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Academia de quê?

Por Caio César Muniz*

Não é de hoje que aas Academias de Letras ganham destaque pelas suas mancadas, a começar pela maior (a Brasileira), descendo para outras agremiações descentralizadas pelos Estados e mais ainda pelos municípios brasileiros que ousaram criar este tipo de clubes restritos e que, em muitos casos, pouco tem a ver com Letras ou Artes a não ser em ser um ajuntamento de senhores e senhoras já na chamada melhor idade e que não possuem mis fôlego para produzir nada, ou quase nada.

A casa de Machado de Assis tem deixado escapar reiteradas vezes nos últimos tempos a oportunidade de se redimir da sua característica amorfa e empolada, da sua branquitude destoante da cor de um dos seus maiores nomes, o próprio Machado, e se recusou à presença da pesquisadora negra Conceição Evaristo, do indigenista Daniel Munduruku e há poucos dias do quadrinista Maurício de Oliveira.

A Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL), casa que já abrigou nomes importantes do Estado como Dorian Jorge Freire, João Batista Cascudo Rodrigues, Vingt-un Rosado, Oswaldo Lamartine e Câmara Cascudo, empossou no último dia 08 a professora e pesquisadora das artes plásticas Isaura Amélia, passando por cima do seu próprio estatuto, que reza que para adentrar aos seus umbrais é necessário a publicação de uma obra literária, Isaura não tem, apesar disto não diminuir a sua importância enquanto artista e enquanto alguém com currículo para estar ali.

Isaura substitui o nome contestável do ex-governador e político potiguar Geraldo Melo, que, apadrinhado pelo eterno presidente da ANL, o advogado Diógenes da Cunha Lima, integrou os quadros da Academia por pouco tempo.

Agora, recebe-se a notícia de que o prefeito de Natal, o político Álvaro Dias foi eleito para aquela Casa. Um homem sem qualquer ligação com arte, com cultura, com Letras, um negacionista. Neste último quesito, não estranho, o presidente perpétuo tem todas as características de quem comunga do mesmo pensamento obscuro da anti-ciência.

Aqui, na AMOL, o também secular presidente, fez lobby pela não entrada do poeta Antonio Francisco, alegando que o vate da Lagoa do Mato não iria seguir “os ritos acadêmicos”: usar sapatos, paletó, fardão etc. Nisto ele estava certo, mas Antônio vale mais do que a AMOL todinha.

Penso que talvez a entrada destes nomes na ANL seja uma tentativa de Diógenes de amealhar finanças para a Academia adulando estes nomes “de peso” da política estadual. Só pode ser. Nem Geraldo Melo, muito menos Álvaro Dias acrescentam nada a instituição, e estas, que deveriam, em tese, ser representantes da inteligência de um povo, vai se mostrando que também pode representar os ignorantes.

*É Poeta e jornalista.

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