Jaime Calado vai querer ou vai ceder em SGA?

Jaime lidera com folga em São Gonçalo (Foto: autoria não identificada)

Por João Paulo Jales dos Santos*

O rompimento com vice-prefeito não é novidade no sistema Maia-Calado. Zé Targino (então no PHS) foi eleito vice de Jaime Calado (então no PR, hoje no PSD) na municipal de 2008, veio a romper e se lançou à prefeitura na eleição de 2012. Poti Neto (a época no PMDB) foi eleito com Jaime em 2012, rompeu e se lançou a prefeito em 2016, sendo a principal força de oposição naquele pleito.

Eraldo Paiva (PT) se manteve aliado nas disputas de 2016 e 2020, quando disputou como vice de Paulo Emídio (PR, depois PROS), vindo a consagrar a ruptura com o sistema após a morte de Paulinho, como era conhecido Emídio.

O modo como se deu o afastamento de Paiva dos Calado é o cerne para se entender a problemática do elevado grau de rejeição que o prefeito desfruta em São Gonçalo do Amarante (SGA).

Ao assumir a Prefeitura num momento de desconsolação popular, advindo da morte de Paulinho, um prefeito bem avaliado, que vinha numa batalha contra o câncer, Paiva errou ao se afastar abruptamente do grupo que além de Paulinho, tem Jaime em alta benquerença popular.

Faltou maturidade política a Eraldo. O melhor para o prefeito era ter procurado coabitação com o grupo Calado, tirando proveito politicamente, visando chegar bem no pleito de 2024. Tanto Jaime, em 2012, quanto Paulinho, em 2020, foram reeleitos com votações recordes na cidade, demonstrando a força que o agrupamento tem em SGA. Um poder eleitoral desse não pode ser desprezado.

Ao agir na cólera contra o que via como ingerência administrativa do estafe Maia-Calado, Eraldo optou por enxotar o grupo, angariando profunda antipatia popular.

Ao melhor estilo PT radical das décadas de 80 e 90, o alcaide afastou com as vísceras o pessoal ligado a Jaime e Paulinho, ganhando a alcunha de ingrato pelas vias do município. E as massas veem ingratidão como a pior coisa do mundo. Um vice tendo assumido porque o titular morreu lutando contra um linfoma, fisicamente debilitado nos últimos meses de vida como estava Paulinho, dilacerando o administrativo deste titular, foi essa a imagem que Paiva passou para o povo.

Nas ruas da urbe, os gonçalenses dizem que votaram em Paulinho, não em Eraldo, avaliando que o outrora vice assumiu uma cadeira de prefeito que não lhe é legítima. A problemática da rejeição de Paiva é que ela tem fundamento emocional. Administrar uma rejeição dessa magnitude é difícil, porque sai de cena uma rejeição administrativa, que pode ser contornada, e entra uma ojeriza, que ataca os sentimentos, caracterizando-se numa alta tensão política, complicada de ser superada.

Eraldo enfrenta descontentamentos dentro do próprio PT, setores que reivindicam uma mudança na sua postura, prevendo uma reeleição com sérios desarranjos políticos, foram afastados pelo alcaide, sobrando somente aqueles que falam o que o petista quer ouvir. Lutando contra as pesquisas que mostram uma reeleição improvável, Eraldo por si mesmo joga mais areia numa cova que já está funda.

Recai sobre Jaime Calado o traçado da municipal que se avizinha. O secretário de Desenvolvimento Econômico já afirmou que o PSD terá candidato em 2024. Entretanto, ainda existe uma sanha dando conta dum possível acordo entre Calado e Eraldo, que passaria pela costuma da governadora Fátima Bezerra (PT).

Mas estaria Jaime disposto a ceder o poder em sua fortaleza política, numa arrumação visando 2026, já tendo experimentado a penhora do PT em 2022, quando foi lhe prometido uma eleição para deputado federal, com um desenlace amargo para seu grupo político?

O ex-prefeito não precisa montar uma megaestrutura para encarar o petismo, encargo que pertence ao governismo. Basta Jaime ter o apetite, e querer voltar ao Executivo. O ganho em São Gonçalo não é imprescindível para a reeleição de Zenaide Maia (PSD), mas é de suma importância para o amparo ao projeto senatorial de 2026.

Com São Gonçalo em mãos, os Maia-Calado pavimentam a organização do PSD na grande Natal, além de ampliar com mais eficiência a infraestrutura partidária no interior, onde a presença de Zenaide tem se tornado mais constante.

Uma aliança entre o petismo e os Calado tende a ser encarada como um acordão. E acordões geralmente não costumam angariar simpatia popular. O eleitorado veria como puro interesse um pacto de dois flancos vistos como inconjugáveis. E mesmo um WO para salvar o mandato de Eraldo, poderia atrair a atenção dos eleitores para uma postulação encarada pelas elites locais como despretensiosa. Não é incomum acordões estado afora levarem a vitórias que na largada eleitoral são dadas como improváveis.

Se o fechamento das urnas em 2022 foi o ponto de inflexão na estratégia do casal Calado, topar uma convenção pública com Paiva seria um erro de cálculo que pode lhes trazer rebaixamento político na estadual de 2026.

Num embate entre Jaime e Eraldo, estaria ao alcance do burgomestre a diminuição percentil contra o ex-prefeito. Nas esquinas e calçadas de SGA dá para compreender o porquê de a reeleição ser empreitada hercúlea para o petista. A ânsia política do gonçalense é ter Jaime de novo como prefeito. Na boca do povo o que corre é que o pessedista só não leva 2024 se não quiser.

*É cientista social e graduando em História pela UERN.

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