Fátima influi na montagem de seu palanque e no da oposição

Força de Fátima está no interior (Foto: Raiane Miranda)

Por João Paulo Jales dos Santos*

Fátima Bezerra se precipitou ao escolher o pedetista Carlos Eduardo para a vaga senatorial? Enquanto a governadora entrega a Carlos um conjunto, de no mínimo 100 municípios, suficiente para sacramentar sua vitória, o ex-prefeito do Natal só facilita para a governadora em Natal. A jogada que a governadora fez, em janeiro, ao escolher Eduardo, como possível companheiro de chapa, se tornou um problema porque o chamamento a Carlos deu ao pedetista o que ele não tem para este 2022, um alto poderio político-eleitoral. Ao desejar ter o ex-prefeito do Natal como seu candidato a senador, Fátima criou um impasse em sua própria base, prestigiando um político que desde que foi derrotado pela petista há 4 anos, não conseguiu montar um partido com musculatura eleitoral. Qual o cargo mais importante que o PDT tem no estado? A vice-prefeitura do Natal? Para um político que ficou conhecido pela afirmação “vice é vice”, isso é pouco para Carlos Eduardo ter chegado com o passe valorizado no palanque governista.

O que Carlos traz consigo são os votos de Natal. Mas qual o poder de transferência que ele tem para ampliar a base eleitoral da governadora na capital? Uma transferência menor que 50% de seu capital eleitoral, não o faz ter tamanha importância para pleitear a vaga senatorial. No entanto, pode haver um facilitador para Eduardo, Fátima tem um eleitorado fiel em Natal que gira em torno de 40%, para alcançar o número mínimo que a governadora precisa ter na cidade, pouco mais que 50% dos votos válidos, Carlos precisaria trazer somente pouco mais de 10% para complementar na votação governamental. Só que fica a pergunta, o estafe de Fátima Bezerra testou o alcance de transferência eleitoral que Carlos Eduardo pode lhe dar?

Por mais que se questione a decisão precoce sobre a escolha do nome para compor seu palanque, a liderança de Fátima não pode ser questionada. A governadora elevou o PT a um patamar que o partido nunca experimentou no estado. Enquanto que no Piauí, Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bahia o petismo desde a primeira década dos anos 2000 ascendeu no panorama estadual, no Rio Grande do Norte a legenda possuía pouco prestígio político. Foi com Fátima em 2014, mesmo que encontrando campos de resistência dentro do próprio partido, que o PT começou a crescer politicamente no panorama potiguar. Iria Fátima trocar uma reeleição encaminhada à Câmara Federal por uma disputa arriscada ao senado? A própria deputada na época balançou, e o resultado nas urnas foi uma vitória de 11,61% sobre a ex-governadora Wilma de Faria (à época no PSB).

Tabela 1 – votação para o Senado Federal em 2014.
Fátima (PT) % Wilma de Faria (PSB) % Outros %
808.055 54,84 636.896 43,23 28.417 1,93
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do RN.

O imbróglio para a montagem do palanque governista se define a duas vagas, senado e vice-governador, é pouco espaço para muitos nomes. Neste 2022 só está em disputa uma vaga ao senado, o que afunila a contenda pelo cargo, e para a vice-governadoria, é difícil para uma governadora trocar um vice leal, Antenor Roberto (PCdoB), por um vice que em algum instante possa trabalhar para sabotar o próprio governo. O que fica notório, pelo intricado jogo de acomodação de alianças, é que a escolha para o senado tende a ficar num nome do centro à direita. Na equação de 2022, a chapa petista não pode ficar restrita como em 2018, onde até a entrada do PSB, que na época tinha a forte influência de Ricardo Motta, foi barrada na coligação que contou somente com PT, PCdoB e PHS.

Sob esse cenário, a disputa para o senado gira em torno de Carlos Eduardo ou dum nome indicado pela dobradinha PSDB-MDB. Dobradinha essa que vem sendo o último estresse no campo governista. Ezequiel Ferreira (PSDB) e Walter Alves (MDB) cobram caro para ficarem ao lado do petismo, mas suas condições valem a pena?  A força político-eleitoral dos partidos advém de sobremodo do interior, a arena onde Fátima não tem preocupação. O olhar da governadora está voltado para Natal, onde há tempos enfrenta resistência eleitoral, complicada pela ‘direitização’ que a cidade passou desde 2015, quando o raivoso populismo de direita tomou as ruas das regiões metropolitanas.

Fátima passou pelo processo de desgaste comum a políticos que sucessivamente se lançam candidatos a majoritária. Por quatro vezes seguidas, 1996, 2000, 2004 e 2008, a petista foi candidata à prefeitura do Natal. Seu melhor desempenhou foi no já longínquo 1996, e o pior, em 2004.

Tabela 2 – votação de Fátima Bezerra à prefeitura do Natal.
Ano Votos % Colocação
1996 127.531 48,32 2o
2000 90.630 29,38 2o
2004 27.331 7,41 4o
  2008 139.946 36,82 2o  
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do RN.

Em 1996, a disputa Fátima vs. Wilma de Faria, foi levada ao 2o turno. Em 2000, Wilma liquidou a reeleição em 1º turno. Em 2004, o renhido 2º turno foi o confronto entre Carlos Eduardo (que estava no PSB) e Luiz Almir (que estava filiado ao PSDB). Em 2008, Micarla de Sousa (que estava no PV) ganhou em 1º turno. A governadora padece de um problema eleitoral em sua base de origem política, não consegue ultrapassar a barreira de rejeição que acumulou ao longo dos anos. Vendo Carlos Eduardo como o mais competitivo entre seus possíveis adversários, tendo Natal como dor de cabeça, optou por chamar o pedetista para perto de si. Mesmo na única disputa majoritária que terminou vencendo na capital, a senatorial de 2014, os números pró-Fátima se deram por pequena margem.

Tabela 3 – votação de 2014 para o Senado Federal em Natal.
Fátima Bezerra % Wilma de Faria % Outros %
155.127 49,2 145.880 46,27 14.262 4,53
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do RN.

O desenlace na indicação ao senado e vice-governador, deve ocorrer de dois a três meses das convenções partidárias. Até lá, até mesmo uma chapa ‘tida como certa’ pode vir a ser desmontada. Pelo campo da centro-direita, PSDB-MDB levam a crer que querem, respectivamente, a indicação ao senado e a vice, por isso a barganha junto ao Palácio de Lagoa Nova é pesada. O interesse do MDB é a vice-governadoria nas mãos de Walter Alves, mas Ezequiel Ferreira não faz uma campanha para pleitear o senado, seu movimento, inclusive, se dá no jogo de cena de ser o garantidor de palanque para Rogério Marinho (PL), numa jogada que possa causar susto no governismo, visando ampliar seu espaço de interesses, mesma manobra adotada pelo MDB dos Alves. Da parte da governadora sua estratégia de acomodar diferentes matizes políticos a sustentar sua reeleição encontra entraves na dificuldade de assegurar e acomodar diversos interesses.

Terá Fátima habilidade para até 5 de agosto, data limite das convenções partidárias, desfazer o que vem conseguindo até aqui, o palanque bolsonarista? Tal feito fará com que sua postulação possa ganhar já em 1º turno. Não encontrando um disposto a se lançar ao governo, não será de se estranhar que o bolsonarismo aceite o senador Styvenson Valentim (PODE) como fiador do que falta a Rogério Marinho, um governador para chamar de seu. Tal composição se mostra aceitável em um cenário que Valentim seja candidato, tendo o bolsonarismo uma candidatura própria. Duas chapas oposicionistas dividiram o voto antipetista, facilitando ainda mais a reeleição de Fátima, num cenário assim, melhor formar um só palanque para enfrentar a governadora.

O governo de Fátima, ao garantir moderação institucional e êxito nas contas públicas, um grande contraste com os caóticos governos de Rosalba Ciarlini (à época no Dem) e Robinson Faria (à época no PSD), parece ter gerado anemia política na disposição oposicionista. A governadora vem tendo o poder de escolher quem prefere ter como aliado, além de modelar a chapa oposicionista.

O esforço que Rogério fez para se credenciar como o senador do presidente Bolsonaro (PL), pode resultar num fiasco eleitoral. O ministro do Desenvolvimento Regional é por si só um fardo eleitoral, o destaque que seu nome vem ganhando na imprensa não condiz com sua impopularidade e com os fracassos que acumulou nos últimos anos. Nem mesmo um racha na base petista pode desaguar em sua vitória. Em 2006, na apertada corrida ao senado entre Fernando Bezerra (filiado à época no PTB) e Rosalba Ciarilini (no outrora PFL), o racha no PT no amparo a candidatura à reeleição de Bezerra foi um dos fatores que alijou, o na época líder do presidente Lula (PT) no Senado Federal, a conseguir levar aquela disputa. Hoje, mesmo que a base petista rache no apoio à candidatura ao senado, Fátima tem requisito para compor a militância sob sua batuta. Sua liderança é o que faz o PT no RN ser referência nacional.

*É graduado no curso de Ciências Sociais pela UERN.

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