Um novo Decreto do Governo do Rio Grande do Norte deve ser publicado na tarde desta terça-feira, 23, à tarde, em edição extraordinária do Diário Oficial do Estado. O documento prorroga as medidas de isolamento previstas no Decreto Nº 29.742, de 4 de junho de 2020, por mais sete dias. O anúncio foi feito pelo secretário de Tributação do RN, Carlos Eduardo Xavier, durante coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira, 23, em Natal.
A decisão, segundo ele, foi tomada com base em uma recomendação do Comitê Científico que atua junto à Secretaria da Saúde Pública do Estado (SESAP-RN).
De acordo com o integrante do Comitê Científico do Estado e coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS-UFRN), professor e pesquisador, Ricardo Valentim, o parecer de recomendações foi finalizado hoje e recomenda a prorrogação das medidas da forma prevista no decreto em vigor até o dia 1º de julho.
Segundo ele, a análise de dados se baseia, principalmente, em dois parâmetros, a taxa de transmissibilidade e índice de ocupação de leitos de UTI.
“Primeiro a taxa de transmissibilidade. Essa taxa de transmissibilidade é o quanto uma pessoa consegue contaminar outra pessoa ou uma quantidade de outras pessoas. É um parâmetro importante, mas que não pode ser olhado isoladamente. É preciso observar as questões loco-regionais, a dinâmica social de cada município”, afirmou o pesquisador.
“A taxa de transmissibilidade a gente tem percebido que ao longo do tempo ela vem reduzindo”, acrescentou.
“Quando eu falo de redução na velocidade de transmissão a gente tem que ter muito cuidado com isso, porque essa velocidade de transmissão ela ainda não reflete, por exemplo, a taxa ocupação de leitos de UTI. É preciso olhar essas duas variáveis. Se essa taxa de transmissibilidade, que hoje está em torno de 1, um pouco mais que 1 e ela muda diariamente para a gente estar sempre olhando, calibrando”, afirmou Ricardo Valentim, acrescentando que existem vários trabalhos nessa área dentro do Comitê Científico, mas o principal nessa área é do professor José Dias.
Ricardo Valentim falou também do outro parâmetro em que se baseia a recomendação do Comitê Científico. “Existe uma pressão muito grande de leitos de UTI, ou seja, uma demanda muito grande. A taxa de ocupação, como foi falado agora pela representante do Complexo de Regulação está, em média, acima de 85%, ou seja, é um dado ainda que não é aceitável”, disse.
“E a pergunta é se está reduzindo a taxa de transmissibilidade, por que é que os leitos de UTI ainda estão lotados?”, questionou o pesquisador, respondendo que, à medida que essa taxa de transmissibilidade ela vai reduzindo, com o tempo, haverá desocupação dos leitos de enfermaria Covid-19, seguido dos leitos críticos de Semi-Intensivo e UTI. “Então, é um efeito que nós chamamos de efeito dominó”, mencionou.
“O número de óbitos nesse período, mesmo com a taxa de transmissibilidade, ele deve ainda seguir aumentando. Isso é um efeito do que a gente está vendo hoje nos leitos de UTI. Se eu tenho uma pressão muito grande por demandas de UTI significa que esse número de óbitos, existe uma quantidade de pessoas muito adoecidas hoje”, afirmou o pesquisador.
“Então, hoje, pelo dado que tem, não é possível fazer uma retomada para as atividades que estavam sendo esperadas pelo setor produtivo. É preciso ter prudência, segurança e olhar para esses dados que estão postos hoje. Não existe oferta de leitos para todo mundo e a gente precisa garantir que essa é uma das medidas sanitárias que garantem dignidade, assistência aos serviços de saúde”, concluiu.
Ocupação hospitalar por região
De acordo com dados do RegulaRN, observados às 13h56 desta terça-feira, a taxa de ocupação dos leitos críticos do SUS destinados ao tratamento de pacientes com sintomas de Covid-19 no Oeste (incluindo Mossoró e Pau dos Ferros), era de 96,1%; na Região Metropolitana 95,7% dos leitos estavam ocupados.
No Seridó 81,5% dos leitos estavam ocupados; por um tempo essa região conseguiu manter uma taxa de ocupação menor, mas que nos últimos dias, mesmo com abertura de leitos o índice de ocupação tem aumentado.
Na região do Mato Grande, os quatro leitos de UTI do Hospital Manoel Lucas de Miranda, localizado em Guamaré, estavam ocupados.
85 pacientes aguardavam para serem transferidos.