Mossoró é a cidade brasileira que mais elegeu prefeitas nos últimos 20 anos

Eleições não representaram melhoria na vida das mulheres (Foto: internet)

O Jornal Folha de São Paulo realizou levantamento para avaliar a participação das mulheres na política brasileira nas últimas duas décadas. Segundo os dados, Mossoró é a cidade que mais elegeu mulheres prefeitas em todo o país.

Mossoró teve prefeitas por cinco vezes desde 2000, a maior marca brasileira entre cidades com população acima de 100 mil. Foram eleitas: Rosalba Ciarlini por quatro vezes ( em 1988, 1996, 2000 e 2016, Fafá Rosado (2004 e 2008), Cláudia Regina (2012).

Depois de Mossoró, a capital de Roraima, Boa Vista, e o município de Lauro de Freitas, na Bahia, se destacam com quatro mandatos de prefeitas exercidos por uma única mulher: respectivamente, Teresa Surita (MDB) e Moema Gramacho (PT), atualmente deputada federal.

O Rio Grande do Norte, ao lado de Roraima, foi o estado com maior proporção de municípios que já elegeram chefes de Executivo mulheres, ambos com 60% de cidades com prefeitas. Na sequência aparece Alagoas, com 54%.

Entre as capitais, Fortaleza (CE), Palmas (TO) e Natal (RN) – que elegeu Wilma Farias em 1988– escolheram prefeitas por duas vezes no período.

Eleição de prefeitas em Mossoró não representou ganhos reais para mulheres

Apesar dos números vanguardistas de Mossoró, no que se refere à eleição de mulheres, professoras e especialistas em gênero discordam da tese de que a cidade tenha avançado em políticas públicas feministas.

Para Rivânia Moura, que é professora no Departamento de Serviço Social da UERN, as prefeitas eleitas em Mossoró nas últimas duas décadas não dialogaram com a pauta feminista, ocasionando na falta de políticas concretas que beneficiariam diretamente a vida das mulheres.

“A representatividade está para além do gênero, ela se materializa na concretização de ações que tenham impacto positivo na vida das mulheres. É importante pensar em políticas de equiparação salarial, de maiores oportunidades para as mulheres; pensar políticas de saúde da mulher, em especial no que diz respeito a saúde reprodutiva. É fundamental fortalecer os movimentos locais de mulheres dialogando com suas pautas e necessidades. Vejo que a Mossoró gerida por mulheres esteve bem distante de um mandado para mulheres. Não basta ser mulher. É preciso ser feminista ou pelo menos dialogar com a pauta feminista”, analisou Rivânia.

A professora e ex-vereadora Telma Gurgel, que foi uma das fundadoras do Centro Feminista 8 de Março e do Coletivo Motim Feminista,  destaca que as mulheres eleitas em Mossoró não só não dialogaram com pautas históricas feministas, como também não tiveram compromisso com outras demandas de segmentos historicamente marginalizados na sociedade.

“É preciso ter a consciência de que não basta ser mulher para defender os interesses das mulheres. Primeiro porque é necessária uma perspectiva de classe, para entender que os interesses das mulheres se relacionam com o fato de que elas são trabalhadoras. Também é preciso lembrar-se da importância das lutas antirracista, antietarista e antilgbtfóbica. Nenhuma dessas pautas foi tocada por nenhum desses mandatos. Tivemos aqui em Mossoró mulheres que representavam o projeto dominante, das oligarquias e de suas alianças”, destaca Telma.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto