Profissional de saúde conta rotina na linha de frente da atuação contra o Covid em Mossoró

Antes de entrar na UTI profissionais têm adotar diversos cuidados com a própria segurança (Foto: Cedida)

Dúvidas e medo se misturam à coragem e à esperança na luta dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate à pandemia do novo coronavírus.

O fisioterapeuta e especialista em terapia intensiva André Carlos é servidor do Hospital Regional Tarcísio Maia e trabalha na UTI destinada às pessoas com sintomas de Covid. Ele é um dos responsáveis por colocar os pacientes na ventilação, quando eles são entubados pelo médico.

A rotina de trabalho segue todo um protocolo. Ele conta que tem todo cuidado quando chega ao hospital. Antes de entrar na UTI, se prepara colocando todos os equipamentos para passar seis horas seguidas na Unidade. Durante esse período, o fisioterapeuta diz que os profissionais fazem o máximo para não beberem água, comerem ou mesmo irem ao banheiro. Ele explica que o hospital possui as chamadas ‘área suja’ e ‘área limpa’ para descarte e vestimenta dos equipamentos de proteção individual e dentro da UTI também há uma área limpa, mas cada vez que eles tiram os equipamentos temem a contaminação através de um gesto simples e até despercebido como coçar o nariz ou o olho. Para completar, está sempre lavando as mãos e passando álcool.

Mesmo assim, o receio existe. “É tudo muito novo, é uma doença que a gente não tinha conhecimento”, afirma.

André comenta que as informações sobre a doença e o tratamento também mudam com frequência e cita diferentes estudos publicados, em curto espaço de tempo, sobre o tratamento dos pulmões das pessoas afetadas pelo Covid.

Mesmo sendo preparado para atuar em uma UTI, lidar com a realidade da pandemia também não é fácil. O fisioterapeuta explica que muitos pacientes não apresentam sintomas, pois tem a chamada hipoxemia silenciosa, que é quando, como explica, o nível de oxigênio no sangue está baixo a ponto de colocar a vida do paciente em risco, mas ele não percebe. Explicar para o paciente que ele terá que ser entubado para sobreviver, mesmo que ele ache que não sente nada é complicado.

André explica que, para ventilar um paciente é preciso levar em consideração questões como altura e realizar uma série de cálculos, mas, mesmo assim, às vezes é difícil e outras técnicas precisam ser implementadas.

Mas o fisioterapeuta lembra que há casos de recuperação que tem correspondido à maioria dos tratamentos. “A gente tem curas também”, diz ele, relatando o caso de um paciente que deu entrada no dia 24, passou por todo o processo e ontem, 1º, teve alta da UTI.

“Cada paciente que sai é uma vitória e a gente tem que se apegar a essas coisas”, revela, confirmando que isso é motivo de esperança.

Apesar dos riscos a que os profissionais de saúde estão expostos, André Carlos diz que contrair a doença não é maior medo. “Quando tudo isso começou o medo não era nem tanto de pegar o Covid, mas de levar isso para casa”, diz André, que mora com os pais, inseridos no grupo de risco.

Ele revela que chegou a pensar em dividir apartamento com outros amigos para não ter que voltar para casa após o trabalho, mas os amigos desistiram da ideia. A preocupação de André, no entanto, permanece.

Concluído o plantão, André conta que todos são orientados a tomar banho no hospital. No carro, ele dá continuidade às medidas de segurança e tem um calçado separado para não usar o mesmo que utiliza no hospital.

Ao chegar em casa, novamente toma banho em um banheiro que foi separado para ele e janta sozinho para não ter contato com os familiares. Depois, se não estiver cansado o suficiente para dormir, ele vai sozinho para o jardim ouvir músicas ou mensagens positivas.

André comenta ainda a realidade de alguns amigos que têm filhos e agora vivem essa dificuldade, pois não é fácil dizer para uma criança que não pode mais abraçar.

O fisioterapeuta chama a atenção da população para que respeite o isolamento e lembra que o momento de ficar em casa e não de fazer ou receber visitas.

Ele acrescenta que a situação é complicada, mas iremos vencer.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto