
Os senadores Garibaldi Alves Filho (MDB) e José Agripino Maia (DEM) quebram a cabeça para serem eleitos juntos como em 2010. Pode sair uma estratégia complexa como a mistura de água e óleo que juntou dois lados de uma mesma moeda política na década passada.
Para entender isso basta ler duas notícias verdadeiras, que se completam, mas tratadas em Natal, graças a limitação do jornalismo declaratório que não explica aos leitores o contexto da informação.
No Blog do BG foi informado que Garibaldi não vai reeditar a dobradinha com José Agripino em 2018. Veja um trecho da matéria: “O que teria levado a posição do senador do MDB são as reuniões com lideranças políticas e com parlamentares que tem mostrado que uma dobradinha dos dois senadores com vários mandatos coloca à reeleição de ambos em risco além de deixar o palanque vulnerável devido às investigações, e o tempo que ambos estão na política causando um desgaste natural”.
Logo em seguida o jornalista Heitor Gregório, da Tribuna do Norte, trouxe declarações de Garibaldi negando rompimento. Abre aspas para o senador do MDB: “Nós já temos uma aliança com o DEM e a tendência é continuar”.
As duas notícias estão corretas e não se desmentem. Pelo contrário, se complementam. Repare que em nenhum momento Garibaldi desmente o Blog do BG nem garante dividir o mesmo palanque com Agripino. Na lógica do senador não é preciso estar formalmente na mesma coligação para ser aliado. Ficar em palanques diferentes pode ser uma boa jogada para suavizar as candidaturas oligárquicas.
Para compreender o caso é preciso visitar a história recente da política potiguar para entender que na aliança entre Garibaldi e Agripino tudo pode acontecer, inclusive eles já fizeram dobradinha em coligações diferentes, mas ocupando o mesmo palanque. Em 2018, pode acontece exatamente outro paradoxo: serem aliados em palanques adversários. Tudo dependerá da ocasião.
Isso mesmo!
Em 2010, a coligação do DEM com PMN tinha Rosalba Ciarlini candidata ao Governo, Robinson Faria de vice e Agripino ao Senado. A segunda vaga à Alta Câmara não foi preenchida. Eram tempos de PMDB de Henrique Alves (que estava no palanque de Wilma de Faria e Iberê Ferreira de Souza) e PMDB de Garibaldi (que estava com Rosalba).
O PMDB formou uma coligação com PR e PV nas disputas proporcionais, preenchendo apenas uma vaga para o Senado com Garibaldi e sem candidato ao Governo. Dentro desse trio partidário, cada um foi para o palanque mais conveniente e no final todo mundo se juntou após Rosalba tomar posse como governadora.
Garibaldi nunca rompeu com Henrique e isso era bem claro na campanha. Estavam formalmente juntos mesmo em palanques diferentes. Por que não pode acontecer com agora entre Garibaldi e Agripino?
Vale lembrar que na relação entre Garibaldi e Agripino embora estável politicamente nem sempre os juntou no mesmo palanque.
Mais uma vez volto à história para explicar. Após mais de 20 anos em lados diferentes da mesma moeda da nossa política oligárquica, Garibaldi e Agripino dividiram o mesmo palanque no segundo turno das eleições de 2004 em Natal. Luiz Almir acabou derrotado por Carlos Eduardo Alves que apesar do sobrenome estava afastado politicamente da família e alinhado com a então governadora Wilma de Faria.
A vitória de Carlos Eduardo foi um recado para os velhos caciques. Estava rompido o status quo da política potiguar que antagonizou Alves e Maia e reproduzia essas disputas em praticamente todos os municípios do Estado desde a ditadura militar. Para sobreviver politicamente era preciso um cruzamento entre bicudos e bacuraus, assim eles se uniram em 2006. O resultado levou Rosalba Ciarlini ao Senado e a projetou para ser governadora quatro anos depois. Mas Garibaldi conheceu a primeira derrota eleitoral da carreira na famosa “surra de saia” para Wilma de Faria.
Em 2008, mesmo aliados, Agripino e Garibaldi ficaram em palanques diferentes. O primeiro apoiou Micarla de Sousa e o segundo, à contragosto, esteve alinhado com Fátima Bezerra. Em 2012, Garibaldi apoiou Hermano Morais e Agripino Rogério Marinho.
De 2006 para cá, os velhos caciques só estiveram formalmente na mesma coligação em 2006 e 2016. Está claro que os dois podem muito bem ficarem em palanques diferentes sem necessariamente agirem como adversários.
Na política tudo é possível.