Por Ailson Fernandes*
Admirado e odiado por muitos, há de se observar na obra, que tudo contribuía para caracterizá-lo como grande orador: Voz, Lirismo, Erudição, Ironia, Sarcasmo e o revide Franco e rápido.
Com o poder da oratória e a forte influência que exercia no congresso participou com austeridade da deposição de Vargas em 45, como autor da entrevista com José Américo de Almeida que rompeu a censura do Estado Novo (37-45).
Foi a figura principal que levou ou concorreu para levar Getúlio ao suicídio, depois do escândalo do “mar de lama”, não só pelos ataques ao Presidente, mas a verborragia que insultava o filho, o irmão e, principalmente Gregório Fortunato, homem de confiança de Vargas, que era o “negro espadaúdo e alto” como era chamado pelo Presidente.
Lacerda com um latifúndio de tempo nas tvs da família Marinho e bastante cartaz com Assis Chateaubriand.
Denunciava vorazmente escândalos de corrupção dizendo que O chefe da segurança do presidente, Gregório, enricara cobrando propina dos empresários que tinham contrato com o governo federal.
Ato contínuo veio o famoso atentado da Rua Toneleros onde pistoleiros contratados tentaram matar Lacerda, na troca de tiros, morreu o Major Rubens Vaz, da Aeronáutica. Importante abordar que Lacerda soube tirar proveito do caso, e muito, e capitalizou se popularmente. Segundo exames de balística o tiro que matou Rubens Vaz foi disparado da arma de Lacerda. Por ser militar, e para livrar Lacerda de uma possível execração pública e de responsabilidade criminal, a polícia da aeronáutica avocou a competência das investigações pela própria aeronáutica, como descrevem escritores e jornalistas como Carlos Heitor Cony, Rubem Fonseca e Samuel Wainer, desafeto de Lacerda. Esse fato de avocar a competência para a polícia da aeronáutica, fortaleceu ainda mais a “República do Galeão”.
Depois de Vargas, Lacerda continuou algoz de mais 2 presidentes:
* Jânio Quadros renunciou meses após a posse depois de várias denúncias feitas por Lacerda, já como Governador da Guanabara, de que a presidência estava articulando um golpe com finalidade de dar a Jânio poderes ditatoriais. Com a renúncia o Vice-presidente eleito, João Goulart, não era da sua chapa eleitoral- mas do PTB, adversário da UDN de Lacerda.
Lacerda e “a banda de música da UDN” tentaram impedir a posse de Jango. O que fez Leonel Brizola, aliado de Jango, e eleito Deputado Federal pela Guanabara em 62, ameaçar colocar 10 mil bois na estrada e invadir Brasília. Pois bem! Não aconteceu o golpe, naquele momento e Goulart assume a presidência.
* Juscelino dos presidentes eleitos à época foi o que menos sofreu com os ataques de Lacerda.
* Mas seu sonho golpista, como ele assumia, consumou-se com Jango. Uma série de factoides, a começar pela visita de Che Guevara ao Brasil. A ameaça comunista. O Brasil seria uma nova Cuba. Aí, até políticos antilacerdistas como Juscelino, Ulisses Guimarães e outros, votaram no colégio eleitoral em Castelo Branco. Juscelino inclusive indicou o mineiro José Maria Alkimin como vice. Lacerda e Juscelino tinham habilidades políticas, mas eram ingênuos e acreditaram que os castelistas realizariam eleições diretas em 65. Onde os principais candidatos seriam os dois.
Tancredo Neves, raposa velha da política nacional foi contra os militares no colégio eleitoral e disse a Juscelino: “Esse voto vai lhe custar caro”. O resto da história a gente já sabe.
Carlos Lacerda o mais brilhante dos oradores do País foi vitorioso em vários momentos, mas depois que saiu do governo e passou a se opor ao regime de mentiras, foi preso e teve os direitos políticos cassados em 68.
Depois foi ao Uruguai formar uma frente ampla com Jango, Brizola e Juscelino. A frente foi formada, apenas Brizola não aceitou. E ficou fora.
Juscelino morreu antes do final da Ditadura, Lacerda em 77 no ostracismo, sem ter um imóvel para morar, abandonado pela esposa e filhos, sem receber a visita sequer de Paulo Francis e Nelson Rodrigues, dois lacerdisras históricos.
Brizola que não participou retornou em 82 e foi eleito Governador do RJ, em 90 novamente eleito Governador do Rio e ainda elegeu o companheiro Darcy Ribeiro Senador, sem contar que ainda ia ao RS fazer campanha e ajudou eleger o Pedetista Alceu Collares Governador.
Mas voltemos a Lacerda. Um fato que deve ser destacado era a amizade e confiança que ele tinha pelo Norte-rio-grandense Aluízio Alves, colegas de parlamento e de jornalismo. Lacerda chamava Aluízio de DBS – Departamento do Bom Senso. Por conta de muitas coisas que Alves evitou que Lacerda falasse.
O corvo também não escondia de ninguém a admiração pela capacidade de Fidel Castro passar quase 7 horas falando e prender atenção do povo. Muitos consideravam Lacerda orador mais flamejante que O ditador Cubano, mas Lacerda reconhecia que não conseguia passar aquela quantidade de tempo falando sem repetir quase nenhuma frase.
Enfim, Lacerda deixou uma série de frases cunhadas. A mais admirada delas é a que diz: “O senhor Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.
Mas eu, como leitor e admirador do seu talento e tirocínio político, confesso que gosto de uma frase que ele diz: “EU TENHO A MEMÓRIA MAIS LONGA QUE A PRÓPRIA VIDA”. Modéstia à parte, essa frase se parece demais comigo.
A mensagem e reflexão que deixo nesse texto é que mesmo sendo brilhante todos nós somos passíveis de erros. E Lacerda cometeu erros fatais.
Uma tese que ele defendia abertamente e custou caro, era que “A maioria era apenas um critério aritmético, mas nunca um juízo de valor. Defendia na tribuna do parlamento que nem sempre a maioria tem razão, para ele, num País do nível cultural do Brasil, vulnerável à propaganda ideológica e à mistificação, quase nunca a maioria tem razão.
Essa frase era interpretada como uma forma de iniciar uma jornada golpista. E afastou muita gente dele.
Encerro dizendo que admiro a arte dele. Cometeu erros, mas sem favor ou dúvida, foi o maior tribuno do País.
Tenho dito!
*É bacharel em direito.
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