Ser somente um governador gay basta?

Por Marcos Leonel *

A “saída de armário” do governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite se transformou no assunto mais comentado no meio político desta semana, e suscitou alguns questionamentos, primeiro onde foi dada sua entrevista: no programa de Pedro Bial, depois pela sua afirmação “Sou um governador gay, e não um gay governador”, e por último e não menos importante ao apoio dado ao presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018.

Inicialmente é importante entender o contexto da entrevista de Eduardo Leite no Conversa com Bial, na qual se declarou publicamente gay. É igualmente importante saber que Leite é pré-candidato à presidência da república, disposto a ser a terceira via que venha quebrar a polarização Lula-Bolsonaro, diante destes fatos é preciso ser muito ingênuo para ignorar os cálculos e ambições políticas do governador. Para compreender melhor, é necessário separar aqui o pessoal do político. Qualquer pessoa decente fica feliz por ele e torce para que encontre plenitude agora que pode viver fora do armário, sempre que uma pessoa LGBT consegue se assumir e viver abertamente, assim querendo, é motivo de comemoração. É ainda mais importante se tratando de Leite, pelo cargo público que ele possui e por viver numa região conservadora de um país conservador. A entrevista de Eduardo Leite emocionou grande parte do público na internet, entendo esses sentimentos, mas não compartilho totalmente deles.

A felicidade que sinto pessoalmente por Leite, não me cega ao ponto de não enxergar o seu oportunismo em explorar a causa LGBT. Por quê o governador do RS aderiu e foi entusiasta do projeto político do homofóbico Bolsonaro em 2018?

Bolsonaro passou a sua vida política no congresso defendendo projetos de leis absurdos, entre os quais a utilização de tortura como método interrogatório, castração química, anistia de policiais condenados por homicídio, e claro diversos discursos de teor homofóbico, foi ele quem inventou uma das fake news mais disseminadas desse país, o conhecido “Kit gay”, chegando ao ponto de levar o livro de uma sexóloga para a bancada do Jornal Nacional para esbravejar que a obra seria distribuída nas escolas para as crianças. Uma mentira! Portanto, na campanha de 2018, quando Bolsonaro estava candidato, já não havia nenhuma dúvida que se tratava de um sujeito hostil à comunidade LGBT, foi neste ambiente que o então candidato a governador Eduardo Leite optou por omitir sua identidade e apoiar Jair Bolsonaro.

Sinto um pouco pelos emocionados que acreditam que bandeiras de arco-íris, declarações na mídia e peças publicitárias serão suficientes para alterar a realidade de opressão social que vivenciamos. A realidade é que no ano passado 80% das vítimas de homofobia no Brasil eram negros e uma proporção ainda maior de pessoas pobres, a dignidade desse gente não pode ser trocada por verbas de campanha. Oportunismo não é sinônimo de coragem, lembremos qual a posição que Eduardo Leite tomou quando o destino do Brasil estava em jogo.

*É jornalista.

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