Ravengar perdeu o *grimório?

“Quantas ideias, neste mundo, na história da humanidade, eram impossíveis, dez anos antes, mas surgem de repente, quando chega o seu tempo misterioso, e disseminam-se por toda a terra…” (Alexei, nos Irmãos karamázov de Dostoiévski)

Por João Bosco Souto Araújo**

Em Mossoró o ex-deputado Carlos Augusto Rosado, marido e mentor político da prefeita Rosalba Ciarlini é comparado a Ravengar – bruxo do (fictício) reino de Avilan, que manipulava Pichot, o mendigo que virou rei – personagem da telenovela ‘Que Rei Sou Eu’, exibida no final dos anos 80. O ex-deputado tem fama de exímio estrategista político, consagrada pelos quatro mandatos de prefeito, um de senador e um de governador conquistados por sua cônjuge. Sabe-se que na trama política paroquial o protagonista – de fato – é o marido, Rosalba é deuteragonista – quem representa o segundo papel nas tragédias gregas -, penso que se Carlos gozasse do carisma e popularidade da esposa ele teria sido candidato às eleições de 1988.

 

Alter ego de seu paredro – mentor, conselheiro, guia – conhecido pelo estilo filocrata – pessoa que gosta de mandar, que tem a paixão do poder – às vezes penso que a prefeita já ouviu algo parecido: “Eu o sustentarei com mão de ferro no caminho do poder (…) O senhor vai brilhar, ostentar-se, enquanto eu agachado na lama das fundações, estarei garantindo o brilhante edifício de sua fortuna. Porque eu, eu gosto do poder pelo poder! Sempre me sentirei feliz com seus prazeres que me são vedados. Enfim, eu serei o que o senhor for!…” (Honoré de Balzac, Ilusões Perdidas)
Umas das oligarquias mais longevas – há 72 anos no poder – do RN, há dez anos Rosalba conquistava, com apoio das demais oligarquias – Alves e Maia -, o governo do RN e “alcançava” o status, temporário, de grupo político estadual. Quatro anos depois o sonho transforma-se em pesadelo, o DEM – partido da então governadora – sequer lhe franqueou a legenda para disputar sua reeleição.

 

Tida por imbatível por seus seguidores Rosalba enfrentou nesta eleição municipal um contendor, o deputado estadual Allyson Bezerra (SDD), que se converteu logo em ameaça ao projeto de reeleição da prefeita e, talvez, da hegemonia política exercida pela família Rosado – reunida hoje no mesmo palanque por conveniência eleitoral e por sobrevivência como grupo político. O marketing da prefeita explorou à exaustão a inexperiência do jovem parlamentar buscando associá-lo ao malogro que foi as gestões do ex-prefeito Francisco José da Silveira Júnior e do ex-governador Robinson Faria.

 

Ora! Quando Rosalba assumiu o governo do RN em 2011 fora com a experiência de três mandatos como gestora da segunda maior cidade do estado, um período de quatro anos no senado e com tanta experiência o seu governo foi um rotundo fracasso. Além de acusações de corrupção contra ela (ver AQUI)e o marido saiu do governo do estado em profundo desgaste o que não a impediu de voltar à prefeitura em 2017 e mais uma vez Carlos Augusto triunfou em uma eleição municipal em Mossoró.

 

A família Rosado conseguiu incutir – durante décadas – em parcela do eleitorado que era a única capaz de gerir Mossoró, eis um exemplo: (Foto).


O rei Baltazar dava uma festa grandiosa quando surge na parede uma mão que escreve em – letras de fogo – as seguintes palavras: “MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM”. — E agora a explicação. MENE quer dizer que Deus contou o número dos dias do reinado do senhor e resolveu terminá-lo. TEQUEL quer dizer que o senhor foi pesado na balança e pesou muito pouco. PERES quer dizer que o seu reino será dividido e entregue aos medos e aos persas. (Daniel 5, 25-28).

 

Política analógica na era digital Rosalba talvez tenha que passar por um retrofit – é um termo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernização de algum equipamento já considerado ultrapassado ou fora de norma.

 

*Grimório: coletânea de fórmulas com supostos poderes mágicos; livro de feitiços.

 

**É representante comercial, graduado em História (UERN) e graduando em administração (UFERSA)

 

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