Neutralidade maléfica

“Não sou de esquerda nem de direita. Sou neutro. Por sinal odeio política. Dá até nojo de falar nesse assunto”. Triste, mas é graças a esse pensamento que o PMDB é desde a redemocratização o partido mais poderoso do país.

Pois bem. É um poder fragmentado, incapaz de formatar uma candidatura a presidente da República ou ter uma liderança forte no maior colégio eleitoral do país, São Paulo. Mas é justamente isso que faz do partido o dono, de fato, do tabuleiro político nacional.
Dos anos 1980 para cá o PMDB só disputou duas eleições presidenciais: 1989 com Ulisses Guimarães e 1994 com Orestes Quércia. Os dois já falecidos possuem biografias opostas. O primeiro é lembrado como um grande líder democrático e conciliador. O segundo. Bem o segundo não deixou saudades. Em comum os dois foram abandonados pelo partido na corrida presidencial.
São 20 anos sem entrar na corrida ao Palácio do Planalto. Não precisa gastar energia. Seja quem chegar ao poder, o PMDB estará ao seu lado cobrando uma fatura de cargos e ministérios. É quem de fato dá as cartas. Mas, por que isso acontece?
Simples. Porque a maioria dos brasileiros acha que o bonito é não ter posição política. E nisso o PMDB é PhD. É centrista na pior concepção do termo.
A despolitização coletiva faz com que o centrismo predomine na política. Nas democracias pluripartidárias e mais evoluídas que a nossa o centro tem peso importante, mas funciona muito mais como fiel da balança. Nunca como a detentora da maior força política de uma nação.
Na política há dois partidos em estado permanente de embates pelo poder: PT e PSDB. Esqueça o significado das siglas. Vamos aos fatos: o primeiro porta-se de centro-esquerda. O segundo de centro-direita. Ambos forjam nomes capazes de chegar à Presidência, mas elegem bancadas incapazes de se imporem no Congresso Nacional. Sempre surge uma terceira via com um posicionamento mais à esquerda. O PMDB, que geralmente tem o maior número de governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores, nunca consegue ter um candidato a presidente.
O partido manda no país pela via indireta. Seja quem estiver no poder vai precisar do PMDB para governar. Foi assim com Collor que subestimou a força da agremiação e caiu. Itamar não só se entendeu com eles como foi para lá e terminou bem a gestão. FHC se acertou com o PMDB. Lula idem. Dilma para sobreviver cede aos caprichos peemedebistas.
Fácil criticar os conchavos políticos. Difícil entender como a política funciona e o que é preciso fazer para conseguir governar com alguma razoabilidade nesse país.
O PMDB dá as cartas por meio da pressão política. Assim a legenda fomenta sua força como se fosse um polvo com uma cabeça frágil e tentáculos fortes que não só lhe protegem como garantem a própria mobilidade.
É complexo compreender a relação entre o desinteresse pela política e a força do PMDB. Se o eleitor brasileiro fosse mais consciente e exigisse posições mais claras de seus representantes, o peemedebismo funcionaria no máximo como fiel da balança nunca como o dono da balança.
No dia que o eleitor brasileiro compreender que o seu desinteresse pela política é o que fortalece o PMDB, muita coisa vai mudar.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto