Crise do jornalismo no RN faz parte do contexto de tempos sombrios

Imagem gerada por inteligência artificial

Li um texto do Blog Papo Cultura assinado pelo jornalista Sérgio Vilar que analisa a audiência pública sobre a crise no jornalismo potiguar realizada na Assembleia Legislativa como um evento de bolha (leia AQUI).

Ele me equipara a uma versão de esquerda do colega Gustavo Negreiros, mas ainda assim considero a análise interessante e que vale a pena um contraponto democrático.

Sim, Sérgio tem razão quando afirma que num passado recente o jornalismo do Rio Grande do Norte era bem melhor do que o atual.

Não o conheço pessoalmente, mas pela foto acredito que sejamos da mesma geração de jornalistas surgidos nos anos 2000.

Mas diferente de Sérgio, não romantizo essa época e avalio que a análise dele carece de um contexto sobre os fatos do passado e do presente.

Nos anos 2000, o jornalismo era melhor e havia mais liberdade. No entanto, aquela liberdade era controlada pelo viés empresarial e político. Não existia a quantidade de veículos que temos hoje, mas por outro lado as redações eram mais robustas.

Os principais veículos de comunicação eram controlados pelos políticos das famílias tradicionais. Havia um pacto oligárquico na base do “não mexa comigo que eu não mexo com você”.

Era uma situação que lembrava uma guerra de trincheiras em que os soldados ficavam dias sem trocar um tiro, só vigiando o inimigo.

Tinha muita pauta declaratória em que versões sobre um mesmo fato se conflitavam nas capas dos jornais. Era bem mais civilizado do que hoje, claro.

Mas, repito, não posso romantizar aquela época. Havia um controle editorial bem conservador no sentido clássico do termo. Do ponto de vista ideológico, as oligarquias eram bem parecidas, daí a ausência da necessidade de se posicionar como direita ou esquerda.

Aí vieram as jornadas de junho de 2013, a Lava Jato e o bolsonarismo. As redes sociais se tornaram dominantes e a estrutura oligárquica do Rio Grande do Norte colapsou.

Surgiram diversos blogs, sites e os veículos tradicionais foram obrigados a enxugar as redações. Foi praticamente decretado o fim das estruturas que permitiam grandes reportagens.

Emergiram disso, as fake news, as notícias falsas propositalmente manipuladas por gente sem qualquer qualificação para o exercício do jornalismo.

A democracia brasileira passou a estar em risco com a ascensão do bolsonarismo, tivemos uma pandemia em que a vida foi colocada em segundo plano e seguimos com as nossas liberdades ameaçadas.

Além disso, há um crescimento da religião evangélica com uma pauta ultraconservadora que coloca em risco conquistas civilizatórias. Tudo isso em parceria com o bolsonarismo e o mercado financeiro. Sem contar o crime organizado e outros problemas.

Isso tudo impactou na mídia.

Tornou-se impossível não se posicionar. Quem lembra dos meus tempos de Observador Político, coluna no Jornal O Mossoroense e até mesmo na TCM/95 FM, vai lembrar que era bem mais “light” nos comentários porque não havia os riscos que estamos vivendo atualmente.

A outrora predominante mídia conservadora do Rio Grande do Norte abraçou sem qualquer constrangimento a extrema direita. Aí o que era conservadorismo virou reacionarismo.

Ver tudo isso e ficar posando de isento é ficar ao lado de quem está empurrando uma pauta atidemocrática.

Não há condições de falar em imparcialidade quando a democracia está em risco. Não há isenção entre o pescoço e a forca.

As marcas do 8 de janeiro estão aí e o golpe segue em curso. Se só a esquerda está resistindo, paciência.

Se os donos dos veículos não foram a audiência de terça-feira, não é problema de quem foi. Reduzir um debate desta importância a uma questão de “bolha” é subestimar tudo que está acontecendo na sociedade atual.

Prefiro ter lado e me posicionar do que brincar de “imparcial” com os riscos que estamos sofrendo.

Respeito a crítica do colega e a avalio como dentro do campo democrático. Mas peço licença para discordar.