O mito da neutralidade política no esporte

Hitler é o exemplo clássico do uso político do esporte (Foto: reprodução)

Por Tales Augusto*

“NIKE, NIKE NIKE…”

A frase acima não se relaciona ao caso Neymar e a empresa de artigos esportivos Nike, mas o grito da população insatisfeita com o Imperador Justiniano no Império Romano do Oriente quando no Hipódromo se revoltou. E é interessante que não eram os Vermelhos contra os Verde-amarelos, porém dos Azuis com os Verdes, inclusive os cocheiros e as equipes usavam tais cores. A época, Justiniano governava o império e queria retomar territórios que eram do Império Romano do Ocidente, conquistar mais terras, e era necessário fontes, daí novos impostos, um dos motivos da Revolta de Nika (Nika ou Nike = que significa Vitória), isto aconteceu tem mais praticamente 15 séculos.

É estranho muitos recentemente terem de forma efusiva bradado que futebol está separado da política, deve ser por desconhecimento ou ainda achar que política é algo que se relaciona apenas com política partidária, esquecendo que o mundo é político. Até o silêncio dos esportistas, independente se for numa edição das Olimpíadas ou ainda numa Copa América em plena pandemia, seria então uma Copa Pandémica ou Copa Covidão caso aconteça?

Não duvido que alguém que esteja lendo fale “esse professor comunista vem com essas estórias” não, sou professor de História, com H maiúsculo mesmo. Pois bem, vamos recordar o quanto o esporte vai além do que acham ser apenas um jogo, uma competição em busca de vencer ou o tal do “o importante é competir”. Será mesmo que na História isto é verdade? Como um canal por TV por assinatura em relação ao futebol no Brasil, “não é só futebol, nunca foi” e não é mesmo!

Sobre ideologias, quase meio século se passou, o medo das bombas nucleares, o temor de uma hecatombe atômica tomava de conta do mundo. Os Estados Unidos e a União Soviética entram em choque, contudo, não com armas, mas com armação, marcação e cestas. Os Estados Unidos nunca tinham perdido uma final Olímpica, perdera exatamente para seu maior rival político, econômico e militar. Consta que os atletas estadunidenses nunca aceitaram a derrota, as medalhas de prata estão até hoje numa caixa forte na Suíça. E tal rivalidade não ficava restrita aos dois países, dividia boa parte do mundo, boicotes ocorreram em 1980 nas Olimpíadas de Moscou e em Los Angeles, englobando não só as nações de domínio da Guerra Fria, mas também aliados.

Não subestime o poder dos esportes, como eles podem inclusive ser manipulados como propaganda de um regime político. E genocidas gostam de espetáculos, o Pão e Circo romano, as vezes pode ser usado no futebol ou em uma Olimpíada, assim foi em 1936 com Hitler em Berlim. O totalitarismo de direita usou o maior evento esportivo do planeta para provar que a raça ariana era superior, porém não deu certo, negros estadunidenses quebraram a cara do genocida.

Se formos para o futebol não faltam exemplos relacionadas a propaganda a favor do governo, a Copa de 1978 na Argentina patrocinada pela Ditadura, no Brasil anos antes a demissão de João Saldanha da Seleção Brasileira em 1970 e para não fazer feio, ou apenas falar em ações negativas, temos que pensam o futebol e como ele pode e deve ser palco do que há além das quatro linhas ou ainda, dentro delas.

A Democracia Corinthiana que apoiou o fim da Ditadura no Brasil e o Doutor Sócrates, que não só participara dessa, mas na Copa de 1986 entrava com faixa na cabeça com frases de protesto sobre temas variados. Recentemente um jogador usou uma faixa com o “100% Jesus” e em seguida o mesmo jogador xingou um torcedor na Olimpíada no Brasil, ah, com a faixa na cabeça, Jesus viu, rs…

Tivemos também verdadeiros socos contra uma Guerra, Muhammad Ali Cassius Clay se negara a ir a Guerra do Vietnã e ainda falara, “Por que eles deveriam me pedir para colocar um uniforme, ir a dez mil milhas de casa e atirar bombas e balas nas pessoas marrons no Vietnã enquanto as pessoas chamadas de ‘nigger’ em Louisville são tratadas como cachorros e negadas de direitos humanos básicos”. Ele defendera assim os negros, pobres e muçulmanos. Atitudes do tipo nos Estados Unidos não são incomuns, ano passado em plena Pandemia da Covid-19, os jogadores da NBA foram contra a morte do George Floyd no Vidas Negras Importam (Black Lives Matter). Noutras modalidades esportivas mundo a fora também tomaram partido os atletas, dentre eles o único negro num dos esportes mais elitistas do mundo, na Fórmula 1 o Lewis Hamilton atuara fortemente.

O mesmo Tite que hoje é chamado por muitos de comunista, antes de se unir a CBF e assumir o cargo de treinador. Assinara o manifesto #OcupaCBF junto aos atletas e outras personalidades, inclusive treinadores. A ONG Bom Senso FC. queria a renúncia do presidente da CBF, o Marco Polo Del Nero, além de eleições na CBF e melhorias para jogadores no geral.

Para sermos justos, acham mesmo que a Copa do Mundo e as Olimpíadas recentes no Brasil foram só eventos desportivos? Se pensar assim, não seja ingênuo, é fundamental entender tudo que está por trás dessas escolhas e consequências. Políticas, sociais e econômicas. Atualmente as Olimpíadas no Japão e a Copa América no Brasil entram no cerne das discussões. Por lá no Oriente, a maior parte da população é contra, aqui também, só que aqui, temos um presidente que não está nem aí para com a população e sua opinião, acha que a Copa América trará saldos, podendo quem sabe servir de propaganda e ainda levantar a Taça ao término, não duvido que até o fim do evento ultrapassemos a triste marca dos 500.000 mortos em decorrência da Covid-19.

Este é um pequeno texto, para que possamos entender que JAMAIS SERÁ APENAS UM ESPORTE, UMA PARTIDA OU O QUE ESTÁ DENTRE DAS QUATRO LINHAS, TATAME OU QUALQUER ESPAÇO DESPORTIVO, É MAIS QUE UM ESPORTE! Namastê!

*É Professor/Historiador e Mestrando na UERN em Ciências Sociais e Humanas.

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