Caravana de golpistas deixa o RN sem quitar aluguel de ônibus e é barrada pela PRF

Foto: Evaristo Sá/AFP

Mirella Lopes

Agência Saiba Mais

Um ônibus que saiu de Natal na última sexta-feira, anterior aos atos de terrorismo registrados em Brasília (DF) no domingo (8), foi interceptado pela Polícia Rodoviária Federal (PFF) em Planaltina, antes de chegar a seu destino final. A cidade fica a cerca de 57 quilômetros de Brasília, um trajeto que é percorrido em cerca de uma hora.

O veículo usado para a viagem foi alugado pelo valor de R$ 25 mil por um grupo de bolsonaristas de Natal. As informações foram confirmadas pelo proprietário do ônibus que conversou com a Agência Saiba Mais, por telefone, na manhã desta quinta (12). Por uma questão de segurança, ele pediu que seu nome e o da empresa não fossem divulgados, solicitação respeitada pela reportagem. De acordo com o proprietário do ônibus alugado, a PRF obrigou o motorista a retornar com o veículo e não permitiu a entrada em Brasília.

Apesar da viagem entre o Distrito Federal e Natal ser de cerca de 52 horas, a previsão é de que o ônibus chegue à capital potiguar apenas nesta quinta (12). O dono do veículo conta que não sabia o propósito da viagem e acredita que os passageiros não participaram dos atos de terrorismo porque chegaram tarde demais ao local. Ele, no entanto, não sabe dizer se algum dos passageiros desceu em Planaltina ou em algum outro ponto, detalhe que só será verificado com a chegada do ônibus em Natal.

“Acredito que o pessoal daqui não tenha participado daquilo que fizeram em Brasília porque eles só chegaram de madrugada, depois do acontecido. Sei disso porque o motorista me contou. Mas, de todo jeito, achei estranho que a PRF não tenha prendido ninguém, eles só pegaram a placa e tiraram foto do ônibus”, conta.

Num áudio que circula pela internet, uma mulher que diz se chamar “Tânia” afirma ter contratado o ônibus por R$ 35 mil. Ela ainda argumenta ter conseguido um desconto de R$ 10 mil, mas que 14 pessoas desistiram de viajar por questões pessoais, restando uma dívida de R$ 6.050. Ela, então, pede a colaboração financeira dos demais futuros passageiros para que a despesa não recaia apenas sobre as três pessoas que teriam alugado o ônibus: Clésio, Lucimar e Haroldo.

“Não sei quem é essa mulher que fala no áudio, mas essas três pessoas que ela cita, realmente, foram as que alugaram o ônibus. Tenho tudo documentado até porque, para viajar, é preciso nome completo e número da identidade”, revela o dono do ônibus.

Nesse mesmo áudio que circula pela internet, a mulher afirma ter conseguido o desconto de R$ 10 mil com o proprietário do veículo pelo fato dele também ser bolsonarista. Essa informação foi negada com veemência pelo homem.

“Eu aluguei ônibus para os Sem-terra em 2016 e 2017. Também aluguei dois ônibus para a posse de Lula. Se eu fosse isso que ela está dizendo, não teria alugado para a posse de Lula porque esse pessoal é doente, não aceitaria esse trabalho, mesmo que fosse pra ganhar dinheiro, eu ia ter alugado para os dois na mesma semana?”, questiona.

O dono do ônibus alugado, que prefere não ser chamado de empresário por se considerar apenas um trabalhador com um negócio de pequeno porte – ele diz possuir cinco ônibus para aluguel – conta que o grupo ainda não pagou os R$ 6 mil restantes da dívida e adianta que não fará mais viagens desse tipo para Brasília.

“Sou um pequeno que sobreviveu à pandemia. Muitas empresas do ramo fecharam. Comecei trabalhando como servente de pedreiro e entregador de jornal até conseguir juntar dinheiro e comprar meu primeiro ônibus. Não vou mais fazer esse tipo de viagem porque a gente acaba se envolvendo com problemas que não têm nada a ver com a gente, até porque, quando uma pessoa vem alugar um ônibus, a gente não fica perguntando pra que é, é uma invasão, um negócio incômodo”, explica.

O dono do veículo revela possuir a lista completa tanto de quem alugou o ônibus quanto dos passageiros. Porém, por se tratar de dados pessoais, ele explicou que só poderia entregar essas informações à Justiça, mas ainda não foi procurado.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto