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Bordadeiras que fizeram traje de Janja na posse se preparam para entrar no mercado internacional

O sonho das bordadeiras que fazem parte da Cooperativa das Mãos Artesanais de Timbaúba dos Batistas (Comart), localizada na região do Seridó, no município Timbaúba dos Batistas (RN), é levar o seu bordado para o mundo.

Uma importante oportunidade para ganhar visibilidade global foi bordar as roupas que a primeira-dama Janja usou na posse do presidente Lula, e também em seu casamento. O trabalho foi fruto da parceria que a Comart tem com a estilista gaúcha Helô Rocha, que assinou os trajes de Janja.

O bordado das mulheres do Seridó levou beleza ao conjunto de blazer, colete e calça na cor champanhe usado pela primeira-dama Janja no dia da posse do presidente Lula. Os bordados eram de plantas e flores douradas. Além da palha de junco, foram usadas peças em capim dourado, feitas pela Associação de Artesãos de Dianópolis, do Tocantins, e em capim colonião confeccionadas por artesãos de Novo Gama, em Goiás. Segundo a análise de especialistas da moda, a escolha demonstrou preocupação em valorizar a moda nacional, a brasilidade e a sustentabilidade.

No PEIEX

Em 2021, as mulheres da Comart já tinham dado um passo fundamental em direção ao mercado externo ao participar do Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), com o qual começaram a se preparar para internacionalizar seus produtos.

O PEIEX é o principal programa brasileiro gratuito voltado para a capacitação e qualificação de empresas brasileiras, de todos os portes e setores, para exportação. É realizado pela ApexBrasil em parceria com entidades executoras de todas as regiões do país. No Rio Grande do Norte, de 2020 a 2022, o programa foi executado pela Universidade Potiguar (UnP), que atendeu 191 empresas de 48 municípios, entre eles Timbaúba dos Batistas. Das empresas participantes, 15 já começaram a exportar. As demais, como o caso da Comart, participaram de rodadas de negócio com possíveis compradores e seguem em negociação.

Para a presidente da cooperativa, Valdineide Dantas, o PEIEX trouxe muito conhecimento, organização e a tranquilidade de estar pronta quando a oportunidade de vender para fora do país chegar. “Foi muito enriquecedor e estimulante participar do PEIEX. Nosso bordado no traje da primeira-dama foi como uma vitrine para nós, pois o mundo todo viu. Ficamos emocionadas, orgulhosas e ainda mais animadas de buscar outros mercados”, afirma.

Além da parceria com a estilista Helô Rocha, a Cooperativa também trabalha com outros estilistas de São Paulo e Brasília. Além disso, vendem pela internet os produtos de cama, mesa e banho, que são o carro-chefe da Comart. Segundo ela, bordar roupas foi uma inovação. Ela conta que aprendeu no PEIEX que inovar gera competitividade e que isso faz a diferença no mercado internacional.

A Cooperativa hoje é responsável pelas criações de muitas peças encomendas pela Janja e outras personalidades brasileiras. Segundo Valdineide, os pedidos internacionais também são cada vez mais frequentes. No plano de exportação desenvolvido durante o processo de qualificação para exportação, o mercado-alvo selecionado pela empresa foi a Espanha.

“Este caso é um exemplo do trabalho da ApexBrasil de ampliação da cultura exportadora no país e de capacitação de empresas de todos os portes para que elas ganhem competitividade e exportem de forma segura e planejada e, como consequência, alavanquem seus negócios e contribuam com o desenvolvimento das suas regiões”, afirma a gerente de competitividade da ApexBrasil, Clarissa Furtado.

Ela explica que a Agência apoia empresas e cooperativas de vários setores e um dos que se destaca é exatamente o da moda. Segundo ela, o segmento conta com uma enorme quantidade de produtores de pequeno porte que trazem o design, o artesanato, as culturas e a história do país para dar vida às suas criações e, com isso, se diferenciam e podem conquistar cada vez mais novos espaços no comércio internacional.

O bordado é tradição na região do Seridó. Valdineide Dantas borda desde os 11 anos e conta que aprendeu o ofício com a mãe, também bordadeira. Um terço do sustento da população de Timbaúba dos Batistas vem do bordado. O pequeno município tem 2,4 mil habitantes, segundo o IBGE, e 800 bordadeiras, segundo a Comart. A cooperativa existe desde 2003 e tem 23 mulheres associadas, com idades que variam entre 30 e 70 anos. Com a oportunidade de conquistar o mercado internacional, elas querem ser exemplo para as demais bordadeiras da região, valorizando e estimulando ainda mais a tradição local.

Sobre o Peiex

O PEIEX é oferecido pela ApexBrasil com o intuito de preparar as empresas brasileiras para iniciar o processo de exportação de forma planejada e segura. Ao longo do primeiro semestre de 2022, o Programa atendeu e qualificou 2.417 empresas, por meio da execução de 24 convênios, nas 5 regiões do país.

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Bordadeiras que costuraram roupa de Janja na posse representam um terço de cidade do RN

Juliana Domingos de Lima

De Ecoa, em São Paulo

Cerca de um terço da população de Timbaúba dos Batistas (RN) tira seu sustento ou parte dele da arte do bordado. O pequeno município localizado na região do Seridó tem algo em torno de 2.400 habitantes, segundo o IBGE, e 800 bordadeiras, segundo a Comart, Cooperativa das Mãos Artesanais de Timbaúba dos Batistas.

São de lá as cinco bordadeiras que criaram os detalhes da roupa usada por Janja na posse de Lula no domingo (1º). Durante um mês e meio — da segunda quinzena de outubro, após a vitória do presidente, ao início de dezembro —, elas trabalharam no bordado feito com palha de junco da roupa da primeira-dama.

O uso do material, inédito para elas, foi proposto pela estilista Helô Rocha, com quem as bordadeiras de Timbaúba têm uma parceria desde 2017. A dobradinha também foi responsável pelo vestido de casamento de Janja, que tinha como tema o luar do sertão, com bordados de fases da lua, estrelas, mandacarus e xiquexiques (plantas do semiárido).

“Nunca me passou pela cabeça bordar a roupa de uma primeira-dama”, disse a Ecoa Valdineide Dantas, 32, conhecida como Patinha. A atual presidente da Comart é natural de Timbaúba dos Batistas e borda desde os 11 anos. Aprendeu com a mãe, também bordadeira.

“Antigamente a tradição era passada de mãe pra filha, mas está sendo esquecida”, afirmou. Segundo ela, a maior parte das bordadeiras hoje é idosa e há poucas artesãs da nova geração. Além de gerar renda em um município, um dos focos principais da cooperativa é oferecer cursos de iniciação e aperfeiçoamento no bordado para não deixar a tradição morrer.

Traje foi inovador e sustentável

O conjunto usado por Janja na posse era composto de blazer, colete e calça, na cor champanhe e com bordados de plantas e flores douradas. Os tecidos foram tingidos naturalmente, com caju e ruibarbo.

Para o bordado, além da palha de junco, foram usadas peças em capim dourado, feitas pela Associação de Artesãos de Dianópolis, do Tocantins, e em capim colonião confeccionadas por artesãos de Novo Gama, em Goiás.

Ao vestir calça na posse, Janja rompeu com a tradição que ditava o uso de saia ou vestido pelas primeiras-damas, desafiando padrões de feminilidade e se aproximando do traje do presidente, o que, segundo analistas, sinaliza a vontade de participar ativamente do mandato.

A escolha também demonstrou preocupação em valorizar a moda nacional, a brasilidade e a sustentabilidade.

“Sempre temos uma preocupação de enaltecer o trabalho artesanal brasileiro, de procurar e mapear, ir atrás desses artesãos e colocar o holofote neles. Isso é uma coisa que a gente [da marca] tem muito prazer em fazer e que a Janja gosta muito”, disse a Ecoa a estilista Helô Rocha. Nascida em Porto Alegre (RS), ela cresceu em Natal (RN) e sua mãe e avó são da região do Seridó: “Eu cresci em torno dessas bordadeiras”.

Segundo Rocha, esse reconhecimento dos artesãos traz à marca “um valor de desenvolvimento social e que pensa no desenvolvimento dessas comunidades”. Além disso, por não ter uma produção em larga escala, a marca Helô Rocha tem práticas sustentáveis como o upcycling, reaproveitamento de todas as sobras de tecido e de peças antigas.

Encontro com Janja e Lula

Em meados de junho de 2022, pouco depois do casamento de Janja e Lula, seis bordadeiras de Timbaúba dos Batistas foram a Natal (RN) conhecer o casal.

“Tivemos uma conversa muito boa com ela e Lula, falamos até sobre cooperativismo, e depois almoçamos”, disse Patinha, que descreve Janja como “muito humana e gente boa”.

O encontro também foi importante para os rendimentos das bordadeiras. Na ocasião, Janja deu permissão para que as artesãs da Comart pudessem comercializar uma réplica da lembrança de casamento dos dois. A peça é um bordado feito em organza de seda, envolto em um bastidor, das iniciais “J” e “L”, duas constelações, o luar do sertão e a frase “o amor venceu”.

A cooperativa começou a receber pedidos depois que imagens do enfeite vieram a público.

“Todo mundo queria, mas a gente não podia revender porque era exclusivo”, disse a presidente da Comart. Com a autorização de Janja, o bordado está sendo vendido a R$ 170. Os pedidos, que podem ser feitos pelo Whatsapp, aumentaram desde a vitória e a posse de Lula e mais de 100 unidades já foram comercializadas pelas bordadeiras.