Há 87 anos, Santos Dumont tirava sua própria vida em hotel no Guarujá

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André Nogueira

Aventuras na História

Santos Dumont sempre foi considerado uma pessoa singular. Desde jovem, demonstrava hábitos estranhos à realidade da Belle Époque em que cresceu. Ele sempre se posicionou contra o patenteamento de suas invenções, o que ia à contramão da sociedade tradicionalista em consolidação na sua época.

Mesmo diante de diversas polêmicas sobre pioneirismo e patenteamento, é inegável que Alberto Santos Dumont foi um dos principais nomes do nascimento da aviação. Boa parte do boom na fabricação dessa máquina durante o século 20 se deu pela abertura do brasileiro, que não desejava os créditos pela ideia. E, no final, essa foi a sua sina.

A invenção de Alberto revolucionou a ideia de transporte e a própria noção dos limites do ser humano. No entanto, quando tais limites são ultrapassados, demora pouco tempo para que os militares se interessem pela novidade. E esse foi o caso final para o pacífico Santos Dumont.

Santos Dumont antes da decolagem de um de seus balões / Crédito: Reprodução

Em 23 de Julho de 1932, ele, que foi um dos maiores cientistas do século 20, cometeu suicídio no Grande Hotel de La Plage, no Guarujá. Aos 59 anos, enforcou-se, usando sua própria gravata, num ato de desespero. Não deixou nenhum bilhete ou carta de despedida, mas muitos de seus conhecidos e estudiosos de sua vida têm uma teoria bastante contundente: Santos Dumont se viu desiludido e responsável pelas atrocidades feitas com a sua principal ideia.

Isso porque o Brasil pouco demorou em usar o avião na repressão de seu próprio povo. A primeira vez em que isso ocorreu foi durante a Guerra no Contestado, Sul do país, onde um bando de camponeses cansados e em situação miserável, devido às políticas fundiárias da República, foram brutalmente bombardeados pela nova frota de aviões nunca antes usada. O mesmo ocorreu com a cidade de São Paulo, durante a Revolta de 1932. O fato afetou bastante o aeronauta.

Bombardeio em SP, 1932 / Crédito: Reprodução

Testemunhas afirmam que o inventor teria presenciado um bombardeio ocorrendo da Ilha da Moela, em frente ao seu hotel no Guarujá, pouco antes de conceber o ato. Existem teorias menos creditadas afirmando que ele tirou a própria vida por desilusão amorosa ou abandono por parte de amigos.

A verdade é que não sabemos em que nível cada um desses fatores motivou o ato, apenas conhecemos o fato de que, naquele dia 23, Alberto não desceu para almoçar no Hotel, como habitualmente fazia. Os funcionários do local, então, arrombaram a porta de seu quarto (152) e se depararam com um dos maiores gênios da engenharia brasileira sem vida e injustiçado pela realidade.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto