Mossoró, a melhor cidade para se viver no RN

Paris

Por Mário Gerson

É a mais nova pesquisa da Revista Exame quem diz isso. Há algum tempo, essa mesma revista disse algo do tipo: Mossoró está entre as 50 melhores cidades para se viver no País. Imagine o resto?

Melhor do que dados de computador, nada, às vezes, confiáveis, é a experiência empírica, pragmática, de viver na pele a coisa. Traduzindo para o nosso cotidiano: significa, em outras palavras, passar pelo aperreio de perto, vivenciar a barra pesada da vida, sofrer na própria pele, comer o pão que o diabo amassou! Ufa! Pois é, olhando as coisas pelo lado de quem vive os dramas da cidade – as ruas esburacadas, a saúde em pedaços, o sistema de ensino municipal enfrentando quase uma nova greve de professores, a violência desenfreada sendo notícia nacional com chacina no último final de semana (cinco pessoas foram mortas durante uma festa intitulada Baile de Favela, onde foram utilizados, para a execução, além de pistolas, armas de grosso calibre, como escopetas, por exemplo, segundo narraram as crônicas policiais), olhando as coisas por esse ângulo, eis que me pergunto, sempre que me chegam essas pesquisas de laboratório: que Dubai é essa? Que megalomania é essa nossa de achar Mossoró, com todas as suas boas coisas, ainda poucas, mas existentes, e não pretendo nomeá-las, a melhor cidade para se viver no RN? De onde esse povo tira esses dados?

No ranking nacional, segundo o site da Revista Exame, Mossoró (Moscou, para os mais afoitos) é a 65 na posição das 100 melhores cidades deste florão da América. O ranking leva em consideração alguns fatores onde Mossoró, certamente, é campeã do mundo, afinal, nossa megalomania não pode deixar de enumerar esses quesitos: excelente educação, uma saúde espetacular, não falta médico, nem medicação, nem nada, absolutamente nada. Nossa infraestrutura é invejável. Quem pode dizer o contrário? Sustentabilidade? Ora, pois, é a palavra do momento. Pode ir a qualquer pedaço da cidade, que você vê isso estampado em nossas políticas públicas sobre a relação dos munícipes com a cidade e o meio ambiente. Ah, chegou o último ponto da pesquisa. Esse ponto ninguém vai discordar mesmo: a segurança pública!

É a melhor, e nesse sentido ninguém pode discordar, a melhor segurança pública do mundo! Nossa Guarda Municipal é extremamente valorizada. Nunca teve isso de salário atrasado coisa nenhuma e as diárias são pagas impreterivelmente em dia. Ah, e as BICs (Base Integrada Cidadã) estão ótimas. Nossa polícia também é valorizada. Todo ano sai uma promoção. O pessoal, quando prende um meliante, recebe logo uma condecoração. Ora se não é!

Vocês não imaginam como nossa cidade é segura! Qualquer pessoa pode caminhar tranquilamente pela Avenida Rio Branco, com o celular de última geração e não será assaltada. Pode estacionar o carro e deixar a porta aberta. Pode sair do banco sem preocupação alguma. Fechar a porta da casa? Não! Que história! Ninguém mexe em nada. Você sai de casa e nem necessita rezar para voltar. Você volta, mas, às vezes, pode ser em um caixão…

Nem precisa dizer que eu estava ironizando. Estamos vivendo um verdadeiro caos instituído há muito tempo, agravado, mais agora, com a escalada, muito forte e presente, em todos os sentidos, da violência, com a falta de valorização de nossas polícias – honrosos homens que dão suas vidas a pessoas que, muitas das vezes, os criticam por nada –, homens que se empenham por uma segurança melhor, sem que sejam valorizados como deveriam…

Eu morava em Dubai na última pesquisa da Exame. Agora eu moro em Londres. Espero, ano que vem, a pesquisa que transformará Mossoró em Paris. Afinal, uma das mentes dos Rosado, o velho Vingt-un, sentenciou uma vez que aqui era um país e quem sou eu pra discordar!

Au revoir, messieurs, au revoir!

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Canal Bruno Barreto