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Executivo e Judiciário firmam cooperação para implementação de alternativas penais

“É com renovada esperança e, sobretudo, com profunda confiança na Justiça brasileira, que reafirmamos o nosso compromisso com a democracia, a importância da autonomia dos poderes e a disposição em trabalhar de forma cooperada em prol de uma justiça cada vez mais eficiente, igualitária e humana”.

Com essa afirmativa, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, saudou o ato solene de Lançamento dos Mutirões Processuais Penais de 2023, que contou com a presença da presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça Federal, ministra Rosa Weber.

Durante solenidade, realizada nesta terça-feira (25) no prédio do Tribunal de Justiça do Estado, a chefe do Executivo Estadual comemorou a assinatura do Termo de Cooperação Técnica para a implantação da Central Integrada de Alternativas Penais (CIAP). “A implementação dessa central é parte essencial de nossa política que busca alternativas que promovam a reintegração social e reduzam a reincidência”, afirmou Fátima Bezerra.

A cooperação tem como objetivo desenvolver ações conjuntas entre o estado do Rio Grande do Norte, por intermédio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP); o Tribunal de Justiça do Estado; o Ministério Público do RN; a Defensoria Pública do Estado e a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio Grande do Norte. A ação busca efetivar a implementação, acompanhamento e avaliação da política de alternativas penais no Rio Grande do Norte.

Os termos propostos em lei oferecem as condições institucionais necessárias para o desenvolvimento de um modelo de gestão em alternativas com foco na intervenção penal mínima no desencarceramento e na restauração e laços sociais.

“Sabemos que as alternativas penais, para além de contribuírem para a redução dos elevados índices de encarceramento no País e de superlotação, alcança seletivamente a população negra”, destacou a ministra Rosa Weber ao pontuar dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, segundo o qual, 68,2% do total de pessoas encarceradas no País são negras.

Para a ministra, o CIAP traz “serviços que possuem um caráter restaurativo, já que propõe uma melhor inclusão daqueles que vivenciaram o cárcere. Com as alternativas penais, permitimos que uma pessoa sujeita ao sistema de justiça criminal tenha melhor acesso à educação, à saúde, à assistência social, à cultura, ao trabalho, ao ensino profissionalizante, dentre outros direitos”.

Para o secretário da SEAP, Helton Edi Xavier da Silva, o termo de cooperação para implantação da CIAP “vem estreitar os laços do poder Executivo com o Judiciário, reafirmando essa parceria no fortalecimento da política de ressocialização”.

Agendas no RN – Os Mutirões Penais Processuais, instituídos pela Portaria nº 170/2023 do CNJ, propõem um esforço concentrado para revisar processos nas fases de conhecimento (ainda na instrução/investigação) e execução penal (já sentenciados/julgados). Isso se traduz em atuação mais ágil e eficiente do sistema de justiça criminal, garantindo o respeito às decisões do STF e a correta aplicação da lei.

A agenda de lançamento teve início na parte da manhã, quando a ministra Rosa Weber e comitiva visitaram a Penitenciária Rogério Coutinho Madruga e a Penitenciária Estadual de Alcaçuz, ambas instaladas no mesmo complexo, em Nísia Floresta. O momento foi marcado pela “formalização da primeira inspeção oficial do Grupo de Juízes para inspeções prisionais do TJRN”, com o objetivo de avaliar as condições do sistema carcerário do estado, e o lançamento do Mutirão Processual Penal 2023.

O ato solene de lançamento dos Mutirões Processuais Penais ocorreu no período da tarde. Durante o evento, também foi apresentada a Plataforma Socioeducativa (PSE), uma solução tecnológica voltada para solucionar desafios relacionados aos dados de processos envolvendo medidas socioeducativas para adolescentes que cometem infrações. A plataforma proporcionará melhor gestão dos processos, facilitando o acesso à informação e auxiliando magistrados e seus assessores no acompanhamento dos casos.

“Um verdadeiro esforço nacional para levar a prestação de serviço à população carcerária”, avaliou o desembargador Amílcar Maia, presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Além disso, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização (GMF) também apresentou ações estratégicas realizadas entre os anos de 2019 e 2023, lançando o site do GMF como uma plataforma para divulgar suas atividades e resultados.

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RN tem redução no número de feminicídios, mas aumento da violência contra a mulher

O Rio Grande do Norte teve redução no número de feminicídios, em um comparativo entre 2021 e  2022. Os dados do relatório da violência contra a mulher no estado foram apresentados no Anuário da Violência, que é elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O feminicídio é classificado como o assassinato de uma mulher pelo simples fato de ser mulher. Os motivos mais comuns são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro.

Segundo os dados do anuário, em 2021 foram registrados 20 feminicídios e no ano passado 16, o que representa uma queda de 20,3%. No que se refere a homicídios contra mulheres também houve redução. Em 2021 foram 75, enquanto no ano seguinte foram 60, representando também uma queda de 20,3%. Veja o gráfico com os números de feminicídios e homicídios em todo o país

A redução nos assassinatos de mulheres não significou, porém, a diminuição em outros tipos de violências de gênero. Segundo os dados do anuário, o número de tentativas de feminicídios no RN foi maior em 2022 do que no ano anterior. Em 2021 foram registradas 30 tentativas e no ano passado 38, uma alta de 26,2%. As tentativas de homicídio contra mulheres também aumentaram, saindo de 295 para 346, uma variação de 16,9%

No que se refere ao crime de lesão corporal dolosa contra mulheres, os números também aumentaram. Em 2021 foram registrados 1.988 casos e em 2022, 2.740  casos, o que representa uma alta de 37,3 %

Outro índice a ser avaliado foram os pedidos de medidas protetivas concedidas a mulheres vítimas de violência. Em 2021 foram 3.652 enquanto em 2022 foram 4.780, uma alta de 30,4%.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública se baseia em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civis, militares e federal, entre outras fontes oficiais da Segurança Pública. A publicação é uma ferramenta importante para a promoção da transparência e da prestação de contas na área, contribuindo para a melhoria da qualidade dos dados. Além disso, produz conhecimento, incentiva a avaliação de políticas públicas e promove o debate de novos temas na agenda do setor. Trata-se do mais amplo retrato da segurança pública brasileira.

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Mossoró está entre as quinze cidades mais violentas do país

Segundo dados  do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)., Mossoró é a cidade mais violenta do Rio Grande do Norte e uma das 15 mais violentas do país.

De acordo com os dados da pesquisa, Mossoró ocupa a 13ª posição em relação a mortes violentas no ano de 2022. O relatório aponta que 63,5 óbitos em Mossoró provenientes de violências intencionais para cada 100 mil habitantes do município.

A categoria Mortes Violentas Intencionais (MVI) corresponde à soma das vítimas de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais em serviço e fora (em alguns casos, contabilizadas dentro dos homicídios dolosos, conforme notas explicativas). Sendo assim, a categoria MVI representa o total de vítimas de mortes violentas com intencionalidade definida de determinado território. O número de policiais mortos já está contido no total de homicídios dolosos e é aqui apresentado apenas para mensuração do fenômeno

Além de Mossoró, outra cidade do RN que também aparece na lista é São Gonçalo do Amarante, que aparece em 40º, com 44.9 mortes violentas para cada 100 mil habitantes em 2022.

A região Nordeste  registou em 2022 20.122 mortes violentas, sendo que destas, 1.212 foram no Rio Grande do Norte. O número é menor do que em 2021, quando o RN teve 1.308 MVI. Pernambuco é apontado como estado nordestino com maior incidência de mortes violentas, com 3.423.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública se baseia em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civis, militares e federal, entre outras fontes oficiais da Segurança Pública. A publicação é uma ferramenta importante para a promoção da transparência e da prestação de contas na área, contribuindo para a melhoria da qualidade dos dados. Além disso, produz conhecimento, incentiva a avaliação de políticas públicas e promove o debate de novos temas na agenda do setor. Trata-se do mais amplo retrato da segurança pública brasileira.

Confira a lista dos 50 municípios mais violentos do Brasil 
Os municípios e suas taxas de homicídio por 100 mil habitantes

Jequié (BA) – 88.8
Santo Antônio de Jesus (BA) – 88.3
Simões Filho (BA) – 87.4
Camaçari (BA) – 82.1
Cabo de Santo Agostinho (PE) – 81.2
Sorriso (MT) – 70.5
Altamira (PA) – 70.5
Macapá (AP) – 70
Feira de Santana (BA) – 68.5
Juazeiro (BA) – 68.3
Teixeira de Freitas (BA) – 66.8
Salvador (BA) – 66
Mossoró (RN) – 63.5
Ilhéus (BA) – 62.1
Itaituba (PA) – 61.6
Itaguaí (RJ) – 61.6
Queimados (RJ) – 61.2
Luís Eduardo Magalhães (BA) – 56.5
Eunápolis (BA) – 56.3
Santa Rita (PB) – 56
Maracanaú (CE) – 55.9
Angra dos Reis (RJ) – 55.5
Manaus (AM) – 53.4
Rio Grande (RS) – 53.2
Alagoinhas (BA) – 53
Marabá (PA) – 51.8
Vitória de Santo Antão (PE) – 51.5
Itabaiana (SE) – 51.2
Caucaia (CE) – 51.2
São Lourenço da Mata (PE) – 50.3
Santana (AP) – 49.4
Paragominas (PA) – 49.3
Patos (PB) – 47.5
Paranaguá (PR) – 47.3
Parauapebas (PA) – 46.9
Macaé (RJ) – 46.7
Caxias (MA) – 46.5
Parnaíba (PI) – 46.3
Garanhuns (PE) – 44.9
São Gonçalo do Amarante (RN) – 44.9
Alvorada (RS) – 44.8
Jaboatão dos Guararapes (PE) – 44.6
Duque de Caxias (RJ) – 44.3
Almirante Tamandaré (PR) – 44.2
Castanhal (PA) – 44.2
Campo Largo (PR) – 43.3
Porto Velho (RO) – 42.1
Ji-Paraná (RO) – 41.8
Belford Roxo (RJ) – 41.8
Marituba (PA) – 41.6

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O perigo é a obrigação de atirar

Marco Antônio Barbosa*

Segundo a 13ª Edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, feito por pesquisadores do Fórum e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), onze em cada cem assassinatos foram causados por policiais em 2018. Somente no primeiro semestre deste ano, segundo levantamento do Portal G1, o país teve 2.886 mortes causadas por policiais. No Rio de Janeiro os números batem recorde e chamam a atenção, como no mês passado quando Agatha Moreira, de 8 anos, foi morta no Complexo do Alemão.

Mas devemos realmente culpar o policial que aperta o gatilho sem ao menos questionar as políticas públicas que o levam a obrigação de matar?

O discurso de bandido bom é bandido morto é bastante nocivo e afeta os dois lados da mesma moeda: os moradores das comunidades e os policiais.

No meio do fogo cruzado, os moradores destas localidades são as primeiras vítimas. Sem políticas públicas como incentivo à educação, saúde, moradia e saneamento básico, estes se veem à margem da sociedade e sem alternativas às favelas. Um prato cheio para o tráfico, seja para utilizá-los como mão-de-obra, seja como escudo humano.

Mas não podemos esquecer dos policiais. Com salários miseráveis, estruturas pífias e sem nenhum acompanhamento psicológico. Este último é o gatilho antes do tiro.

O Estado pinta um cenário de devastação e luta armada. Entretanto, sem inteligência e, principalmente, sem uma estratégia vinda das esferas mais altas do poder, podemos vencer uma batalha e perder outras, mas nunca acabaremos a guerra.

O que faz o governo achar que subindo o morro acabarão com o tráfico? As plantações de coca e maconha estão em cima das favelas? Como essa droga chega até a comunidade? Primeiramente seria importante ter uma política integrada de combate nas fronteiras, mapeamento do dinheiro e contas bancárias do tráfico. Aí está o ‘x’ da questão. A luta no front é um paliativo. Corta-se a cabeça do dragão, mas nascem outras. É preciso atingir o coração.

Outro ponto é a forma como é instruída a nossa polícia. Ela precisa ser educativa em um primeiro momento para depois ser repreensiva. Em um local permeado por bandidos e inocentes é preciso muito sangue frio para distinguir e prender antes de atirar. É importante salientar que atirar deve ser uma prerrogativa, mas não a primeira.

O problema de prender no Brasil é colocar esses criminosos em cadeias lotadas que servem como Universidades do Crime. Entra um ‘aviãozinho’ e sai um traficante inserido em uma facção criminosa. O sistema judiciário precisa agir rapidamente e auxiliar a polícia. Investigação, prisão e punição para inibir e dificultar o crime organizado, que não tem esse nome por acaso. Sempre se reinventa nas brechas do sistema. Por isso, o sistema precisa ser rápido e flexível também, fugindo das burocracias.

Dentro de todas as dificuldades, existe o policial que acredita estar em uma guerra onde ele é o lado do bem, munido do discurso ‘atira primeiro e depois pergunta’, sem salário, sabendo que o lado mal está armado e não vai perdoá-lo. O cenário para um massacre de inocentes está montado.

O governo deve orientá-los e não os incentivar. Dar alternativas. A responsabilidade de atirar mata inocentes, mata a sociedade e mata também os policiais. Todos perdem. Somente ganha quem realmente controla o crime organizado. E estes não estão nas comunidades, mas sim no poder.

*Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança.