No depoimento ao Ministério Público no dia 16 de março de 2024, Francisco Erinaldo da Silva, o construtor que denunciou um esquema de fraudes em licitações e cobrança de propina (saiba mais AQUI) revelou que numa das conversas com o prefeito Allyson Bezerra (UB) no Palácio da Resistência recebeu a indicação para procurar uma pessoa identificada como “Celito”.
Era a época em que Erinaldo ainda estava fazendo a primeira obra, a pintura e manutenção do Museu Lauro da Escóssia. A licitação para esse serviço foi vencida pela FFJ, mas a construtora dele havia sido contratada para o serviço à margem da lei.
No depoimento ao Ministério Público, Erinaldo afirma que na conversa Allyson escreveu a indicação de “Celito” em um papel, mostrou a ele e rasgou em seguida. O prefeito falava baixo, com medo de ser gravado, segundo o relato de Erinaldo.
Quando o denunciante procurou “Celito” ele cobrou propinas de 30% e 10%. O depoimento não detalha os motivos para as diferenças dos percentuais, mas os sinais é de que com “Celito” o negócio não andou.
Diz o depoimento:
“Que ainda na execução da reforma do museu, recebeu uma ligação chamando o denunciante a comparecer ao gabinete do prefeito, que em conversa com o sr Allyson Bezerra, perguntou quem era Eudócio, e lhe foi respondido que era uma pessoa de extrema confiança, disse que era gente “nossa” dele no caso, que podia confiar, que não teria problemas com os pagamentos”, diz a transcrição do depoimento.
Indignado, Erinaldo desabafou com o pastor onde congrega com Allyson. Coincidência ou não, após a conversa com o líder religioso a situação do construtor piorou.
Voltamos ao depoimento:
“Que Allyson pegou um papel e escreveu que ele procurasse “Celito”, na mesma hora Allyson rasgou o papel, que Allyson falava cochichando, bem baixo, provavelmente com medo de estar sendo gravado, que o depoente disse que conhecia “Celito”, que o denunciante procurou “Celito”, e de imediato foi informado que com ele seria 30%, mais 10%, que o denunciante ficou constrangido com o fato, que os 30% e 10% porcento eram de propinas, que desabafou com o pastor da igreja sobre o ocorrido, que após o ocorrido tudo ficou mais difícil pra ele)”, afirma o documento.
Aquele desabafo custaria muito caro a Erinaldo. O depoimento que tivemos acesso não traz informações sobre o que aconteceu entre ele e “Celito”, mas a sequência do que ele diz ao advogado e no depoimento demonstra que ele seguiria tratando com Eudócio Mota, já citado na primeira reportagem.
Ele passaria a ser evitado por Allyson e as obras que ele tocou na gestão acumulariam um prejuízo de R$ 1,5 milhão.
Sem vencer uma única licitação, mas como subcontratado de quem vencia, o irmão de fé do prefeito acumulou além do serviço do Museu Lauro da Escóssia (citado na primeira reportagem) prejuízos em um total de 12 praças reformadas.

No depoimento Erinaldo conta que ficou no prejuízo no primeiro semestre de 2021. Não conseguiu ganhar nenhum centavo de lucro e que sem saber sobre o destino de R$ 481.002,94 das obras das praças do Mercado do Alto da Conceição, da Pirâmide no bairro Belo Horizonte, Praça do Portal do Saber no bairro Abolição I e do Liberdade I.
Ele recebeu R$ 879.000,00, valor que cobriu os custos dos serviços.
Nas contas de Erinaldo a obra das quatro primeiras praças foram orçadas em R$ 2.000.031,00 e o dinheiro ficou distribuído assim:
– R$ 1.480.022,94 para ele sendo R$ 879.000,00 dos gastos;
– R$ 879.000,00 do lucro que ele não recebeu;
– Já os 26% (R$ 520.008,06) restantes foram distribuídos em 17% para FFJ, 5% para Eudócio e 4% para Allyson.
Quem é “Celito”?
O “Celito” que teria sido indicado pelo prefeito conforme o depoimento na verdade se chama Célio Martins. Trata-se de uma liderança política de Apodi que foi secretário de obras na gestão do ex-prefeito José Pinheiro nos 2000. Ele chegou a gestão de Allyson por ser ligado ao ex-deputado estadual Kelps Lima, presidente estadual do Solidariedade, partido de Allyson no primeiro mandato.
Erinaldo relata visita de Allyson a obra e que achou bom prefeito fingir que não lhe conhecia
Em um dos áudios gravados na conversa com o advogado dele, o empresário Francisco Erinaldo da Silva conta que quando estava realizando a obra de pintura do Museu Lauro da Escóssia recebeu uma visita do prefeito Allyson Bezerra.
No relato ele conta que o prefeito fingiu que não o conhecia.
“Ele apertou a mão de todo mundo e apertou a minha. Só que fingiu que não me conhecia também, né? Não mostrou que conhecia, como eu também não queria eu também fiz questão”, disse.
Em seguida ele explica por que achou bom Allyson fingir que os dois não se conhecia e eram irmãos de fé da mesma igreja há 15 anos. “Eu não queria que esse pessoal lá de Natal soubesse que eu conhecia ele (sic). Porque na minha cabeça era uma arma que eu tinha. Se ele fosse me enganar, eu falava com Allyson. Entendeu? Allyson pegava eles, né? Eu tinha isso como um álibi”, avaliou.
Ele também admitiu que não tinha noção de que estava cometendo um crime. “Eu achava que era uma prática normal isso. De as pessoas pegavam e contratavam a pessoa para fazer, né? Como eu sou empeleitante…”
Confira o áudio:
