Réu acusa Ricardo Motta de ficar com 60% da propina no IDEMA

Gutson Reinaldo prestou depoimento na manhã desta segunda-feira (22) (Foto: Fred Carvalho/ G1)

Fred Carvalho

Do G1 RN

O ex-diretor administrativo do Idema, Gutson Johnson Giovany Reinaldo, afirmou que parte do dinheiro desviado do órgão era repassado para o então ex-presidente da Assembleia Legislativa e atual deputado estadual deputado Ricardo Motta (PROS). Em depoimento prestado na tarde desta segunda-feira (22), Gutson confessou que participou do esquema fraudulento e que ficava com 20% do dinheiro desviado. Segundo ele, 60% da verba fraudada ficava com o deputado e os outros 20% era rateado entre dois ou três dos réus do processo.

Em nota, Ricardo Motta nega as acusações. Ele diz que nada do que foi dito é verdade e que tomará as medidas cabíveis. “Não fui responsável por sua indicação, nomeação, tampouco pelos seus atos e jamais aceitarei a calúnia cometida contra a minha pessoa. (…) Estive, estou e estarei à disposição da Justiça. Em sete mandatos de deputado estadual jamais foi encontrada qualquer irregularidade em minha vida pública”, afirmou.

Gutson Reinaldo disse que foi nomeado para o Idema no início de 2011. Segundo ele, ainda neste ano foi procurado por Ricardo Motta. “Ele me procurou e pediu dinheiro. Disse que estava com dívidas por causa das eleições de 2010, que precisava de mais dinheiro para as eleições de 2012e que não tinha mais como tirar da Assembleia Legislativa. Diante disso, eu fiz a ponte entre esse agente político e as pessoas do Idema que sabiam como poderíamos desviar verba”, falou Gutson.

Essas pessoas do Idema, ainda de acordo com Gutson, eram Clebson José Bezerril e Euclides Paulino de Macedo Neto. “Eu os procurei e perguntei se haveria como levantarmos esse dinheiro. Eles me disseram que sim. Diante disso, acertamos que haveria esses desvios por ofícios e que eu repassaria 60% para o deputado, ficaria com 20% por ser o intermediador e que Clebson e Euclides dividiriam os 20% restantes entre eles e qualquer empresário usado no esquema”.

Gutson admitiu que muitas das vezes recebeu dinheiro em espécie de empresários. Ao todo, ele admite que recebeu cerca de R$ 4,5 milhões nas fraudes. Esse dinheiro foi lavado com a compra de imóveis e na criação de uma revendedora de veículos. “Montei a loja de veículos, comprei nove apartamentos em um prédio de luxo na Zona Sul de Natal, mais um outro apartamento, uma sala comercial, tenho um apartamento a receber e ainda uma casa em construção na cidade de Mossoró. Tudo com esse dinheiro do Idema”, confessou.

Outros depoimentos
Além de Gutson, nesta segunda também prestaram depoimento Handerson Raniery Pereira, Elmo Pereira da Silva Júnior, Antonio Tavares Neto e Euclides Paulino de Macedo Neto. Antonio Tavares, que é empresário, admitiu que participou do esquema e que ficava com 3% de tudo o que era movimentado de forma ilegal nas contas bancárias das empresas dele. Euclides Macedo, que servidor do Idema, confessou que dividia parte do dinheiro desviado com Gutson e Clebson. Ele disse que ajudou nas fraudes a mando de Gutson.

Próxima fase
Após ouvir os depoimentos das testemunhas e dos réus do processo, o juiz da 6ª vara Criminal, Guilherme Newton Pinto, deu prazo até a tarde desta terça (23) para as defesas ou o Ministério Público solicitarem novas diligências no processo. “Se tudo correr bem, acho que ainda esta semana devo setenciar ou não os réus. Sobre o fato de um deputado ter sido citado no depoimento de Gutson, não cabe a mim, juiz de primeira instância, analisar isso. Ainda vou decidir como proceder em relação a essa citação”, falou.

Operação Candeeiro
Quatro pessoas foram presas na operação Candeeiro, deflagrada pelo Ministério Público Estadual no dia 2 de setembro de 2015. Um dos detidos foi o filho da ex-procuradora-geral da Assembleia Legislativa do RN, Rita das Mercês. Segundo o MP, Gutson Johnson Giovany Reinaldo Bezerra, ex-diretor administrativo do Idema, é o principal responsável pelo esquema, que teria desviado mais de R$ 19 milhões do órgão. A mãe dele foi presa no dia 20 de agosto na operação Dama de Espadas por suspeita de desvio de recursos públicos na AL. Ela foi solta três dias depois por força de um habeas corpus.

Os demais presos da operação Candeeiro são: Clebson Bezerril, ex-diretor financeiro do Idema; João Eduardo de Oliveira Soares, também funcionário do setor de contabilidade do órgão; e Renato Bezerra de Medeiros. O quinto mandado é contra Antônio Tavares Neto.

Foram emitidos cinco mandados de prisão temporária, 10 mandados de condução coercitiva e 27 mandados de busca e apreensão em Natal, Parnamirim, Santana do Matos e Mossoró. De acordo com o MP, os desvios dos cofres do Idema aconteceram entre os anos de 2013 e 2014. O juiz da 6ª Vara Criminal de Natal decretou ainda sequestro de bens e valores de pessoas físicas e jurídicas.

Foto: : Fred Carvalho/ G1

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Canal Bruno Barreto