Flor que rompe o asfalto

Mariele foi assassinada há dois anos (Foto: divulgação)

Por Sandro Pimentel*

Toda vez que chegamos ao dia 14 de março perdemos um pouco o fôlego, ficamos um pedaço mais tristes. Um luto que atormenta, pois já fazem dois anos desse crime brutal, e a justiça parece longe de ser feita. A dúvida martela e segue fundamental para o futuro do nosso estado democrático de direito: quem mandou matar Marielle? Certamente, o covarde jamais imaginou o símbolo que criaria, o poder do exemplo que uma mulher negra da favela moveu pelo mundo.

Apesar das lindas homenagens que seu nome cativa, todos trocaríamos as placas de rua, os girassóis e os atos em sua defesa por mais tempo com Marielle. Ela viva, pulsante, arrastando as pessoas pela potência de sua prática política. Mas o tempo não é correto, não aceita a volta, nem a troca. Como queria ter visto a Marielle ter terminado seu primeiro mandato. Sem dúvidas que estaria na linha de frente do combate ao fascismo de Bolsonaro, denunciando, com face destemida, a truculência e os abusos destes governos que tentam extrair capital político do sofrimento do povo pobre e trabalhador.

O legado de Marielle é inquestionável, virou símbolo no Brasil e no mundo porque carregava em si as marcas do nosso povo. Mulher negra, LGBT, nascida na Favela da Maré, estudou em cursinho popular, se formou e conseguiu ocupar uma vaga na Câmara Municipal do Rio. Um lugar majoritariamente destinado aos filhos do poder e aos apadrinhados de poderosos. Defendeu a população contra os abusos da polícia, mas também deu apoio a família de policiais mortos em operações. Tinha em sua militância o real sentido da defesa dos direitos humanos. Esse termo que anda sendo tão distorcido, mas que nada mais é do que a defesa dos nossos direitos essenciais, contra a truculência do estado e do poder econômico.

Reservo ainda um tempo para pensar sobre eles, as pessoas que reagem com virulência a nossa defesa por elucidação para as mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes. Estes que divulgam mentiras, que atacam sua memória. Estes que a matam pela segunda vez. Fazem isso porque não toleram a imagem que Marielle representa, do acesso das mulheres como ela aos espaço de voz e de poder. Rangerão os dentes, pois novas Marielles todos os dias estão rompendo o asfalto, como flores que não pedem licença. Uma multidão de mulheres que não aceitam o retrocesso, nem o reacionário. Todas elas levantam a voz para nunca mais serem interrompidas por ninguém.

Marielle é gigante, cabe muito bem em todos que lutam em defesa dos direitos humanos, que acreditam em justiça social e denunciam a truculência do Estado. Segue presente, pois as suas lutas não cessam enquanto estivermos nas ruas defendendo sua memória. Viva a Marielle Franco.

*É deputado estadual pelo PSOL.

Texto extraído da Agência Saiba Mais.

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