Revolução ou golpe? A tentativa bolsonarista em ressuscitar o lixo da história

Teses bolsonaristas tentam dar roupagem positiva a um golpe de estado (Foto: Web/autor não identificado)

Por Tales Augusto*

Antes que venham me atacar, leiam o texto. Depois falem o que quiserem, mas de antemão aviso, escrevo fatos, provados, não a partir, partindo de achismos. Ações deste tipo, deixo para os que não leem, não estudam e ainda se informam apenas através das redes sociais e por falsos filósofos, até falsos messias. Outra coisa, sou contra ditadura, seja de direita ou esquerda, Estado Totalitário ainda mais.

Vimos neste último dia 31 de março de 2021, 57 anos depois de forma nefasta, vil, cruel e desprezível, a retirada de João Goulart do cargo. Numa ação militar-civil que muitos insistem em tentar criar um discurso que justifique o injustificável, a quebra do Estado Democrático de Direito. Este, que na nossa República, na nossa História, fora tantas vezes tornado mesmo que legitimo, em letra morta. Inclusive na ascensão da República em 1889. Não por acaso, tantas vezes as Forças Armadas, principalmente o Exército, fora o protagonista dos golpes, ora apoiando, noutro momento sendo o próprio governo.

Dentre os membros das Forças Armadas, mais recentemente, um senhor que saiu da caserna aposentado por apresentar sérios problemas não só de convívio, mas também psicológicos, ou é mentira que a aposentadoria precoce do capitão Bolsonaro fora fruto disso? Ah, vale salientar que ele entende de golpe (pelo menos de tentativa), tentara sem sucesso explodir (literalmente) parte da caserna para ter maiores vencimentos. Sendo mediano, sem ascender nas Forças Armadas, buscou na política espaço. Encontrou muitos iguais a ele, com ódio, mentiras e falso moralismos até conseguir a vaga de presidente. Não destoando de muitos que em 1964, gritavam “Deus, Pátria e Família” e agora os que sobreviveram e outros que mostraram suas reais caras, faces, ou melhor, deixaram que as máscaras caíssem. Incluindo-os também como falsos cristãos, não tem como ser cristão e apoiar a ditadura, a morte, a tortura.

O mais interessante, como falou Chico Buarque na canção Vai Passar, “num tempo, página infeliz da nossa História”, devendo ser por todos motivo de vergonha, para alguns é vista hoje como Revolução por ter impedido um Golpe de Esquerda que vislumbraram. A época, nem colocar em prática as Reformas de Base o Jango conseguiu, sonhar que haveria a tomada de poder pela esquerda é desconhecer o que vivíamos em 1964, lembro-lhes, esquerdas e não esquerda. Não havia entre os que seguiam tal ideologia uma homogeneidade. Poderia haver grupos que queriam tomar o poder e implantar uma ditadura? Com certeza sim, só que não causavam medo e nem tinham força. As guerrilhas urbana e rural só vieram por parte da esquerda após o Ato Institucional número 5, o famigerado AI-5. Por isso, não venham com discursos vazios, sem bases e sem leituras, continuam passando vergonha.

Muitos se esquecem que o Golpe de 1964, fora adiado em uma década devido o suicídio de Vargas. Situação muito bem avaliada no livro O Dia em que Getúlio Matou Allende, do Flavio Tavares (indico a leitura). Ou seja, não foi a esquerda que tentou o golpe, já estava em curso desde 1954, de lá até o 31 de março de 1964, muita coisa aconteceu, inclusive a Operação Brother Sam. Não é de hoje que os estadunidenses se metem na política interna brasileira, falo do Golpe Contra Dilma e a participação dos Estados Unidos na Operação Lava Jato. Documentos do Wikileaks, complementam e muito minha fala, só que leiam antes, não é Tales Augusto, este Historiador que está afirmando tudo isso.
Então o que leva muitos a tentarem tirar do Lixo da História o Golpe de 1964, buscar o tornar uma Revolução? O Discurso é uma prática que tem força quando usado de forma organizada. Na nossa História tivemos páginas rasgadas, escondidas, queimadas e outras adicionadas como no Stalinismo e Fascismos diversos como o italiano, o nazismo, o franquismo e ainda o salazarismo. O discurso é peça tratada por Foucault no seu livro A Ordem do Discurso.

Bolsonaro e seus asseclas há tempo buscam solidificar que tivemos uma revolução, inclusive alguns grupos tendo conquistado o direito de comemorar a data, só lembro que não foi revolução e sim golpe e vergonhoso. Por quais motivos eu afirmo ter sido golpe? Vamos lá.

De acordo com Pandolfi, “no Brasil, ao longo do século XX, ocorreram, pelo menos, dois movimentos conhecidos também como revoluções: um em 1930 e outro em 1964. Nenhum dos dois totalmente afinado com a ideia que se tem de uma revolução. Nenhum comparável ao que aconteceu na França em 1789 ou na Rússia em 1917. Isto porque sempre que se pensa na categoria revolução pensa-se imediatamente em uma total ruptura da ordem, em uma tomada brusca do poder, em uma substituição radical da classe dominante, em uma ampla participação popular. No Brasil, tanto em 1930 como em 1964, apesar de ter havido uma ruptura da ordem constitucional, não houve alterações substantivas na estrutura de classe do País, nem uma total substituição dos grupos no poder.
Em diferentes medidas, mesmo que esses movimentos tenham recebido apoio da população, não contaram com uma significativa participação popular. Em ambos, o apoio decisivo veio dos militares. Por isso, muitas vezes, as chamadas revoluções brasileiras são registradas na categoria de golpe. Entretanto, enquadrá-las como golpe ou como revolução não é o mais importante. Importa entender o significado, os dilemas e, sobretudo, o legado deixado por esses movimentos.”

Ou seja, o que aconteceu não configura como Revolução nem no Brasil, nem na baixa da égua. Só que o saudosismo bate a porta de pessoas eu nem viveram isso, costumo passear nos perfis de alguns bolsonaristas. Não todos, mas boa parte noto que não buscam leitura para defender o indefensável e tem mais, nesses passeios entrei em alguns grupos do whatsapp, facebook, instagram e é impressionante o que defendem com todas as forças.
São tão sem noção, que falam que o estado atual onde prefeitos e governadores no Brasil devido a Covid-19, restringem certas práticas, são ditaduras, vou repetir, são DITADURAS. Sinceramente, é difícil os levar a sério.
Esses também não compreendem o que cada ente da federação tem como premissa de suas obrigações e responsabilidades, somo ainda que nem entender como funcionam os três poderes. É ou não difícil levar a sério adultos (na idade pelo menos) que não conseguem aprender o que alunos do 8º ano (antiga 7ª série) do Ensino Fundamental já sabem? Aliás, não, sabem, APRENDERAM.

Tivemos ainda nesta semana, a demissão do Ministro da Defesa e o pedido de demissão coletivo dos chefes das Forças Aramadas em bloco, Todos saíram do governo, comentasse que isto ocorreu em decorrência do Bolsonaro buscar reviver 1964, aumentando seu poder e não foi uma ou duas vezes que ele falou em Estado de Sítio e ainda usou a Lei de Segurança Nacional (LSN).

Mas tudo isto não me surpreende, não esqueçam que a cadela do fascismo sempre está no cio e o ovo da serpente já eclodiu. Que não baixemos a guarda, seja onde for. Nós Historiadores principalmente, temos por missão, fazer com que o passado não seja esquecido, só que o principal está em aprender no passado o que não deve se repetir e que as novas gerações, não busquem no Lixo da História, soluções que não existem e discursos mentirosos. Não estudo o passado, o compreendo para pensar o hoje e quem sabe, termos um amanhã.

Mas não posso condenar quem acredita quando Bolsonaro disse que 1964 foi uma Revolução. Vocês acreditaram e alguns ainda acreditam que ele é o guardião da família tradicional brasileira, que ele não é corrupto, que ele é patriota, que ele defende o Brasil. Só não me diga que vocês também acreditam em Invermectina e Cloroquina como tratamento precoce, caso acredite, fica difícil até dialogar.

Fonte:

PANDOLFI, Dulce. O Brasil e suas revoluções. Século XX — Retrospectiva. Edição especial de O Estado de S. Paulo. Disponível em <www.estadao.com.br>. Acesso em jun. 2007.

*É Historiador, Professor e mestrando.

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