Fátima Bezerra (PT) quebrou um tabu de 16 anos sem que um governador do Rio Grande do Norte conseguia se reeleger.
Apesar da maior votação da história (1.066.496 votos), o resultado não quer dizer que ela navegou em céu de brigadeiro nos últimos quatro anos. A petista enfrentou uma forte oposição na mídia natalense, sofreu com a incompreensão das medidas necessárias para conter a pandemia da covid-19 e precisou fazer escolhas difíceis como reformar a previdência estadual.
Ainda teve que lidar com uma CPI sem pé nem cabeça na Assembleia Legislativa e as acusações infundadas em relação a compra malsucedida dos respiradores.
Apesar disso, diferente dos antecessores (Robinson Faria e Rosalba Ciarlini) ela fez uma gestão bem menos impopular. Enquanto eles chegaram as convenções (Rosalba foi barrada na instância partidária) com desaprovação na casa dos 80%, Fátima foi recuperando a popularidade e chegou ao dia da eleição com metade dos eleitores aprovando sua gestão.
A comparação com as gestões anteriores foi fundamental para sua reeleição.
Mas é preciso compreender que a governadora jogou bem nos bastidores ao tirar da disputa seu principal adversário, Carlos Eduardo Alves (PDT) e, por tabela, inviabilizou qualquer possibilidade do prefeito do Natal Álvaro Dias (PSDB) sair do cargo para disputar o Governo do Estado.
Eles eram os únicos nomes capazes de tornar a reeleição da petista mais acirrada.
Fátima fez desmoronar o palanque da oposição, que ao longo de quatro anos não se mostrou capaz de fomentar um nome competitivo para o Governo do Estado. Restou improvisar com Fábio Dantas (SD), o ex-vice-governador de Robinson Faria, cuja gestão é marcada pelas quatro folhas atrasadas ao fim do mandato.
Fábio teve que aderir ao bolsonarismo para evitar um vexame maior que seria ficar em terceiro lugar atrás do senador Styvenson Valentim (PODE), que preso em suas convicções antipolítica, sequer fez campanha. Ainda assim recebeu 406.461, ficando bem longe da vencedora.
O xadrez bem jogado nos bastidores deixou a oposição fragilizada e a governadora venceu com vantagem de 660.461 votos, a maior maioria já registrada em disputas pelo Governo do RN.
Fátima tem méritos. Colocou as quatro folhas salariais em dia, reduziu os índices de violência com a contratação de mais policiais e devolveu a normalidade fiscal ao Estado. Teve pecados na saúde, educação e infraestrutura.
O eleitor lhe deu uma segunda chance para manter os acertos e corrigir as falhas.