Aquiraz (CE) contra possíveis envolvidos no fornecimento de apoio aos foragidos.
Apreensão de drogas, armas e um carro. Segundo a PF, em uma das casas alvo das buscas, em Aquiraz, havia drogas — o que originou a prisão em flagrante. Foram apreendidos ainda telefones celulares e um carro que teria sido utilizado no apoio aos fugitivos para fornecer armas.
Forças policiais federais e estaduais fazem buscas num raio de 15 quilômetros de distância do presídio federal. O ministro da Justiça e Segurança, Ricardo Lewandowski, anunciou na segunda (19), o emprego de mais cem agentes da Força Nacional para atuar nas buscas.
Desde o dia da fuga, secretarias de Segurança Pública de três estados atuam juntas para fiscalizar divisas. Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará aumentaram o policiamento terrestre e aéreo da região.
Monitoramento aéreo e por estradas. O governo do Rio Grande do Norte informou que faz buscas aéreas, com o auxílio de aeronaves, e terrestres, nas divisas dos estados do Ceará e Paraíba. O Ministério da Justiça e Segurança Pública mobilizou ainda a Polícia Rodoviária Federal para a recaptura dos presos por rodovias federais.
Alerta à Interpol. A PF foi orientada a colocar os nomes dos fugitivos no Sistema de Difusão Laranja da Interpol e a incluí-los no Sistema de Proteção de Fronteiras.
Luminária, teto e tapume: como foi a fuga
Detentos abriram uma parede do presídio e fugiram pela luminária. Deibson e Rogério, que fazem parte do Comando Vermelho do Acre, fugiram pelo telhado do presídio de Mossoró na madrugada do dia 14.
As celas onde estavam os presos passam por perícia. Pertences dos detentos, como lençóis e objetos pessoais, também são examinados.
Roupas e pegadas foram encontradas por equipes da força-tarefa dois dias depois. Calçados e camisetas — que podem ser dos dois fugitivos — foram localizados em uma área rural de Mossoró e, por isso, as buscas se intensificaram na região próxima à penitenciária.
Camiseta de uniforme de presídio foi encontrada em região de mata. De acordo com o órgão, a roupa foi localizada na zona rural e pode ter sido usada por um dos detentos que fugiu do presídio. Contudo, os objetos encontrados ainda passarão por perícia.
Fugitivos tinham planos de chegar ao Rio de Janeiro. Secretários de segurança pública estão em contato após indícios de que os detentos poderiam chegar ao Rio de Janeiro, estado onde estão as principais lideranças do Comando Vermelho.
Quem são os fugitivos
Presos estiveram em rebelião em presídio, em 2023, e pertencem ao Comando Vermelho. Deibson e Rogério foram transferidos para a unidade federal após terem participado de uma rebelião no presídio Antônio Amaro Alves, no Acre, em julho do ano passado.
Fugitivos são “matadores do CV”. Fontes ouvidas pela reportagem indicam que os fugitivos não integram o alto escalão da facção e que são conhecidos por executarem pessoas condenadas no “tribunal do crime” do Comando Vermelho do Acre. O UOL não localizou os advogados deles.
Deibson cumpria pena de 33 anos por assalto a mão armada. Conhecido como Tatu, ele também responde a processos por tráfico de drogas.
Rogério tem suástica tatuada na mão e condenação de cinco anos por tráfico. Martelo também responde a processos por homicídio qualificado, roubo e violência doméstica.