Pai, não os perdoe, pois eles sabem o que fazem

ORIVALDO LOPES JR

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“Os monstros existem, mas são muito pouco numerosos para ser realmente perigosos; mais perigosos são os homens comuns, os funcionários dispostos a acreditar e obedecer sem discutir’.

 

Primo Levi

 

Do alto da cruz, Jesus olhou os policiais que o tinham torturado, humilhado e pregado na cruz. Viu mais adiante o povo que havia gritado “Crucifica-o! Crucifica-o!”. Olhou os moradores de Jerusalém assistindo o “espetáculo” e que apoiavam seus líderes. Viu atrás desses os que se omitiram e nada fizeram. Então ele ergueu seus olhos para o céu e disse: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” (Lucas 23.34).

Essa declaração de Jesus é extremamente séria, pois nela se esconde uma terrível condenação. Esses a quem Jesus mirava de cima da cruz agiam como meros meninos e meninas de recado. Eles apenas obedeciam às ordens governamentais e às orientações sacerdotais. É para essas pessoas que Jesus pede a misericórdia divina. Porém, ao dizer “perdoe estes que não sabem o que fazem”, ele está dizendo ao mesmo tempo: “Pai, não perdoe àqueles que sabem o que fazem”!

Hoje, quando vemos crianças e adolescentes fazendo o símbolo de uma arma e apontando para os céus, em direção ao Senhor crucificado, dentro de uma igreja da Assembleia de Deus; quando vemos livrarias evangélicas vendendo camisetas com a imagem do “mito”, aquele cujo nome é impronunciável, quando um grupo de mais de cem pastores se submetem aos seus “modelos” de sucesso e declaram, irresponsavelmente, seu apoio à violência, ao ódio, à injustiça social, à discriminação… eu escuto Jesus repetindo “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”.

Entretanto, em outro lugar Jesus diz: “Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pedra amarrada no pescoço” (Lucas 17.2). É por isso que nesta palavra da cruz podemos escutar: “Pai, não perdoe a estes que levam meus filhos e filhas a pecar, que põem pedras nos caminhos das crianças e adolescentes para que tropecem. Que esses sacerdotes formadores de opinião sejam tidos por indesculpáveis diante dos céus, pois eles sabem o que estão fazendo. Que repousem no fundo dos oceanos com os moinhos amarrados em seus pescoços, pois estão desvirtuando minha mensagem, estão se beneficiando de minhas ovelhas, e as dispersando pelo mundo onde serão feridas e mortas pelos que se alimentam do ódio e da mentira”.

Cada evangélico e cada evangélica que está se espelhando em seus líderes e apoia essa candidatura das armas e da violência insulta, agride, açoita, e crava na cruz mais uma vez o Senhor Jesus. Como isso é triste, humilhante, terrível… e no entanto, do alto de sua misericórdia Jesus pede o perdão de Deus para eles, pois não sabem que estão abrindo as portas do inferno para a nação brasileira. Quanto aos seus líderes, que deveriam pelo menos ter se calado e evitado a difusão do ódio, ao apontarem um anticristo à presidência do Brasil, esses que caíram em sedução diante de prováveis propostas de retorno aos seus bolsos e à sua posição de prestígio, Jesus simplesmente se cala. Para esses não há perdão, nem dos céus, nem da história.

Como os juízes e legisladores brasileiros, eles estão cometendo um suicídio histórico. As gerações futuras citarão seus nomes com tristeza, desdém, vergonha e escárnio. Ganham um pouquinho agora, mas perdem tudo depois. Seus netos terão vergonha de dizer quem eram seus avós. O perdão, portanto, não é só divino. A humanidade como um todo vai olhar no futuro para o Brasil desses dias e seu veredito será brutal.

Mas ainda há tempo: reneguem toda associação com o mal representada por esse candidato. Digam não à violência de todos contra todos, à discriminação, ao racismo, à acumulação, ao militarismo, à intolerância, à tortura, à mentira, à destruição dos benefícios sociais que chegam aos membros mais pobres de suas igrejas… Este é seu dever moral, espiritual e histórico. Existem muitas alternativas, mas a abominação da desolação das armas e da violência não é, em absoluto, uma delas. Por isso, “ergam sua voz contra a injustiça e a favor dos pobres”.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto