Os descaminhos da pandemia no Brasil e no Rio Grande do Norte

Por Gutemberg Dias*

A pandemia da Covid-19 se transformou num grande divisor de águas no mundo e, sobretudo, no Brasil. As mudanças que fomos submetidos passam por transformações no campo social, econômico e político que segue redefinindo todas a relações interpessoais e diplomáticas quando falamos de mundo.

O Brasil, a partir de um governo que segue na contramão do mundo, optou em não travar uma luta séria contra a pandemia e embarcou numa narrativa negacionista, apostando numa falsa imunidade de rebanho e na criação de um protocolo de tratamento precoce com drogas que, cientificamente, foram descartadas como eficaz no tratamento da Covid-19. Esse caminho colocou o país numa situação extremamente difícil no cenário internacional, tornando-se um pária quando o assunto é a pandemia, e internamente, por todos os equívocos, entrou na rota de países com alta incidência de morte.

Além das mais de 430 mil mortes de brasileiros e brasileiras pela Covid-19, a pandemia e, sobretudo, a falta de tato do governo federal, gerou um ambiente de animosidade política de grande monta. E isso contaminou deveras as ações de combate a pandemia, chegando ao ponto de o governo federal dificultar, através da ANVISA, a compra direta de vacinas por parte dos estados do nordeste, como foi o caso da Sputnik V.

No Rio Grande do Norte a pandemia já ceifou a vida de 5.980 potiguares (dados do LAIS) e, também, gerou disputadas políticas quanto a questão dos decretos de restrições. De um lado o governo do estado, assessorado por um Comitê Científico de alto nível, que propõe restrições mais acentuadas, e do outro, alguns prefeitos, em especial da capital, que optou por duelar com o governo estadual adotando a linha de atuação do Presidente da República e com respaldo de grande parte das entidades empresariais.

O certo é que não estamos vencendo a luta contra a pandemia, nem no campo da saúde e muito menos no da política. Veja o caso do nosso estado, chegamos a poucos dias a ter a maior taxa de redução de casos no Brasil, mas de uma hora para outra, em função da diminuição das restrições, o estado volta a ter superlotação dos leitos Covid-19 e conviver com a elevação dos casos.

Mossoró, leia-se o povo, na última semana deu um grande exemplo de como ajudar na proliferação da doença. Bares e restaurantes lotados após a liberação de bebidas alcoólicas e encerramento do toque de recolher. Infelizmente as autoridades sanitárias locais fizeram olhos e ouvidos de mercador, tudo normal dentro de uma anormalidade.

A disputa precisa ser travada no campo da saúde pública e no combate à pandemia, utilizando tudo que for necessário, inclusive o tão temido “lockdown”. A classe política e empresarial precisa ter em mente que a defesa da vida tem que vir antes de qualquer outra ação, mesmo que ela gere dessabores econômicos a curto e médio prazo. Lembro que a economia tem perspectiva de recuperação, já para uma vida perdida não existe reparo.

Os especialistas em epidemiologia da Covid-19 já apontam que o país pode estar entrando na terceira onda da doença. Nesse caso, com maior perigo devido as novas cepas, com a indiana, que foi recentemente identificada no Maranhão. Será que vamos fazer de conta que nada está acontecendo e aceitar a banalização da morte e embarcarmos na narrativa de que o mundo não pode parar?

Sinto uma angústia danada quando vejo que sozinho não conseguirei resolver esse problema generalizado. Mas, também, sei que ficar calado e omisso não ajudará em nada na mudança de rumo que precisamos impor. Já é hora de todos que acreditam na vida se levantar contra o que estamos vivendo e lutar por uma política eficaz de controle da pandemia.

*É professor universitário.

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