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Depoimentos relatam o drama das famílias das crianças que foram matriculadas longe de casa ou ficaram sem estudar em Mossoró

Toda Mossoró tomou conhecimento da ação que pede indenizações que totalizam R$ 30 milhões para as crianças que ficaram sem estudar ou foram matriculadas em escolas distantes de casa. O Fundo da Infância e da Adolescência (FIA) também é beneficiário do pedido formulado pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte.

O que falta Mossoró tomar conhecimento é das histórias contadas por mães e avós sobre o drama.

Fátima Raquel Araújo, mãe de uma menina de 12 anos, conta que não conseguiu vaga para a filha na Escola Municipal Manoel Assis sendo orientada a matricular a menina na Escola Municipal Maurício Fernandes na Leste Oeste. Para assistir aula era necessário caminhar 25 minutos do Boa Vista até o Centro onde pegava uma carona a conhecidos. Isso fez a menina perder a atividades de contraturno como educação física.

Não havia dinheiro para custear o transporte diário.

Magela Fernandes Costa, mãe de um menino de 15 anos, conta que a exclusão digital deixou o filho sem estudar em 2020 por não ter celular e internet. Sem vaga na Escola Municipal Dolores do Carmo Rebouças em 2022, as opções apresentadas eram todas longe de casa, no bairro Quixabeirinha. Ele ficou sem estudar, ajudando a mãe nas tarefas domésticas.

Maria Jossineide da Costa, avó de um garoto de 12 anos, disse que não conseguiu efetuar a matrícula por conta da instabilidade na internet e quando foi a escola escutou a diretora dizer que não podia fazer nada.

Ana Paula dos Santos, mãe de uma menina de 7 anos, conta que a menina está há três anos sem estudar, em 2020 e 2021 por causa da pandemia e 2022 por falta de vaga. Este é um caso de uma situação que envolve escolas da rede estadual e municipal.

O caso mais dramático é o do filho de Tayres Braga da Costa, mãe de um menino autista de 5 anos, que após não conseguir matricular o filho de forma on line e ao ir a Secretaria Municipal de Educação conseguiu uma vaga que durou apenas três dias porque ela não conseguiu entregar a documentação no prazo. Em 2023, tentou matricular a criança na Escola Municipal Elineide Carvalho, mas a tentativas eram recusadas porque o filho é uma pessoa com deficiência.

Essas são apenas algumas histórias que diante da falta de entendimento levou o Ministério Público a entrar com uma ação civil pública contra o município. Ainda foi encaminhada uma notícia-crime apontando indícios de crime de responsabilidade por parte do prefeito Allyson Bezerra (SD) para ser avaliado na Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ).

PS: as histórias foram extraídas dos depoimentos prestados ao Ministério Público.

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Ciclo de Estímulo Vs. Evasão Escolar

 

Por Marcos Paim*

Que a evasão escolar é um problema sistêmico no Brasil, infelizmente já sabemos há algum tempo. O mais recente Censo Escolar elaborado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) aponta para mais de dois milhões de crianças e adolescentes fora das salas de aula. E o maior problema está no Ensino Médio, que compreende os anos finais do currículo estudantil básico: 1,3 milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos não está na escola.

Não bastasse isso, neste mês surge mais um dado preocupante. Segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) sobre educação, divulgada no último dia 19 de junho, 23% dos jovens brasileiros não estuda e tampouco trabalha. Isso significa mais de 12 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos sem qualquer atividade: um quarto dessa população. O porcentual é ainda mais elevado na faixa “universitária”, de 18 a 24 anos, quando teoricamente poderiam estar fazendo algum bacharelado, iniciando uma especialização ou se inserindo no mercado de trabalho: 27,7%.

Ora, se a Educação é fator primordial para a geração de uma sociedade mais justa, mais segura, mais participativa politicamente, mais ativa na busca por uma melhoria de vida sem recorrer a subterfúgios escusos, então o Brasil, claramente, terá sérios problemas para progredir enquanto coletividade e também disciplinarmente. Afinal, se não somos um país capaz de reter alunos em sala de aula ou mostrar aos jovens a importância de um ofício, então – pedindo licença para usar uma figura de linguagem bem atual e moderna – “falhamos miseravelmente”.

Muitos fenômenos podem explicar o fracasso do Brasil nesta questão: a falta de estrutura das escolas (em muitas situações até básica, como lousa e giz, por exemplo), a qualidade do ensino, os níveis de aprendizado, a progressão sem a real absorção do conhecimento e, por último, mas não menos importante, a formação dos professores.

Docentes estimulados, formados e capacitados poderiam diminuir substancialmente a estatística trazida pela Pnad neste ano. Formar-se-ia um ciclo positivo em torno do futuro do Brasil no que tange à Educação: melhores professores, alunos mais estimulados. Melhores professores, escolas com índices de ensino mais apurados. Melhores professores, mais gente encorajada a um futuro na pedagogia. E, com melhores professores no futuro, o ciclo recomeça.

Chegar ao professor, entretanto, é um dos caminhos que precisamos percorrer. Ainda há de se passar por uma boa gestão educacional, oriunda, evidentemente, do poder público – representado por MEC (Ministério da Educação), secretarias estaduais e municipais e suas respectivas coordenadorias pedagógicas. Há de se passar pela solidificação de um currículo escolar adequado a instituições públicas e particulares, sem fazer distinção de classe social. E há de se passar por uma escola preparada para lidar com crianças e jovens de diferentes criações, pensamentos, ideologias, valores e princípios, para não perder estudante de vista e dá-lo o suporte necessário também enquanto ser humano.

E, quando falamos em valorizar o trabalho dos docentes, não significa apenas dá-los a oportunidade de formação universitária adequada (e até continuada) ou pagá-los salários dignos. Isso seria apenas a garantia do básico. O docente é o profissional responsável por conseguir incutir o conteúdo programático na cabeça dos alunos de forma assertiva: não se trata de fazê-los decorar, mas, sim, de fazê-los compreender. E há urgente necessidade de dar ferramentas aos docentes para facilitar essa tarefa.

Fomentar a absorção do conhecimento com aulas práticas, como faz a ONG Educando por meio do programa STEM Brasil, é oferecer ao professor a oportunidade de dar o segundo passo no “Ciclo do Estímulo”. O primeiro é garantir tal mecanismo ao próprio docente. Conectar tradicionais matérias a habilidades “mão na massa” torna o aprendizado muito mais atraente e engajador, tanto para os profissionais de ensino quanto para os alunos.

Apoiar professores com formações que conectem conteúdo escolar à realidade – deixando claro sua aplicação prática no dia a dia – aliado a oportunidades de iniciação à pesquisa e desenvolvimento de projetos, faz com que eles virem estrelas. Primeiramente aos olhos dos alunos e, em seguida, da sociedade. Combater as evasões escolar e do mercado de trabalho é papel também dos professores. E o protagonista, responsável por oferecer a arma do “Ciclo do Estímulo” é o próprio Brasil.

*É professor e diretor do programa STEM Brasil da ONG Educando.