Espetáculo da manipulação é tradição em disputas políticas em Mossoró

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Faz dez anos que cubro eleições em Mossoró como jornalista político. Se incluirmos 2004 onde atuei jornalisticamente de forma indireta no pleito são 12 anos. Aprendi com o tempo que cada campanha tem sua vida própria. Daí a frase “essa eleição está muito diferente” que sempre ouvimos a cada dois anos.

Mas em Mossoró há uma tradição que sempre se repete: a da manipulação dos fatos em tempos eleitorais. Na sexta-feira caiu como uma bomba os áudios “vazados” da primeira-dama Amélia Ciarlini falando de um suposto pacto de não-agressão entre o prefeito Francisco José Junior (PSD) e o candidato Tião Couto (PSDB).

Não sou perito em edição, mas ao ouvir eu percebi que tinha algo errado no material. O áudio me pareceu editado. Após publicar o fato no Blog do Barreto alguns colegas que dominam a edição fizeram contato comigo para dizer que o áudio mais badalado da campanha estava claramente editado.

Não cabe a mim cravar se foi editado ou não. Será necessária uma análise pericial observar isso. Até lá os rosalbistas vão deitar e rolar dizendo que o acordão está no “outro lado”. Mas é justamente aí que quero chegar. Rosalba é “favoritaça” para vencer o pleito. Carismática e capaz de levar o eleitor mossoroense a uma memória seletiva em relação ao passado dela como gestora, ela enfrenta um neófito em eleições e um prefeito ultra desgastado. Portanto, politicamente não seria um absurdo que ambos se unissem numa estratégia para desconstruí-la. Seria natural e pertence a política esse tipo de estratégia. Nas eleições presidenciais de 2006 isso deu certo contra Lula e um improvável segundo turno aconteceu.

Se Rosalba liderava com folga era preciso uma ação dessas. Não vejo nada demais. A própria ex-governadora fez isso no passado. De fora do pleito suplementar, ela não apoiou Francisco José Junior explicitamente, mas colocou todo o staff dela no palanque silverista. Tanto que muitos rosalbistas permaneceram e permanecem dentro da gestão. Não me surpreende que esse material tenha sido vazado por um espião, por exemplo.

Ainda em 2014, dona de um profundo desgaste, o apoio explícito dela não interessava a Robinson Faria, mas lhe seria útil se fosse velado. Prova disso, é que a cunhada de Rosalba, Isaura Amélia, é a presidente da Fundação José Augusto e o rosalbismo chegou a indicar o comando da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania, Zaidem Heronildes.

No primeiro apoio velado havia o interesse de não deixar Larissa Rosado (PSB) ganhar a prefeitura. No segundo, o objetivo era se vingar de Henrique Alves (PMDB). Errado? Não. Isso é da política. Tanto que a própria Rosalba se juntou aos seus algozes de 2014 (Henrique Alves e Garibaldi Filho), a ex-governadora que lhe deixou a herança maldita (Wilma de Faria) e o grupo da ex-deputada federal Sandra Rosado (PSB). São contradições típicas do mundo político.

Voltando ao suposto acordão entre Tião e Francisco José, é preciso lembrar que se ele existiu não foi posto em prática. Os fatos mostram isso. Tião faz críticas sistemáticas à gestão do prefeito que por sua vez já entrou com três pedidos de direito de resposta. Não há pacto jurídico nem político. Detalhe: nas três ações o chefe do executivo municipal foi derrotado. Sem contar o fato que o prefeito tem dado demonstrações inequívocas que não vai desistir da disputa.

Os fatos mostram que a primeira-dama não está bem. Primeiro o choro, agora esse áudio e já pareceu uma ameaça de exoneração aos que estão vazando as informações confidenciais do silverismo. O fato do material estar aparentemente editado deixa dúvidas se ela estava falando de um acordo em um momento de arroubo ou estava fazendo uma conjectura.

Outra coisa que me chamou atenção é o fato do assunto ter começado a ser abordado por Natal. Está clara uma estratégia para não deixar rastros de quem repassou a informação ao Portal No Ar. Se o assunto ganha força num veículo de comunicação rosalbista, ficaria mais fácil identificar de onde partiu a informação, por exemplo. Vale a pena ver o vídeo acima em que a ex-governadora avisou na última segunda-feira, após uma sabatina promovida pelas universidades sediadas em Mossoró, que tinha muito mais coisas de Tião para mostrar. Será que esse áudio não era uma delas?

Também há um contexto em relação a isso. O áudio vazou um dia antes de Tião descer o Alto de São Manoel, momento de apoteose das disputas eleitorais na cidade. Também é uma ação em um momento em que todas as rodas de conversas sobre política atestam o crescimento do tucano. Expor um acordão é uma forma de minar esse crescimento visível a olho nu.

Mossoró é a terra das armações ardilosas em campanhas eleitorais. Aqui já teve o “Blog do Paulo Doido”, o caso “Capitão 40”, o “é de matar pra lá”… Portanto, leitor, muito cuidado antes de embarcar em fatos novos como esse.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto