Por Mário Gerson
Mais um escândalo coloca o Brasil numa posição nada confortável. Desta vez, a Polícia Federal deu uma batida na casa dos grandes frigoríficos. “A Operação Carne Fraca, realizada nesta sexta-feira (17), revelou que empresas adulteravam a carne no mercado interno”.
30 empresas estão no bolinho da carne podre, que tinha na receita papelão na linguiça, ácido ascórbico na carne, para maquiar a aparência do produto, já vencido, e tantas outras artimanhas feitas sob a complacência de funcionários públicos, responsáveis por fiscalizar os picaretas do açougue grande.
Quando meu avô, José Faustino, negociava carnes no Santo Antônio, periferia da cidade, pelos idos dos anos 90, um fiscal da Prefeitura apareceu por lá, empolado numa camisa escura, uma prancheta na mão… Chegou, saudou meu avô e um senhor que estava sentado perto, e foi logo tascando: “O senhor tem nota dessas carnes? Dessa geladeira?” Meu avô, bastante conhecido por seu temperamento além da conta, calou-se e respirou profundo – eu estava a um canto, perto da banquinha onde colocávamos as verduras para vender – e fiquei esperando a resposta… O velho olhou o fiscal, pigarreou e disse: “Tenho!”
Mostrou uns papéis da balança. Ele mandava regular sempre. Mostrou outras coisas. Complementou apresentando os papéis de luz e o fiscal impaciente. Numa determinada hora, o fiscal perguntou pelo documento do carneiro.
Meu avô olhou-o sereno e, brincalhão, mandou vir, lá de dentro do comércio, um pá de culhões grandes, retirados, naquela manhã, do animal: “Estão aqui!” Sorrimos. O fiscal sorriu. Quem, naquela época, tinha lá droga de documento de carne de criação?! O homem foi embora. Meu avô resistiu até a morte com seu negócio de carnes, hoje mantido por um tio meu. Mas quase sempre, aqui e ali, tinha uma chateação, uma visita de um fiscal de tributos, esse povo que existe “derna” da época de Jesus Cristo (Zaquel foi o primeiro que se tem notícia no Novo Testamento, depois se regenerou, dizem). E, enquanto as visitas e aporrinhações apareciam, as grandes marcas de carnes faziam das suas… como agora ficou provado!
Atribuíram ao general Charles de Gaulle, ex-presidente da França, a frase: O Brasil não é um país sério. Depois disseram que fora um embaixador brasileiro, o Carlos Alves de Souza Filho, quem a pronunciara. Bom, se ambos a disseram seria ainda melhor, porque duas bocas falaram, ao mesmo momento, uma verdade incontestável… Há tempos é assim! Desde a época em que “descobriram” essas terras, tudo tem um jeitinho, uma forma de fazer à revelia da lei, uma camaradagem, um arrumado. Leiam a Carta de Pero Vaz de Caminha. Há um trecho, cheio de fru-fru, em que ele pede um favor ao Rey: mandar vir o genro, Jorge de Osório. Segundo relatos, esse elemento havia roubado uma igreja e ferido um padre. Começamos errado!
Se Charles de Gaulle estava certo? Certíssimo! De sério esse país não tem mais quase nada. E, se sobrou, essa seriedade ainda resiste nas pessoas simples e honestas desta nação, a qual está sendo destruída, desde muito tempo, pelos sucessivos governos corruptos, de esquerda e de direita, que tem dominado o Brasil e o transformado, através de seus conluios com grandes empresas – descobriu-se, até, nessa Operação Carne Fraca, que o Ministro da Justiça está no meio da coisa – em um verdadeiro mar de lama, uma pocilga para seus banhos infames com dinheiro público e a boa-fé dos nossos compatriotas.