De acordo com dados do Governo do Estado o Rio Grande do Norte já perdeu 49 policiais militares para a covid-19 desde o início da pandemia, em 2020. Os números preocupam e reforçam uma necessidade que foi reivindicada inclusive pelos próprios policias: a inclusão do segmento no grupo prioritário da vacinação e a urgência na chegada de mais doses anti-covid.
Curiosamente durante a última semana foi divulgado um dado pela Polícia Militar do RN de que pelo menos 250 PMs decidiram deliberadamente não se vacinar. O número impressiona, pois, revela um comportamento dissonante daquele tido pela maioria das pessoas, que tem feito de tudo para garantir a imunização contra a doença.
De acordo com o comando da PM a decisão por tomar ou não tomar a vacina é particular, portanto, nenhum oficial pode ser punido pela escolha. Os dados apontam que além dos 250 profissionais que recusaram tomar o imunizante, outros 121 policiais faltaram à vacinação sem justificativa e mais de 1000 não apresentaram nenhuma sinalização aos superiores informando sobre ter tomado a vacina ou não.
É impossível apontar todos os motivos que levaram o alto número de policiais militares a rejeitar a principal proteção contra a covid-19, mas é inegável que o papel cumprido pelo presidente Jair Bolsonaro, que tem muitos entusiastas nas fileiras militares, para a desmobilização quanto a vacinação é um elemento a se levar em consideração.
O “Mito”, como é conhecido por seus apoiadores se notabilizou durante a pandemia por uma série de declarações anti-vacina e que colocavam sob suspeição inclusive o número de mortos por Covid-19 no Brasil. Em uma das falas mais esdrúxulas, em dezembro do ano passado, Bolsonaro afirmou: “Se tomar a vacina e virar jacaré não tenho nada a ver”. O presidente do Brasil inclusive é enfático em afirmar que será o último brasileiro a se vacinar. Ele, que possui 66 anos, já teria idade suficiente para ter tomado a primeira dose e estaria às vésperas da imunização, com a segunda dose.
Outro elemento controverso no que se refere a relação entre Bolsonaro e a vacinação foi a morosidade com que o Governo iniciou o processo de compra das vacinas. Tal situação inclusive é o principal tema da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a omissão do Presidente no combate à pandemia.
De acordo com elementos expostos na própria CPI da COVID, o Presidente Bolsonaro foi procurado pela farmacêutica Pfizer, que ofereceu ao Brasil 70 milhões de doses anticovid em um momento em que boa parte do mundo ainda lutava para garantir os imunizantes. O Governo teria ignorado mais de 50 e-mails enviados pela Pfizer, que tentou de todas as formas fechar uma parceria com o país.
O Blog do Barreto conversou com o cientista político Bruno Oliveira, que destacou a influência do Presidente Jair Bolsonaro nas decisões negacionistas da população. Para ele, as corporações militares acabam sendo ainda mais influenciadas, uma vez que, na maioria das vezes, nutrem uma relação de idolatria com o Chefe do Executivo Federal.
“Em toda a sociedade vemos pessoas reproduzindo os pensamentos vigentes no Governo Bolsonaro. Nas corporações militares isso é ainda mais forte, já que existe uma relação de respeito e idolatria de muitos oficiais da segurança pelo Presidente. Não há dúvidas que as opiniões de Bolsonaro influenciam as pessoas em suas decisões. Ele é o Presidente do País, ocupa a maior posição de poder e relevância dentro do Estado, foi eleito por milhões de brasileiros. O que ele fala ressoa com muita força na vida dos populares”, destaca Bruno.
O pesquisador ainda lamenta que os posicionamentos de Bolsonaro instiguem a população a assumir posições contrárias aos protocolos científicos que tem salvado vidas durante a pandemia.
“É triste pensar que enquanto muitos querem ter o direito de tomar a vacina, mas ainda não conseguiram por falta de doses, centenas de policiais rejeitaram a imunização mesmo estando em grupo prioritário. O fato do Presidente expor uma opinião equivocada e sem nenhuma base científica, de forma oficial e publicizada, tem instigado condutas erradas de seus apoiadores e potencializado muitas mortes em nosso país”, conclui o cientista político.