Covid-19: RN está atravessando platô e precisa manter baixa transmissibilidade para reduzir pressão por leitos, segundo cientistas

Modelo Mosaic foi desenvolvido pelo professor do Departamento de Física da UFRN, José Dias do Nascimento, e é referente ao dia 18 de junho (Imagem: Reprodução)

O Rio Grande do Norte está atravessando o chamado ‘platô’ relacionado à pandemia do novo coronavírus e o cenário dos próximos dias vai depender do que será feito, segundo afirma o professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), José Dias do Nascimento.

De acordo com o professor, se houver um isolamento como está ocorrendo agora o Estado continua como está, se houver flexibilização haverá aumento do número de casos da doença.

“O platô é simplesmente uma forma de definir um pico. O pico é algo que tem um ponto específico. Platô tem vários dias do mesmo valor”, explica José Dias do Nascimento. Seria, em resumo, um pico prolongado com relação ao número de casos da doença.

“Nós estamos exatamente atravessando esse momento. Nós acabamos de deixar pra trás o pico”, afirma o professor, que é um dos pesquisadores cujo trabalho orienta um material divulgado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e enviado ao Comitê Científico da Secretaria da Saúde Pública do Estado (SESAP-RN) , alertando para a necessidade de manter baixos os índices de transmissibilidade da Covid-19, para diminuir a pressão por leitos para o tratamento de Covid-19 no Estado.

Segundo o texto, avaliar o momento de pandemia por meio da leitura de dados é um grande desafio. “Há um mês, estávamos numa exponencial crescente, onde a taxa de crescimento de casos e óbitos era proporcional à quantidade de indivíduos susceptíveis a se infectar com a COVID-19. Porém, nessa última semana, as curvas deram um sinal de atenuação, apesar da grande pressão na demanda por leitos de UTI. Uma questão relevante, agora, é saber quando estaremos passando pelo pico e quando este irá terminar”, afirma o texto.

De acordo com as informações, na ausência de uma testagem massiva da população, realidade da maioria das cidades do Brasil, com relação à contaminação por Covid-19, alguns modelos têm sido adotados para nortear a tomada de decisões. Um desses modelos é o Mosaic, desenvolvido pelo professor José Dias.

O modelo Mosaic presente no material, faz referência à situação do RN no dia 18 de junho e afirma que, com base nos dados revelados até a data mencionada, “já passamos pelo pico (platô) de expostos e estamos no pico crítico de hospitalizações. É importante agora manter um baixo índice de transmissibilidade R(t) menor que um por pelo menos dez dias”, diz o texto.

O professor José Dias comenta que é difícil ver o pico estando nele. “Na verdade, como aconteceu em outros estados e regiões o pico é um platô largo. O RN já passou do platô de expostos, porém ainda tem muitos suscetíveis que podem adoecer e colapsar o sistema. Precisamos agora manter o R(t) (transmissibilidade) menor que 1 por pelo menos dez dias”, diz trecho mencionado pelo professor José Dias do Nascimento

De acordo com o material, a situação visualizada no Estado reflete os contágios de 15 dias atrás.

“As projeções feitas hoje com o modelo MOSAIC e baseadas nos dados distribuídos publicamente pela SESAP-RN, mostram que passamos do pico de exposição dos suscetíveis e precisamos, agora, assegurar que o índice de transmissibilidade R(t) permaneça menor ou igual a 1. Se isto for mantido, poderemos  ter daqui pra frente, nas próximas semanas, uma redução efetiva da pressão por leitos de UTI”, afirma.

Mas o material alerta que atingir o máximo de casos não representa o fim da pandemia e, mesmo após atingir o platô as circunstâncias que se seguem podem ocasionar o caos novamente e levar a um novo fechamento. “É possível que no Rio Grande do Norte estejamos hoje no platô da curva de expostos. Temos que garantir um declínio nos casos antes que possamos ver uma luz no fim do túnel. Atingir o nível máximo de casos não significa o fim da epidemia”, alerta.

“Uma vez estabelecido o platô, ou os picos, pois podem ser vários, precisamos pensar sobre quais condições teremos para a transmissibilidade e somente depois que o R(t) se confirmar como sendo  menor que R(t) < 1, por duas semanas é que podemos abrir, segundo os protocolos estabelecidos. O que vemos por onde passou a COVID-19, é que uma vez atingido o platô, o que se segue após, pode trazer o caos novamente e levar a um novo fechamento. Mesmo após o pico, muitas pessoas continuam suscetíveis e, se muitos são expostos ao mesmo tempo, a mortalidade volta a crescer em surtos epidêmicos locais, que podem voltar e restabelecer um novo esgotamento de leitos UTI”, acrescenta o documento.

O texto explica que, assim como outros estados e regiões, no Rio Grande do Norte não é esperado um único dia de pico e que os números precisam diminuir por, pelo menos, mais uma semana para que seja possível discernir qualquer tendência real. “De forma mais segura, duas semanas seria o ideal para uma visão melhor de quão amplamente a doença ainda está se espalhando. Normalmente, para a COVID-19 as pessoas demoram entre quatro e seis dias para mostrar sinais de infecção, após serem expostas ao vírus. O ciclo total da doença entre contágio, agravamento, recuperação ou óbito, é de entre 12 e 15 dias”, diz o texto.

O material também chama a atenção para a possível diferença entre o momento de pico em estados e municípios. “Um fator importante a saber é que estados e municípios atingem picos em momentos diferentes, com base na rapidez com que instituem ou não, ordens de permanência em casa ou outras regras de distanciamento social”, menciona o texto.

E o isolamento social é a única forma de manter os índices de transmissibilidade baixos, como confirma o professor José Dias.

“As projeções e dados mostram uma atenuação nas últimas semanas com relação ao avanço da epidemia no RN, mas essa ladeira que começa a descer pode virar uma reta e uma subida se uma abertura abrupta acontecer.  A reabertura tem que ser   à “conta-gotas”.  Se a reabertura for feita de uma vez, abrupta sem um plano de retomada robusto seguindo conselho dos epidemiológicos da SESAP-RN, a epidemia volta e os hospitais saturam novamente”, finaliza o texto.

 

Postagem editada às 18h33 do dia 24 de junho para especificar que o material foi divulgado por pesquisadores da UFRN ao Comitê Científico da Sesap. 

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto