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Reportagem especial

Há 80 anos Vargas recebia Rooselvelt em Natal para fazer a Conferência do Potengi. O RN ganhava destaque na II Guerra Mundial

Há 80 anos Natal se tornava protagonista internacional com a Conferência do Potengi que decidiu uma série de estratégias envolvendo o Brasil na II Guerra Mundial. Naquele dia a pronvinciana capital do Rio Grande do Norte recebia o Franklin Delano Rooselvelt, o presidente estadunidense.

O ditador Getúlio Vargas, que flertou com os nazistas, acabou se alinhado as potências democráticas e o encontro em Natal, cidade considerada estratégica, formalizou a aliança.

O Brasil rompera relações com os países do eixo (Alemanha. Itália e Japão) em janeiro de 1942 e nos sete meses seguintes 20 navios foram alvos de bombardeios dos alemães, levando mais de 700 brasileiros a morte. A pressão para o país entrar na guerra era grande na opinião pública.

Mas faltava um entendimento com os aliados (EUA, URSS, Franças, Reino Unido e China), o que viria ter como marco a Conferência do Potengi há oito décadas.

Na provinciana Natal, que estava longe do protagonismo nacional desde 1935 quando aconteceu o fracassado levante comunista (saiba mais AQUI), ninguém imaginava que naquele 28 de janeiro dois dos maiores líderes da história estariam na capital potiguar.

Nem o então governador do Rafael Fernandes imaginava.

Ele foi convocado para ir sozinho a base naval e quando chegou lá teve um susto ao se deparar com os dois chefes de estado. “No encontro foi confirmada a utilização de Natal como base para a conexão de tropas americanas e discutido o plano de prevenção de prevenção quanto a um possível ataque nazista no Hemisfério Sul a partir de Dakar, no Senegal. Também foi acertado o envio de tropas brasileiras ao front”, diz trecho do livro Natal do Século XX de Carlos Pinheiro e Fred Rossiter.

Assim foi montado na capital do Rio Grande do Norte o principal quartel general do Hemisfério Sul durante a Segunda Guerra Mundial.

Natal foi escolhida por conta de sua localização geográfica, sendo uma das cidades brasileiras mais próximas da África. Na época eram “apenas” oito (atualmente são três) horas de voo até Dakar levando soldados e armas para lutar no Norte do continente.

O movimento era tão grande que Natal que no dia 28 de janeiro tinha 36 mil habitantes dobrou de tamanho ao longo da participação na Segunda Guerra.

O papel de Parnamirim

A principal base área do Brasil na Segunda Guerra Mundial estava na cidade hoje conhecida como Parnamirim. Não é por acaso que a cidade da Região Metropolitana de Natal é conhecida como “Trampolim da Vitória”.

Em 1943 a cidade tinha um dos aeroportos mais movimentados do mundo com pico de 800 pousos e decolagens por dia.

Em um curtíssimo período foi construída uma estrada ligando Natal e Parnamirim e a base aérea, conhecida como “Parnamirim Field”. Mais de 6 mil trabalhadores fizeram o serviço.

Natal e Parnamirim foram palcos de atos de espionagem alemã entre 1943 e 1944. Foi necessário instalar um escritório do FBI em Natal que formulou mais de 400 relatórios para Washington identificando mais de uma centena de potiguares e estrangeiros que mantinham simpatia com os nazistas e colaboravam como espiãs.

PS: Esta reportagem é apenas um recorte do fato histórico, mas uma vasta bibliografia sobre a presença estadunidense na capital para quem quiser conhecer mais sobre o período. Parte dela foi consultada para este material.

Bibliografia consultada:

Contribuição Norte-Americana à Vida Natalense. Autor: Protásio Pinheiro de Melo.

Natal do Século XX: memória, fatos e fotos marcantes. Autores: Carlos e Frede Sizenando Rossiter Pinheiro

Natal, USA: II Guerra Mundial: a participação do Brasil no teatro de operações no Atlântico Sul. Autor: Lenine Pinto.

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Ao lembrar morte de Getúlio Vargas, senador critica planos de privatização da Petrobras

Jean Paul Prates demonstra temos com proposta de privatização (Foto: cedida)

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) criticou duramente o governo Bolsonaro, nesta quinta-feira, 22 de agosto, pela disposição em vender a Petrobrás até 2022. Ao lembrar o suicídio de Getúlio Vargas, que ocorreu em 24 de agosto de 1954, o parlamentar cobrou uma posição das Forças Armadas e recordou o papel decisivo do Exército na criação da empresa e na formulação da política de energia desenhada no Brasil pelo Estado Maior ainda nos anos 30.

Ele destacou que Getúlio foi o presidente da República mais influente e popular do Brasil no século 20 e que sua morte marcou profundamente a história do país. “O gesto dramático – um tiro no peito – foi o último esforço para barrar a sanha golpista que varria o Brasil naquele período”, disse. “Sua morte mudou o curso da história do país e adiou o golpe por quase 10 anos”. Ao traçar um paralelo entre o legado de Getúlio e o momento presente que o país atravessa, Jean Paul disse que o país vive um retrocesso. “Vivemos o presente das queimadas, do desmatamento, da fome nas cidades e da violência nas ruas”, listou. “O presente das privatizações e da entrega do patrimônio público”.

O senador fez um diagnóstico da gravidade da crise atual. “O futuro que se avizinha com este governo é sombrio”, disse. “E isso ocorre, ironicamente, com o governo com o maior número de autoridades egressas das Forças Armadas e o próprio presidente da República é um capitão do Exército”. E lamentou: “Este mesmo Exército que foi vital para tirar a Petrobras do papel ainda nos anos 40 e transformá-la na maior empresa do Brasil e numa das mais importantes do mundo”.

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IRONIA DA HISTÓRIA

Segundo Jean Paul, o silêncio dos militares, do agronegócio e da indústria ante o desmanche da Petrobras é grave. “A amarga ironia dos nossos tempos é que os militares, defensores da criação da Petrobras e que lutaram – dentro e fora do governo e do Brasil – em defesa dos interesses nacionais, hoje estão calados quanto ao destino do país e da empresa”, ressaltou.

“Nos 65 anos da morte de Getúlio, o Brasil parece retroceder no tempo. Neste dia 24 de agosto, sábado próximo, o mais notório sucessor e herdeiro de Getúlio, o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, hoje o mais influente político brasileiro no mundo, está preso injustamente, condenado sem provas e em um processo que, sabe-se agora, por conta das revelações da imprensa, repleto de ilegalidades, vícios e fraudes”, discursou. “Daí que é preciso denunciar os ataques à soberania e dizer que a solução para o país está numa cela. Lula está preso, mas não está morto. Muito menos sua sensibilidade e suas realizações”.

O parlamentar destacou a importância do papel de militares, inclusive dos generais que estimularam e defenderam, nos anos 30, 40, 50 e 70, a criação da estatal, acreditando na possibilidade de explorar petróleo no Brasil. “Difícil encarar o fato de que o Exército do General Horta Barbosa, do General Felicíssimo e do General Geisel, de tanto nacionalismo, esteja silente ante os desmandos e ataques à soberania nacional”, disse. Ele lembrou que, nos anos 30, ninguém acreditava que existia petróleo no país.

Ele destacou que, em setembro, será lançada a Frente em Defesa da Soberania Nacional. “A luta contra os desmandos nos obriga a nos mantermos alertas e firmes. Não percamos a esperança”, disse. “Como em outros momentos da nossa história, os democratas estarão mais uma vez reunidos”. Jean Paul saudou a iniciativa dos partidos, parlamentares, estudantes, trabalhadores, militantes sociais e representantes de entidades da sociedade civil em torno da “frente das frentes”.

SOBERANIA AMEAÇADA

Da tribuna do Senado, ele denunciou que o Brasil assiste, atônito, a um governo cujo único propósito parece ser a destruição da débil política de bem-estar social, desenhada pela Carta de 1988. “Entregar nossas riquezas e se colocar na posição subalterna ante os Estados Unidos parece ser a missão atual”, advertiu. O senador disse que Bolsonaro faz um governo para atacar a soberania. “Ignora o sofrimento do povo, arranca do orçamento qualquer investimento em saúde, educação e cultura”, criticou. “Em nome do mercado, promete entregar empresas como a Eletrobrás e a Petrobrás, os Correios e bancos públicos”.

E alertou: o petróleo é o alvo. “O Brasil hoje acumula mais de US$ 1 trilhão ­– um trilhão de dólares – em reservas de petróleo apenas no pré-sal”, destacou. “Em maio, bateu recorde de produção diária de quase 3,5 milhões de barris de petróleo equivalente – óleo e gás. Mesmo com todos os problemas recentes e sofrendo toda sorte de ataques, a Petrobras está entre as 10 maiores petrolíferas do mundo. É patrimônio do povo brasileiro”.

O senador advertiu que a política de desinvestimento da Petrobras, com a entrega de subsidiárias, promovida pelo governo Bolsonaro, é um erro. “E não apenas estratégico, mas porque os valores são ridículos e etéreos”, afirmou. Ele destacou o fato de o Congresso ser ignorado e as vendas de subsidiárias – como os gasodutos, a distribuidora e as refinarias – são anunciadas sem qualquer discussão no Parlamento. “Pior. O ministro Paulo Guedes já fala abertamente na privatização da Petrobrás, e Roberto Castello Branco, o presidente da empresa, defende o fim do regime de partilha do pré-sal”.

“Fala-se pouco, mas é preciso ter clareza. A disputa por petróleo é o que define a geopolítica no mundo. É por causa do petróleo e do pré-sal que Dilma Rousseff e a Petrobras foram alvos de espionagem da NSA, a agência de segurança dos Estados Unidos”, lembrou. Ele também argumentou que é por causa do petróleo e do pré-sal que a Lava Jato, sob a desculpa de travar guerra contra a corrupção, atacou a Petrobras. O parlamentar disse que a empresa foi induzida a forjar um acordo com o Departamento de Justiça americano e obrigada ainda a pagar R$ 2,5 bilhões a serem administrados por um fundo privado, além da multa de US$ 682,5 milhões a investidores americanos.

Jean Paul destacou que o petróleo é estratégico para as nações e ainda hoje é um dos mais importantes recursos no planeta. “O ouro negro é o que mantém girando a roda da economia mundial”, lembrou.  “A cada ano, o mundo bate recorde no consumo de petróleo e, em 2019, vai superar a marca diária de 100 milhões de barris”, apontou. Poucas nações têm reservas para enfrentar um futuro que assegure um caminho de desenvolvimento econômico e social. “Este é o tabuleiro da guerra assimétrica que o Brasil enfrenta”, concluiu.

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Artigo

“A Síndrome de Sugar Baby” dos presidentes: de Getúlio Vargas a Jair Bolsonaro

Por Anne Viana

Para os brasileiros, um presidente e uma primeira-dama com grande diferença de idade não é uma novidade. O presidente Jair Bolsonaro, de 64 anos, conheceu Michelle, de 37, em 2006. À época, ela tinha 24 anos e o atual presidente, 51 anos de idade. Aos quinze anos, Darcy Sarmanho casou-se com Getúlio Vargas. Mas, no ano em que o casal completaria bodas de prata, Vargas se apaixonou por Aimeé Lopes, uma paranaense elegante e culta, 25 anos mais jovem. Narrativa não muito diferente de seus sucessores!

Outro político, e que também ocupou a autoridade máxima do executivo, é o ex-presidente Michel Temer, que tinha 42 anos quando Marcela nasceu. Quando se conheceram, ela era Miss Paulínia (SP) e tinha 18 anos. Ele já passava dos 60. A diferença entre os dois é de 43 anos.

Em 2004, Michelle conseguiu emprego de secretária parlamentar na Câmara. O encontro com o então deputado Jair Bolsonaro foi em 2006. Ela foi trabalhar no gabinete de Bolsonaro e depois se casaram no civil. Em 2008, o Supremo Tribunal Federal proibiu o emprego de parentes no serviço público e o deputado demitiu a mulher. O casamento, numa cerimônia evangélica, aconteceu em 2013, no Rio.

Recentemente, o romance do ex-presidente Lula, de 73 anos com a socióloga Rosângela Silva, de 40 anos ganhou o noticiário nacional. Seguindo a linha de seus antecessores, quando Rosângela nasceu, Lula já era um homem de 34 anos de idade. A diferença entre eles, é de 33 anos.

O termo “Sugar Baby” não é uma novidade – ele existe ao menos desde os anos 1920. A expressão é usada para classificar jovens se relacionam com homens ricos e bem-sucedidos.

Esse tipo de relacionamento está aparentemente em alta no Brasil. Apesar da polêmica em torno, a questão é tão normalizada que existem aplicativos parecidos com o Tinder, para que você encontre um sugar daddy. No Brasil, a plataforma Universo Sugar une sugar babies e sugar daddies.

Argumentos à parte, o fato é que o assunto levanta discussões acaloradas. Ainda assim, segundo informações do site, o Universo Sugar ganhou um público potencial, ultrapassando a marca de 600 mil participantes no Brasil.

Será que essa moda pega no Congresso Nacional?

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Reportagem

O Golpe de 64 não salvou o país da ameaça comunista porque nunca houve ameaça nenhuma

Por Alexandre Andrada

The Intercept 

Há uma farsa historiográfica que ronda a praça de maneira persistente: a tese de que que a “revolução de 64” teria salvo o Brasil da ameaça comunista.

Conversa para boi dormir.

A renúncia de Jânio Quadros em 1961, e a ascensão do seu vice João Goulart, odiado pelo partido mais conservador da época, a UDN, de Carlos Lacerda, e por parte dos militares, foi o ápice de uma cisão ideológica que perdurava havia quase 20 anos. De agosto de 1961 a março de 1964, Jango foi alvo de uma guerra discursiva que o pintou como corrupto e conspirador de uma ofensiva comunista. Era tudo fantasia.

O rolo começou em 1946 com uma briga política que se estendeu por duas décadas entre os três partidos dominantes da chamada Terceira República (1946-1964), incendiada pela UDN de Lacerda. Os udenistas, derrotados nas urnas por Vargas (1950) e depois por Juscelino Kubistchek (1955), faziam uma guerrilha com notícias e editoriais falando sobre o risco iminente de o país virar comunista sem base nenhuma na realidade.

Na Constituinte de 1946, os comunistas do PCB formavam uma bancada respeitável, com um senador – Luís Carlos Prestes – e 14 deputados. Entre esses, Carlos Marighella.

Marighella, que se tornaria mundialmente conhecido por sua guerrilha urbana e acabaria morto pela Ditadura Militar em 1969, era um congressista como outro qualquer. Fazia discurso, frequentava gabinetes, apresentava moções e tomava cafezinho com seus pares.

 O fracasso nas urnas foi transformando a UDN em uma organização golpista.

Em maio de 1947, a justiça declarou ilegal a existência do PCB e os mandatos dos comunistas foram cassados. Diante do golpe jurídico, os comunistas não apelaram para as armas. Ao longo da Terceira República, eram três os partidos dominantes. O PTB, partido de Vargas e Jango, que ocupava a porção à esquerda do espectro político; o PSD, partido centrista, que abrigava Dutra e JK, e a UDN, partido de viés mais liberal, cujo ponto central era o ódio a Vargas.

A UDN era o partido favorito da grande imprensa, de setores da classe média  e da intelectualidade nacional. Só não era o partido favorito dos eleitores. O fracasso nas urnas foi transformando a UDN em uma organização golpista. Se hoje é o “bolivarianismo” que assusta o “cidadão de bem” brasileiro, nos anos 1950 o fantasma regional era o “peronismo”.

Carlos Lacerda em comemoração pela criação do Estado da Guanabara.

Carlos Lacerda em comemoração pela criação do Estado da Guanabara (Foto: Wikimedia Commons)

Às vésperas das eleições vencidas por Vargas, o jornal do udenista Carlos Lacerda, uma das grandes figuras do partido, publicava declarações de um general, afirmando: “o governo tem conhecimento de um vasto plano subversivo organizado pelos comunistas, cuja eclosão se daria ao mesmo tempo, em todo o território nacional. O governo brasileiro está de posse de dados concretos comprovando que o sr. Getúlio Vargas mantém relações com o general Perón, presidente da Argentina”. Dizia-se que Perón financiaria o movimento “para restaurar a Ditadura” no Brasil.

Apelava-se para o medo, plantava-se a semente da paranoia. Mas Vargas saiu-se vitorioso, com 48,5% dos votos. Quando a derrota ficou evidente, a UDN optou por não reconhecer o resultado. O jornal de Lacerda trazia em letras garrafais: “Getúlio não foi eleito legalmente”. Como Vargas não obteve mais de 50% dos votos, golpistas como Lacerda e Aliomar Baleeiro passaram a insistir na tese de que a maioria do eleitorado o rejeitara. Tentam na Justiça barrar a posse de Vargas.Ficou famosa a frase de Lacerda, repetida à exaustão naqueles tempos: “Vargas não deveria ser eleito. Se eleito, não deveria tomar posse. Se tomasse posse, não poderia governar”.

Ainda que tenha feito um governo algo conservador, segundo percepção de renomados historiadores do país, Vargas não pôde governar. Em 1954, em meio às denúncias de orquestrar um plano secreto junto com Perón e de corrupção no Banco do Brasil, a UDN pede seu impeachment, que é rejeitado no Congresso.

Após o episódio da rua Toneleros – quando morreu o oficial da Aeronáutica Rubens Vaz, e Lacerda é alvejado –, Vargas é instado pela cúpula militar a renunciar à presidência. Naquela noite, mata-se com um tiro no peito. Aos se aproximarem as eleições de 1955, temendo a derrota, a UDN volta a pregar o golpe. Primeiro são denúncias contra Juscelino Kubistchek, acusando-o de corrupto. Adiante, a defesa desavergonhada da não realização das eleições naquele ano.

Em editorial de junho de 1955, Lacerda afirmava:

“Não há mais a menor dúvida: a eleição, nas atuais circunstâncias, significa a vitória dos que há longo tempo se prepararam. […] Em nome de que se pretende que toleremos a volta da oligarquia, com o seu cortejo de corrupção e violência? Sustentamos que existe, ainda, uma saída ‘legal, para a falsa legalidade que se pretende manter… A saída que existe… é a concessão de plenos poderes a um Executivo responsável, capaz de realizar as reformas preliminares de que carece a nação…”

Com a chapa JK-Jango eleita, a UDN tenta o golpe na justiça. Afonso Arinos tenta barrar a diplomação dos vencedores, argumentando que teria havido participação do PCB (ainda ilegal) na campanha dos eleitos.

Em novembro de 1955, percebendo as movimentações de um golpe orquestrado por setores civis (leia-se UDN) e militares, o general Henrique Lott põe em marcha o chamado “golpe preventivo”, garantindo a continuidade da legalidade no país.

JK consegue tomar posse e chegar ao final de seu governo, feito raro para a época. Nas eleições de 1960, a UDN decide apoiar Jânio Quadros, fenômeno político e então governador de São Paulo, mas que não fazia parte do partido.

Jânio, porém, renuncia à Presidência em agosto de 1961, jogando o país no caos. É nesse cenário que João Goulart (PTB), seu vice, torna-se presidente. Iria se tornar, na verdade. É declarado persona non grata para a segurança nacional por parte do Congresso, que se articula para impedir que o herdeiro de Vargas tome posse. Setores civis e militares quiseram impedir o cumprimento do texto constitucional. Havia o que se chamava de “veto militar” ao nome de Goulart.

No Rio Grande do Sul, começava a campanha pela legalidade, liderada por Leonel Brizola. Entre os legalistas, estavam o chefe do Exército naquela região, o general Machado Lopes. Circula a notícia que o II Exército, com sede em São Paulo, se encaminharia para o sul, de forma a desbaratar a resistência.

Havia o que se chamava de “veto militar” ao nome de Goulart.

A ameaça passa a ser não de um golpe civil-militar, mas de guerra civil. O Jornal do Brasil em editorial afirmava: “a expressão guerra civil é a única que cabe para definir o que pode acontecer, a qualquer momento, no Brasil”. Até o The New York Times alertava: “os oficiais do Exército brasileiro, que desafiaram sua Constituição e a vontade dos eleitores ao se recusarem a deixar João Goulart assumir a presidência, trouxeram seu país à iminência de uma guerra civil.”

O jornal Correio da Manhã se manifestou em editorial intitulado “Ditadura”, no qual dizia: “o manifesto dos ministros militares, coagindo o Congresso… é o golpe abolindo o regime republicano no Brasil. É a ditadura militar.”

O meio-termo encontrado foi deixar Jango assumir, mas castrado dos poderes presidenciais, graças a um parlamentarismo de ocasião. Era o golpe envergonhado. Voltavam-se a utilizar as velhas armas contra Jango: uma suposta conspiração internacional de caráter peronista, as supostas tendências comunistas do latifundiário e as alegações de corrupção.

O golpe ocorreu quase sem resistência, pois resistência não havia.

Em 1964, o deputado udenista Bilac Pinto afirmava, sem qualquer prova concreta, que Goulart preparava uma revolução, que o presidente organizava uma guerrilha armada no país. Aproveitando-se do ambiente caótico de 1964, em que se somavam a crise econômica e alta polarização política, fez-se o golpe civil-militar de 31 de março.
A suposta guerrilha de Jango, o suposto armamento em posse das Ligas Camponesas (o MST da época), a suposta infiltração comunista nas Forças Armadas, era tudo fantasia.

O golpe ocorreu quase sem resistência, pois resistência não havia. Deu-se um golpe, pois um golpe se queria dar desde 1951, pelo menos. A luta armada comunista, que jamais colocou em risco o governo brasileiro, só emergiu após a implementação da ditadura, não antes. Enfim.

Houve um tempo no Brasil no qual políticos civis não reconheciam o resultado das eleições, que não se conformavam com uma democracia na qual os eleitores elegem seus adversários.

Houve um tempo no Brasil no qual militares de alta patente se arvoravam o direito de falar de política. Tempo em que generais ameaçavam não reconhecer o resultado das urnas, caso o eleito não fosse do seu agrado.

Às vésperas das eleições de 2018, o cenário se repete.

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Artigo

Mossoró no diário de Getúlio Vargas

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Por José Romero Araújo Cardoso*

A era Vargas foi a mais longeva experiência político-administrativa do Brasil republicano, cuja gênese encontramos na vitória da revolução em outubro de 1930. O processo foi interrompido em 1945 e reiniciado em 1950, tendo seu epílogo em agosto de 1954, quando do suicídio do chefe do executivo.

A centralização enfatizada por Vargas pôs fim à fragmentação do poder entre os representantes do mandonismo local, a qual se constituiu em símbolo das estruturas montadas na república velha, conforme enfatiza MELLO (1992).

A partir de 3 de outubro de 1930, quando triunfou o movimento revolucionário encabeçado pelo Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, Vargas deu início à escrita de um diário cujo encerramento se deu em setembro de 1942, quando o Brasil já havia declarado guerra aos países do Eixo.

Este importante documento para a História do Brasil, compilado e publicado em dois volumes no ano de 1995 pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas e pela Editora Siciliano, apresentado por Celina Vargas do Amaral Peixoto, neta do estadista que marcou profundamente os novos rumos do modelo capitalista brasileiro a partir de sua posse no governo provisório em 1930, descortinam-se o dia-a-dia do governante, as relações políticas e os episódios marcantes de uma época.

A pressão exercida por São Paulo, principal centro econômico do País, resultando em tentativa revolucionária quer ficou conhecida pela pretensa defesa de uma constituinte, obrigando o governo federal a reprimir fortemente o movimento, caracterizou os rumos políticos entre os anos de 1932 e 1933.

Conforme BASBAUM (1991, p. 63), a convocação de uma constituinte e a elaboração de uma nova constituição perfaziam o panorama geral do ano de 1933. Neste ensejo, Vargas organiza visita aos Estados das regiões Nordeste e Norte, acompanhado de uma grande comitiva de políticos e jornalistas. O raid político-eleitoral do chefe do governo provisório e sua equipe dura cerca de um mês, sendo concluída em Belém (PA).

Ainda segundo BASBAUM (ibidem);

“O entusiasmo com que é recebido pelas populações do Norte e Nordeste,
Que o vêem pela primeira vez, mostra apenas o quanto as massas ainda
esperam dele, pois nada ainda haviam obtido. Mas Getúlio acredita que
aquilo significa – apoio incondicional. Assim acreditam também os futu-
ros deputados que mais tarde o elegerão Presidente da República.
E esse apoio dar-lhe-á a margem necessária para planejar a continua-
ção no poder.”

Obras importantes para o Nordeste seco, paralisadas após a conclusão do triênio Epitácio Pessoa na presidência da república (1919 – 1921), foram fiscalizadas e muitas inauguradas quando da visita presidencial. A açudagem se constituía em um dos carros-chefe da campanha presidencial encetada pela comitiva comandada por Getúlio Vargas.

Neste ensejo, Vargas faria sua primeira visita a Mossoró. Entre os circunstantes presentes que compunham a comitiva presidencial, encontrava-se assessor do Ministério de Viação e Obras Públicas de nome Orris Barbosa.

Posteriormente, o jornalista Orris Barbosa lançou em 1935, pela Adersen-Editores, do Rio de Janeiro, interessante opúsculo por título “Secca de 32 – Impressões sobre a crise nordestina”, no qual analisa desde as tentativas frustradas de implementação dos reservatórios hídricos no governo Epitácio pessoa, além de outras políticas públicas de suma importância, aos efeitos catastróficos da grande seca que teve início em 1926 com breve intervalo em 1929 e recrudescimento total em 1932, enfatizando ainda a visita presidencial aos estados do Nordeste e do Norte do Brasil.

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BARBOSA (p. 112), no capítulo intitulado “No alto sertão”, destaca a marcha batida em direção a Mossoró, frisando que a rodagem que interliga Assú à capital do oeste potiguar era regular. Destaca ainda que só à noite puderam alcançar o maior centro comercial do Rio Grande do Norte, na época, visitando, ainda o porto de Areia Branca, escoadouro natural dos produtos sertanejos.

Antes, em fevereiro de 1930, Mossoró havia sido palco de pregações revolucionárias capitaneadas pela caravana gaúcha liderada por Batista Luzardo. Até então, esta tinha sido a única oportunidade que os aliancistas haviam pregado em território mossoroense os ideais de renovação (ROSADO, 1996).

Na oportunidade, ainda não haviam galgado o poder, cujo feito foi proporcionado pelos desdobramentos trágicos da revolta de Princesa, quando do assassinato do presidente paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, vice-presidente da chapa encabeçada por Vargas no ensejo da disputa presidencial em 1930 (INOJOSA, 1980; RODRIGUES, 1978).

Conforme o Diário de Getúlio Vargas (1995, p. 238), no dia 13 de setembro de 1933 houve a partida da comitiva para Mossoró. A viagem foi feita pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. Antes, houve almoço em São Romão, num mato de oiticicas do sr. F.[Fernando] Pedrosa – vaquejada, visita à usina de algodão e à fábrica de óleo etc.

Corroborando o que Orris BARBOSA (ibidem) escreveu em seu clássico livro, Vargas destaca que até Mossoró prosseguiram de automóvel, onde houve recepção festiva, banquete e discursos.

Em edição do dia 31 de agosto de 1933, o jornal mossoroense O Nordeste, de propriedade de J. Martins de Vasconcelos, noticiou em primeira página a excursão presidencial do chefe do governo provisório pelo norte do País.

Destacava este veículo de comunicação que partia da capital federal, no dia 22 de agosto, no “Almirante Jaceguay”, a comitiva de Vargas, da qual faziam parte os ministros José Américo de Almeida e Juarez Távora, General Góes Monteiro, Comandante Américo Pimentel, sub-chefe da Casa Militar, Dr. Valder Sarmanho, da Casa Civil, bem como diversos repórteres representantes de diversos jornais cariocas.

O jornal “O Nordeste” enfatizou ainda que a convite do Interventor potiguar Mário Câmara, Getúlio Vargas visitaria Mossoró, seguindo viagem via Caraúbas, indo, antes, até Porto Franco. Finalizava a matéria jornalística fazendo louvações à campanha da Aliança Liberal e reverenciando a memória de João Pessoa.

Em 18 de setembro “O Nordeste” voltava a destacar com estardalhaço matéria sobre a visita da comitiva de Vargas, desta vez com mais ênfase devido a permanência do chefe do governo provisório a Mossoró.

Às 18 horas do dia 13 de setembro, Getúlio Vargas, acompanhado de vários membros do seu gabinete, integrando também a comitiva o Interventor Mário Câmara, o Dr. Potyguar Fernandes, chefe de Polícia da Capital, além do Dr. Gratuliano de Britto, interventor Federal do Estado da Paraíba, dirigia-se ao palacete da Praça Bento Praxedes, o qual ficou conhecido por Catetinho.

Na oportunidade, grande multidão se concentrou intuindo conhecer de perto o chefe máximo do executivo brasileiro. Conforme ainda “O Nordeste”, duas alas de alunos das escolas da cidade, estendiam-se, com o povo, do Jardim Público, até o lugar do destino, feericamente iluminado, e onde a banda de música “Santa Luzia”, em coreto adrede preparado, executou o hino nacional para o chefe de governo e sua comitiva.

Todas as repartições públicas içaram a Bandeira Nacional, em sinal de extremo respeito à ilustre visita. À noite houve cinema campal na Praça João Pessoa.

O discurso, pronunciado antes do banquete no Palacete da Praça Bento Praxedes, foi realizado pelo Dr. Adalberto Amorim, juiz de Direito da comarca. O magistrado falou em nome das classes conservadoras do município, bem como do comércio local

Em agradecimento, Getúlio Vargas respondeu ao oferecimento do banquete com palavras lisonjeiras a Mossoró, prometendo atender necessidades urgentes, a exemplo da continuação do prolongamento ferroviário, baixa nos transportes do sal e seu aperfeiçoamento e abertura de porto. Concluiu destacando a importância industrial e comercial do município potiguar.

No dia 14 de setembro houve visita de parte da comitiva à salina Jurema, localizada às margens do rio Mossoró. Às 8 horas encerrou-se a visita do chefe do governo provisório. A comitiva partiu em trem especial da Estrada de ferro, até Caraúbas, seguindo para Lucrecia e depois com destino a Sousa (PB), onde inspecionaram as obras do açude de São Gonçalo.

Quando da campanha presidencial em 1950, Vargas retornou a Mossoró. Relembrou fatos da primeira estadia demonstrando impressionante lucidez, como bem nos comprovou Raimundo Soares de Brito, presente ao encontro. Deixou o historiador estupefato ao perguntar por Jonas Gurgel, prefeito de Caraúbas quando da visita como chefe do governo provisório. Era o testemunho impecável da memória excepcional de um homem que marcou significativamente e de forma indelével a História do Brasil.

*José Romero Araújo Cardoso é Professor Adjunto do departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Escritor. Especialista em Geografia e em Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato: romero.cardoso@gmail.com.

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Lula: bandido ou mocinho?

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A prisão do ex-presidente Lula oscila na maré das intepretações. Para quem gosta dele trata-se de um preso político sem provas perseguido pelas elites. Para quem o odeia é um político preso por corrupção com provas irrefutáveis.

Tudo que gira em torno de um personagem político do quilate de Lula tem viés político. A técnica jurídica para o bem ou mal sempre ficará em segundo plano.

Mas a pergunta feita pelos ansiosos amantes da história como eu é: como será visto Lula no futuro? Será um trabalho duro para historiadores explicar o que acontece nos dias atuais.

Lula não é o primeiro ex-presidente a ter problemas jurídicos nem será o primeiro ex-mandatário do país a ficar atrás das grades. Juscelino Kubitschek, viveu isso logo após a ditadura militar (cujo golpe teve endosso do próprio) ser instaurada. Vida devassada, acusado de todo tipo de crimes contra o erário e no final o mais emblemático foi o caso de um apartamento luxuoso na Vieira Souto, um dos lugares mais badalados do país. O imóvel teria sido cedido a JK em troca de propina. No fim JK não sofreu condenações e entrou para história como o presidente que impulsionou a industrialização do país.

Outros ex-presidente também foram presos, mas por motivos diversos à corrupção.

Getúlio Vargas também entrou para história como o “pai dos pobres” e por ser o presidente que criou a Petrobras. É para muitos o maior governante da história do país. Mas sofreu ataques muito parecidos com os que Lula sofre hoje. Talvez não tenha conhecido o xilindró por ter cometido suicídio em 1954.

Mas o tempo e a história varreram os escândalos e a imagem de Vargas que ficou foi mais positiva que negativa.

Hoje Lula divide o país como Vargas e JK no passado. O tempo dirá se ele será absolvido pela história como os outros dois ou se será condenado outra vez no veredito dos historiadores.

Daqui a 20 ou 30 anos saberemos se Lula é bandido ou mocinho na história do Brasil.