Se rito das regras não escritas da democracia fosse respeitado a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) estaria vivendo dias de calmaria como na maioria das instituições de ensino superior.
Mas o então presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu em 2020 não respeitar a vontade da comunidade acadêmica ufersiana que elegeu Rodrigo Codes reitor.
Bolsonaro preferiu a terceira colocada Ludimilla Oliveira. “Terrivelmente evangélica” e com um vice bolsonarista, o professor Roberto Pordeus, ela preenchia os requisitos políticos do critério do então presidente e estava respaldada pela lei, que estabelece qualquer integrante da lista tríplice pode ser nomeado.
A chegada de Ludimilla foi tumultuada e no tumulto se manteve pelos três anos seguintes. Some-se a isso o perfil da reitora não contribuiu para apagar a fervura no caldeirão que se tornou a Ufersa. Ela preferiu dobrar a aposta e jogar álcool flambando a crise.
A denúncia de plágio na tese de doutorado andou e no início de junho se converteu em anulação do título de doutora. Sem a titulação, Ludimilla está inapta para o cargo e agora enfrenta um processo de destituição.
Se não tivesse assumido um cargo sem a legitimidade do voto, a reitora estaria hoje dando suas aulas e longe da execração pública. Exposta graças a tecnologia de 2022 que facilita a identificação de plágio, o que foi feito em 2010 foi descoberto.
O que aconteceu na Ufersa talvez seja um exemplo extremo do que houve em outras universidades onde o mais votado não foi nomeado, quebrando uma tradição na democracia brasileira.
O desprezo de Bolsonaro pelas universidades é a raiz da crise na Ufersa.