Por Thiago Medeiros*
O Rio Grande do Norte é, claramente, o estado campeão na publicação de pesquisas para o próximo pleito. Essas pesquisas estão buscando criar cenários e influenciar a opinião pública conforme os desejos dos contratantes. Os dois campos, direita e esquerda, buscam jogar suas fichas e apostam em seus cavalos para ganhar as eleições em 2022. Um ator de centro-direita que acaba servindo aos interesses – ao menos no momento atua – dos diversos grupos políticos é Carlos Eduardo (PDT).
Ex-prefeito de Natal, aliou-se ao bolsonarismo em 2018 no segundo turno para tentar vencer Fátima Bezerra (PT), mas foi em vão, apenas aumentou sua rejeição. Agora ele goza de bons números de intenção de votos tanto para Governo como para Senado. Ele sabe a importância de levar esse jogo, precisa disso para negociar. Carlos sabe que sozinho não avançará em nenhuma candidatura e verá seu trunfo ser jogado fora. Ou seja, ele precisa aparecer. Suas entrevistas ainda provocam sono na população, mas por algum motivo ele continua forte nos números.
O bloco da direita, dividido em dois grupos (Fábio e Rogério) disputa a atenção de Carlos Eduardo. Eles sonham ainda com uma chapa com o ex-prefeito para o governo e um deles para o Senado. Seria talvez a única forma de tentar enfrentar Fátima e tirar um forte ator do jogo do Senado Federal. Porém isso não está fácil de acontecer. Carlos Eduardo já sentou com Fábio e não avançou muito, e recentemente tem flertado com Rogério Marinho. Nesse final de semana, inclusive, esteve em agendas com fortes aliados de Marinho, o deputado estadual Nélter Queiroz e o federal Benes Leocádio. Nesse jogo ainda vale tentar destruir a candidatura de Jean, o atual Senador. A direita tem pesquisas que indicam que se Jean, que tem forte ligação com o PT e Lula, for o candidato dificilmente será derrotado. Resumindo a estratégia da direita: tirar Carlos Eduardo do jogo, e ao mesmo tempo causar intrigas do lado da esquerda e tentar minar a candidatura de Jean Paul.
Já no bloco da esquerda, o jogo também é intenso. Existe o grupo que deseja negociar a cadeira do senado para tentar “garantir” a reeleição de Fátima, mas aí moram alguns problemas. Primeiro, pesquisas internas têm mostrado que Fátima nesse caso ajuda mais Carlos Eduardo, do que o inverso. Carlos é inteligente e mascara muito bem isso. O ex-prefeito tenta criar uma falsa ilusão nos bastidores de que consegue transferir votos em Natal para a Governadora. O fato é que isso não ocorre, porém Fátima seria a solução para Carlos no interior. O eleitorado em Natal é tradicionalmente mais conservador e tem resistências ao PT, e Carlos não consegue mudar isso. Logo a tese de que Fátima precisa de Carlos é falsa, mas alguns ainda insistem nessa tese. Carlos Eduardo não é do campo da esquerda, então também uma aliança com ele faria o PT e a esquerda perderem uma cadeira no senado. O Alves com todo seu passado à prova não iria servir às pautas progressistas, ou seja, a esquerda no RN perderia um representante forte dos seus interesses. Mas Carlos precisa ser movimentado, primeiro porque é um adversário para a Governadora e segundo porque esse jogo mantém o prefeito de Natal, Álvaro Dias, quieto no seu lugar. Isso porque para ser candidato ao governo, o prefeito precisa deixar o cargo antes de Fátima anunciar sua chapa. Caso venha a sair candidato e Fátima escolhe Carlos Eduardo para compor? Como fica? Com uma parente de Carlos sendo a atual vice-prefeita da capital e assumindo a cadeira, a chapa teria um verdadeiro canhão nas mãos.
É aí que surge um outro grupo. O grupo que apoia a reeleição de Jean à cadeira do Senado. Jean tem mostrado um mantado atuante e com resultados para o estado e para a governadora. É um dos principais atores do desenvolvimento do RN e consegue dialogar com diversos setores. Jean já tem a simpatia do partido e de vários atores políticos, resta agora fortalecer seu nome e brigar pela vaga. O grupo que apoia Jean, sabe o peso de ter alguém que vista a camisa na cadeira, e que também tenha uma boa relação com Lula. Seria a chapa dos sonhos.
Antes que critiquem, Rafael Motta (PSB) não foi colocado nas análises por ser mais uma vontade de algumas pessoas do que do próprio político que busca intensamente fortalecer sua nominata a deputado federal. Basta olhar suas redes sociais. E o ex-governador Garibaldi Alves (MDB) já deixou claro que seu projeto é garantir lugar para seu filho Walter Alves (MDB).
Carlos Eduardo sabe que precisa antecipar decisões, o ex-prefeito joga na tentativa de provocar reações não racionais. Fátima precisa adiar ao máximo suas palavras e aí esse tempo não interessa a Carlos que pode perder o bonde e se ver numa situação de desespero, e aceitar qualquer coisa. O grupo da direita o corteja e “promete” grandes coisas, já o da esquerda não o quer, mas poderia ser útil dependendo do cenário do próximo ano. Com uma eleição estadual nacionalizada, Jean ganha força para a disputa de sua reeleição.
*É sociólogo.