Por Leticia Tayane Marques*
Nessa obra, o autor coloca em discussão o fato de que a política está intimamente relacionada com o exercício de alguma forma de poder e com as consequências disso. Ubaldo Ribeiro, a partir da referida obra, com enfoque nos dois primeiros capítulos, busca guiar o leitor, por meio de provocações e exemplificações, até o entendimento da importância do fenômeno político e da participação social nesse processo.
O autor nos traz, inicialmente, uma problematização acerca da vaguidade do conceito de “política”. A título de exemplo, a maioria das pessoas tem em mente que fazer parte da política é, em seu mais alto grau de importância (e poder), ocupar algum cargo público comissionado dentro da comunidade e esse pensamento condiz com o conceito abstrato que a população tem sobre a política. Entretanto, sempre que alguma forma de poder é manifestada há, mesmo que nem sempre de maneira explícita, uma complexa gama de fatos, não consistindo, portanto, em um ato isolado. Pode-se entender melhor esse raciocínio analisando o filme “Histórias Cruzadas”, dirigido por Tate Taylor e lançado em 2011, o qual narra a luta de Eugenia Phelan, durante a década de 60, para escrever um livro sob a perspectiva das empregadas negras acostumadas a criarem os filhos da elite branca e assim, dar voz às vítimas do forte racismo vigente na época. A partir da decisão da autora de escrever esse ensaio, muitas domésticas conseguiram melhores condições de trabalho, a branquitude foi exposta e o machismo começou a ganhar olhares negativos, ou seja, vidas foram impactadas. O mesmo ocorre com o processo político: ele desperta mudanças.
O poder, de modo abstrato, antes de exercido, está sujeito a fatores diversos. Não obstante, após esse exercício, percebe-se uma vasta cadeia de ligações advindas desse ato e essa percepção vagueia pelos diversos âmbitos da esfera social. Devido a essa extensa gama de efeitos, faz-se necessária uma busca mais precisa para que haja uma aproximação do essencial conceito de “política”. O autor, desde a égide de sua escrita, traça um paralelo entre os significados de “poder” e “política”, estabelecendo uma relação de coexistência entre esses dois termos. A partir dessas inferências, nota-se que o processo político inicia-se no desejo de um indivíduo (ou até mesmo da coletividade) de implementar algo, a fim de alcançar um objetivo almejado, e que isso acarretará uma mudança comportamental da sociedade. Vide essas explicações, percebe-se que, para que o processo político seja compreendido, os holofotes precisam iluminar o que leva o sujeito (ou o coletivo) a formular e a executar uma decisão. Assim, é possível compreender o título da obra aqui criticada, pois ele explicita a fundamentalidade de analisar os indivíduos por trás do ato político.
Partindo desses pressupostos, pode-se concluir que, a política é usada, desde sua forma mais primitiva, para organizar o corpo social. Sendo assim, as pessoas que se dedicam a expressar suas causas e que lutam por tais são aquelas que conduzem majoritariamente a comunidade em que vivem. O processo político permeia todas as atitudes e, embora o autor possibilite a compreensão da política como algo inerente ao ser humano, algumas consequências desses processos não são naturais. Isso ocorre quando o poder deturpa as decisões e os indivíduos começam a agir a partir de uma influência, como a existência de preconceitos, por exemplo. Ou seja, o processo político, quando acrescido de uma influência advinda de uma sensação de poder, pode acarretar modificações não naturais do comportamento social.
Tendo em mente a existência dessas manipulações, quem prefere acreditar que o ideal para a vida humana é manter distância dos atos políticos (se é que isso é possível) é, de certo modo, um político conservador, pois se trata daquele que não vê necessidade de mudanças e, portanto, prefere a manutenção do status quo, com a finalidade de não perder privilégios, já que é a partir da política que os cidadãos conseguem permear as camadas sociais.
Logo, convém ressaltar que, para que haja a modificação das estruturas sociais vigentes (das quais a maioria é machista, misógina, racista e preconceituosa) é necessário submergir nas estruturas dos processos políticos e buscar compreender a importância da participação da comunidade nesse meio, para que os indivíduos estejam menos suscetíveis à manipulação e mais aptos e preparados para conduzir as esferas sociais.
*É estudante de direito da Ufersa.
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