Na primeira semana da CPI, Kelps descumpre promessa de que não haveria “lacração”

Kelps que prometeu não teria “lacração” na CPI foi o primeiro a quebrar a regra (Foto: João Gilberto/ALRN)

O presidente da CPI da covid-19 na Assembleia Legislativa Kelps Lima (SD) deu uma declaração emblemática antes do início dos trabalhos: “não haverá espaço para ‘lacração’” dando a entender que seria priorizado o trabalho técnico e sem viés político.

O segundo ponto da promessa por si só já foi a “lacração” dentro da promessa de não “lacrar”. A Assembleia Legislativa é uma casa política e, com o perdão pela repetição de palavras, a CPI é um instrumento político das minorias.

Afinal de contas só o interesse político move uma CPI para frente ou para trás e isso está bem claro no cenário político potiguar.

Mas diferente dos demais membros da CPI, Kelps não fez outra coisa que não fosse “lacrar”. Advogado, ele sabe que um governador não pode ser chamado para depor em uma CPI, mas na base do se “colar, colou” ele tenta convocar o da Bahia, Rui Costa, ex-presidente do Consórcio Nordeste que assinou o contrato de compra de respiradores que terminou em calote. Ganhou manchetes acríticas, apareceu e sabe que o baiano precisará judicializar o caso para resguardar o direito de não comparecer na CPI. Candidato a deputado federal no próximo ano, Kelps já tem discurso garantido independente do resultado.

Depois veio o caso das transmissões da CPI. O Regimento Interno da Assembleia Legislativa proíbe transmissões das CPIs com a alegação de que isso evita que as comissões sejam instrumentalizadas como palanque eleitoral.

Kelps tentou culpar a governadora Fátima Bezerra (PT) por essa regra, mas no final do ano passado o regimento foi reformado e ele mesmo votou favorável sem questionar esse problema. Na época a CPI da Arena das Dunas estava suspensa.

Mais uma vez, numa cartada midiática, ele entrou na Justiça para obrigar que as transmissões sejam feitas. Como de praxe a decisão foi declinante porque é um assunto para ser resolvido na Assembleia Legislativa.

Repito: Kelps é advogado e sabe que a decisão seria essa.

No fim as transmissões foram liberadas graças a aprovação de um requerimento e acordo de bancadas que Kelps classificou nas redes sociais como resultado da pressão exercida por ele.

Por fim a “lacrada” que virou mico. O deputado anunciou em tom punitivista que s sigilos da Secretaria Estadual de Saúde Pública seriam quebrados com a aquiescência dos membros da CPI. O problema é que o sigilo não existia e o próprio deputado tinha acesso as contas. A história terminou em bate-boca público com o secretário de planejamento Aldemir Freire que mostrou que o parlamentar tinha acesso ao sistema com as contas há 420 dias. Kelps disse que não iria responder, mas depois reagiu no dia seguinte com uma história de que existem suspeitas de contas fantasmas e dizendo para o secretário cuidar de pagar os salários atrasados dos servidores e que da CPI ele cuidava.

A postura do presidente da CPI compromete a credibilidade das investigações e os próprios colegas de oposição já perceberam isso adotando uma postura mais discreta em relação ao assunto.

Kelps não gosta de críticas e geralmente tenta desqualificar quem lhe questiona. Certamente ele não fará autocrítica que cobra dos adversários.

O negócio mesmo é “lacrar” para agradar o antipetismo potiguar de olho nas eleições de 2022 em que ele terá o duríssimo desafio de tentar se eleger deputado federal após fracassar nas urnas ao tentar se eleger prefeito de Natal em 2020 com votação abaixo das expectativas.

 

 

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto