Processo de privatização e desinvestimentos vêm promovendo queda na produção de petróleo do nordeste

Foto: Diário do Nordeste

No primeiro semestre de 2024, observou-se uma queda de 5,7% na produção média de petróleo e gás no Nordeste, quando comparada à média do mesmo período de 2023.  A produção de petróleo e gás na região Nordeste vem apresentando, em geral, tendência de queda na última década.

Em 2014, a produção na região foi de 278 mboe/d marcando o seu auge produtivo. Comparando-a com a produção registrada no primeiro semestre de 2024, nota-se uma redução de cerca de 60% neste indicador. Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) Essa queda pode ser justificada por dois fatores:

O primeiro é o amadurecimento dos campos, processo natural do ciclo produtivo das bacias. O segundo se refere à mudança da estratégia da principal operadora da região, a Petrobras, que, a partir de 2016, passou a priorizar os ativos do pré-sal, reduziu seus investimentos em exploração e produção (E&P) e implementou um intenso programa de desinvestimentos.

Nesse contexto, a Petrobras reduziu seus investimentos em exploração de petróleo e gás natural (E&P) nas bacias do nordeste e ainda vendeu sua participação em 143 campos na região por cerca de R$ 20 bilhões entre os anos de 2019 e 2023. Esse movimento resultou em dois desdobramentos:

O primeiro foi o encerramento das operações de produção da Petrobras em algumas áreas e bacias, como na porção onshore das bacias Potiguar e Sergipe, as bacias Tucano do Sul e Alagoas.

E o segundo efeito foi o surgimento de petroleiras independentes com significativo nível de integração, como a 3R/Enauta (que opera no Rio Grande do Norte) que adquiriu ativos produtivos, infraestruturas de produção e escoamento e unidades de processamento de petróleo e gás.

A produção média das bacias do Nordeste alcançou, no primeiro semestre de 2024, 110,5 mil barris de óleo equivalente por dia (mboe/d), o que corresponde a aproximadamente 2,6% do total nacional, segundo a ANP. Desse volume, 90,9% teve origem em campos terrestres, que por sua vez, apresentaram um aumento de 10,3% na produção em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Em contrapartida, a produção marítima foi de 10 mboe/d no período, mantendo a contínua tendência de queda que se iniciou em 2014, data em que se intensificou o processo de concessão e privatização petrolífera no Brasil.

Atualmente, a região nordeste concentra o maior número de operadores independentes do país, com destaque para a 3R/Enauta, que possui uma produção média de 34 mboe/d, e para Petroreconcavo, com uma produção de 27,4 mboe/d. Juntas, responderam por pouco mais de 50% da produção da região no 1S24. A Petrobras, no mesmo período, produziu 17,71 mboe/d, mantendo sua tendência de queda produtiva na região, situação que vem sendo registrada há mais de uma década. Esse declínio decorre da redução dos investimentos e dos desinvestimentos.

REDUÇÃO  –  Na última década, houve uma significativa redução na perfuração de poços pioneiros nas bacias da região. Segundo a ANP, em 2014, foram perfurados 17 poços dessa categoria; em 2023, apenas 7, uma redução de quase 59%.

Chama atenção o fato de que, no recorte temporal indicado, houve a perfuração de somente dois poços pioneiros no mar das bacias nordestinas. O reduzido número de poços pioneiros não indica o esgotamento exploratório da região, mas sim um nível relativamente baixo de investimentos no segmento nos últimos anos.

Apesar de possuir bacias maduras, a região ainda guarda potentes fronteiras exploratórias. Dado o indispensável papel do petróleo para o abastecimento futuro e sua importância para a transição energética, avanços exploratórios nas bacias do nordeste são essenciais.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto