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O avesso da cena: RN o Estado mais violento e sem emprego para as juventudes é também o Estado sem jovens na política estadual

Por Paulo Henrique*

No ano de 2017 o estado do Rio Grande do Norte assumiu a posição de Estado mais violento do país. Pesquisas apontam que foram 62,8 mortes violentas por 100 mil habitantes, maior índice entre os estados brasileiros (Atlas da Violência). Esses dados de violências retratam um perfil, dos que matam e que morrem com faixa etária de 15 a 29 anos. Afinal, quem não conhece um vizinho do bairro, parente ou amigo que foi vitima ou teve envolvimento com a violência urbana?

Segundo a (PNAD) 2020, o RN possui a quinta maior taxa de desocupação do país, a taxa entre os jovens de 18 a 24 anos bateu o recorde neste mesmo ano, chegando a marca de 36%. O recorde no ano de 2012 era de 30%. Afinal, quem não conhece ou tem um jovem em sua casa desempregado (ou é esse jovem)?

Do outro lado da cena, uma pesquisa recente (2021) do IP SENSUS, apontou os 50 deputados estaduais mais citados no Rio Grande do Norte. Não é de se espantar que a maioria dos nomes citados retrata um perfil com idade média de 40+ anos, brancos, com poder aquisitivo médio/alto, declarados heterossexuais.

Como os jovens potiguares, aqueles que estão no furacão do desemprego e da violência, têm sido representados no Legislativo? O Legislativo é o lugar onde as políticas públicas em nível de estado são construídas, tem uma tendência de serem compostas por diversos segmentos e representantes da sociedade, dos 24 deputados atuais não há nenhum declarado Lgbt, negro e somente um deputado assumiu com faixa etária de 18 a 32 anos. Esse contexto reflete na falta de projetos e ações voltadas às juventudes em especial, desses jovens negros e das periferias.

É urgente que partidos e toda sociedade apoiem e estimulem uma nova geração, de jovens na política, tornando o espaço mais democrático e mais representativo!

Atualmente no estado esse espaço de representatividade parece avesso, e em tempos de crise, as juventudes buscam ocupar cada canto do sertão potiguar.

*É nutricionista e Líder do Movimento Acredito.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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Por que jovens na política incomodam tanto?

Por Pedro Gorki

Essa semana fomos surpreendidos pelas declarações do apresentador do programa de rádio “96 Minutos” Gustavo Negreiros, da 96 FM, uma emissora  de Natal (RN). Ele afirmou que uma menina de 16 anos é histérica, que “está precisando de um homem, de um macho ou de uma fêmea, pois ela precisa de sexo porque é uma mal amada”. Na ocasião também acusou a jovem de fumar maconha. Ainda sobrou para jornalistas  que, segundo Negreiros, gostam de porcaria.

Tudo isso, porque Greta Thunberg, 16 anos, ativista, fez um discurso duro em defesa do meio ambiente e criticou os dirigentes das principais nações do mundo, em evento paralelo à Conferência da ONU.  Greta Thunberg foi Indicada ao Prêmio Nobel da Paz e já discursou em eventos internacionais como a COP24, a Conferência do Clima da ONU e no Fórum Econômico Mundial. É vegana e portadora de Sindrome de Asperg, um tipo de autismo. Foi a criadora do Fridays for Future, um movimento global de estudantes em prol do meio ambiente que já contou com a participação de mais  de 1,5 milhão de jovens em mais de 100 países.

O que está por trás desse discurso machista, misógino, raivoso e cheio de ódio do apresentador Gustavo Negreiros?

Pode-se discordar do discurso de Greta, pode-se argumentar que há patrocinadores com interesses inconfessos apoiando a menina, pode-se discordar que existam eventos paralelos à Conferência da ONU. Mas não é possível ficar calado diante de um ataque como o feito por Negreiros. Porque ele não atacou apenas Greta. Ele atacou todas as mulheres e meninas que lutam por seus ideais. Ele atacou a juventude porque acha que ela não tem o direito à palavra, não tem direito a opinar. Onde o discurso de Greta tem a ver com a sua vida sexual? O machista não se contrapôs, não contra-argumentou ao que ela disse. Não. Ele tentou desqualifica-la da pior maneira possível. Não buscou argumentos para debater meio ambiente com ela. Falou sobre seu corpo, sua sexualidade. Para essa criatura, jovens e mulheres não têm o direito de opinar e de ocupar o espaço público.

Nós, que representamos os estudantes brasileiros, repudiamos de forma veemente essas declarações, esse comportamento desrespeitoso e nos sentimos como Greta se sentiria se ficasse sabendo que, no Brasil, em pleno século 21, um radialista usa uma concessão pública para atacar com seu ódio misógino quem defende um mundo mais justo. Nos sentimos atingidos e no direito de reafirmar que esse tipo de declaração não nos calará nem nos colocará na defensiva. Vamos continuar denunciando as injustiças, lutando pelo meio ambiente, pela educação de qualidade e pelos direitos da juventude e das mulheres.

Felizmente, a reação da sociedade às infelizes declarações foi forte e rápida. As empresas retiraram o patrocínio ao programa, o apresentador foi demitido e temos a opinião de que deveria ser processado, porque foi muito além do direito à liberdade de expressão.

A Associação de Juristas Potiguares pelo Democracia e Cidadania (AJPDC) veio a público por meio de uma nota, repudiar a fala de Negreiros, que também é advogado. Diz a nota que “a fala misógina disfarçada de opinião evidencia a necessária e urgente desconstrução dos estereótipos machistas e o debate  sobre a discriminação da mulher na sociedade, especialmente, no nosso país”.

Esse episódio de preconceito geracional e misoginia tem que ser pedagógico e ensinar pra Natal e pro Brasil que o povo não aceita mais essas atitudes. Sabemos que esse não foi o primeiro caso de machismo na mídia, mas nossa batalha e pressão é pra que seja o último.

 

*É presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas