Por Jean Paul Prates*
Com a economia paralisada, a inflação em dois dígitos e o desemprego açoitando mais de 14 milhões de brasileiros e suas famílias, o ministro Paulo Guedes — maestro dessa catástrofe — encontrou, finalmente, um galardão para colocar em sua estante: o “convite” ao Brasil para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE.
A OCDE, que Chicago boys gostam de chamar de “o clube dos ricos”, é uma espécie de grêmio seleto que celebra e defende com unhas e dentes as virtudes da “economia de mercado” e impõe a seus sócios regras draconianas de comportamento econômico.
A parte “elegante” das imposições da OCDE a seus sócios trata de meio ambiente, direitos humanos, combate à corrupção e educação, por exemplo. Mas essa é a parte dos aperitivos e canapés.
A pièce de résistance no menu da OCDE é mesmo a subordinação às escrituras do neoliberalismo — o acanhamento do Estado diante dos interesses do capital financeiro. Um black tie de manequim pouco generoso para as formas e necessidades de um país como o Brasil, que já provou que pode ser soberano e muito bem sucedido numa política econômica voltada para seu povo e para o crescimento com inclusão social.
A rejeição à ortodoxia neoliberal e a recusa em abrir mão de sua soberania econômica — do direito de traçar as políticas reclamadas pelas demandas e necessidades da população —foram fundamentos da decisão do Brasil, durante o governo Lula, de declinar gentilmente das sondagens para se juntar a esse alinhado convescote.
Alegam os defensores do ingresso do Brasil na OCDE que a participação nessa entidade conferiria a seus sócios uma espécie de “selo de qualidade” para os investidores. Mas, como lembra o sociólogo Marcelo Zero em artigo recente, o tal selo tem tido pouco serventia à Grécia — fundadora da OCDE e atirada aos leões por seus colegas de agremiação — ou ao México, integrante da organização desde 1994.
É que mesmo em grêmios elegantes há os sócios mais elegantes e os que ficam “na porta, estacionando os carros”, como cantou Cazuza.
Paulo Guedes, essa hecatombe econômica, tenta celebrar o “convite da OCDE” como um “feito” de sua gestão. Agarra-se a um fiapo tentando escapar do redemoinho. Lembra o ministro da Economia que para ser aceito no clube, ainda é preciso aprofundar as “reformas de modernização” — sinônimo de mais arrocho, mais desumanidade e mais desdém às reais necessidades da população.
O “convite da OCDE”, na verdade, é a formalização de um processo que insta o Brasil a encarniçar ainda mais seu abraço a uma agenda que não deu certo. Um processo que pode levar de dois a cinco anos. Um aceno para que o País marque hora no barbeiro, tire as medidas com o alfaiate e contrate a limusine.
O sarau não compensa o sacrifício.
*É senador da República pelo Rio Grande do Norte e líder da Minoria no Senado.
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