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Conveniência política dita relação entre Bolsonaro e a Lava Jato

Por Bruno Boghossian*

Jair Bolsonaro extraiu benefícios eleitorais da avalanche produzida pela Lava Jato, mas nunca foi um político particularmente interessado no combate à corrupção. Como deputado, não deu atenção ao tema e, na última campanha, só falava da roubalheira para fustigar seus adversários na disputa.

A rigor, o presidente não tem vínculos diretos com a operação. Como circulava no baixíssimo clero da política, não figurava entre os alvos que operavam nas estatais investigadas. Depois de chegar ao Planalto, não trabalhou a favor das forças-tarefas nem lançou uma discussão séria para corrigir seus excessos.

Os movimentos de Bolsonaro em relação à Lava Jato e ao combate à corrupção, de maneira geral, seguiram basicamente conveniências particulares e políticas. A ficha só caiu quando o presidente enxergou investigadores no encalço de seus parentes e de seus novos aliados.

Depois de pegar carona no discurso da operação e de aproveitar sua retórica moralista para eleger um governador no Rio, Flávio Bolsonaro resolveu acordar. Em agosto, ele celebrou as decisões do procurador-geral Augusto Aras para impor limites à operação e disse que “os excessos precisam ser investigados”. Se Fabrício Queiroz não tivesse passado alguns dias na cadeia, talvez o senador não tivesse percebido nada disso.

A desenvoltura com que o clã presidencial passou a falar da operação é respaldada pelos políticos que sobreviveram a ela. O novo líder do governo, Ricardo Barros (Progressistas), já disse que vê “uma parcialidade na posição da Lava Jato” e que a operação tirou o ex-presidente Lula da eleição de 2018. “Não precisamos fazer muito esforço para perceber ativismo político”, declarou.

Acuado por críticas que ligam a indicação de Kássio Nunes para o STF a um acordo para enterrar a Lava Jato, Bolsonaro tentou fazer piada. Nesta quarta (7), ele disse ter acabado com a operação “porque não tem mais corrupção no governo”. A Lava Jato pode até não incomodá-lo, mas seus esforços são inegáveis.​

*É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

 

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Bolsonaro falou a verdade; ele está acabando com a Lava Jato

Foto: Adriano Machado/Reuters

Por Tales Faria

A pergunta que fica no ar é: como vão reagir os bolsonaristas de raiz?

Bem, a primeira vez que ouvi falar em estelionato eleitoral foi em 1986, após as eleições daquele ano.

O Plano Cruzado estava esgotado, a equipe econômica do então presidente, José Sarney, elaborou uma série de medidas de ajuste com forte aumento de impostos que viriam a ser conhecidas como o Cruzado 2.

Eram medidas impopulares, então Sarney deixou para depois. E seus aliados puderam ir para as eleições de governadores, naquele ano, dizendo que nada ocorreria contra a vontade do eleitorado.

Logo que as urnas se fecharam, foi lançado o tal Plano Cruzado 2 com as medidas impopulares planejadas anteriormente. Foi aí que ouvi falar pela primeira vez em estelionato eleitoral.

Segundo os manuais de política, isto ocorre quando o candidato vai para a campanha com um discurso oposto ao que de fato fará após as eleições.

Pois bem, o presidente da República foi para a campanha eleitoral de 2018 com a defesa ardente da Operação Lava Jato, então comandada pelo juiz Sergio Moro, de Curitiba.

A Operação começou atirando no PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas acabou se espraiando pelos aliados do partido no Congresso.

Especialmente aqueles que compunham o centrão, na época comandado pelo deputado Eduardo Cunha, do MDB do Rio de Janeiro, com quem Bolsonaro se dava muito bem.

O atual presidente da República sempre foi do centrão, mas fazia campanha dizendo-se o arauto de uma nova política, contra aqueles velhos métodos, grudado na popularidade da Lava Jato e de Sérgio Moro.

Bolsonaro fez juras de amor à Lava Jato antes das eleições

Escrevia posts em que declarava: “Os que hoje se colocam contra ou relativizam a Lava Jato, estão também contra o Brasil e os brasileiros. Todo apoio à operação que está tirando o país das mãos dos que o estavam destruindo!”

Anunciou antes mesmo da eleição que pensava em Sergio Moro como seu ministro da Justiça. E, de fato, chamou Moro.

Mas aí o capitão foi eleito. Chegou ao poder e, para se manter no cargo, buscou o apoio daqueles partidos dos quais sempre fez parte e que mandam no Congresso. Quem? Ora, o centrão!

Mas o centrão cobra seu preço para blindar o presidente contra um eventual impeachment, caso as investigações contra Fabrício Queiroz, Flávio e Carlos Bolsonaro cheguem a algo efetivo.

E qual o preço?

Bem, será cobrado aos poucos e pago em prestações. A primeira parcela foi relativa à Lava Jato, e Bolsonaro já está pagando. O juiz Sérgio Moro foi defenestrado do governo. Os lavajatistas caíram em desgraça.

É verdade que cometeram excessos. Mas ninguém esperava que se tornassem vítimas de Bolsonaro tão rapidamente.

Formalmente a Força Tarefa estará mantida até janeiro, segundo decisão da Procuradoria Geral da República. Mas, na prática, seu fim já está selado.

Daí porque o presidente, em uma solenidade no Planalto nesta quarta-feira, 7, declarou que acabou com a Lava Jato.

É provável que, de alguma maneira, Bolsonaro volte atrás em sua declaração, nos próximos dias. Dirá que a Lava Jato não acabou e que foi mal interpretado.

Afinal, essa sua afirmação deixou perdidos os bolsonaristas de raiz. Boa parte deles até aceitaram a saída de Sérgio Moro, mas se agarraram à afirmação de que a Lava Jato não morreu.

Agora, com essa nova notícia, só restará a alguns dos bolsonaristas de raiz se fixar naquela explicação do presidente: de que ele acabou com a Lava Jato porque não existe mais corrupção no governo.

Você pode não acreditar nisso. Mas há gente que acredita em tudo, não é mesmo?

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“Salvar a economia” foi discurso na pandemia. Mas por que não foi na Lava Jato?

bolsonaro e moro
A Operação Lava Jato não apenas cumpriu sua missão de criminalizar o PT, como também foi cirúrgica no desmonte de um importante setor da economia brasileira – Sergio Lima/AFP

Por Juliane Furno

Recentemente ouvi o economista Eduardo Moreira fazer esta pergunta em relação à reação conservadora ante as políticas de isolamento social contra a pandemia e resolvi tentar respondê-la, aproveitando o ensejo sugerido pelos acontecimentos recentes, após novos vazamentos do The Intercept a respeito da cooperação entre o FBI e procuradores do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná e a atual disputa entre a força tarefa da Lava Jato e a Procuradoria Geral da República (PGR).

Que a operação Lava Jato, do ponto de vista jurídico, atuou relativizando diversas garantias constitucionais e como um Partido político, parece ter ficado bastante explicitado – principalmente após os últimos vazamentos de mensagens. O agora ex-juiz Sérgio Moro não apenas investigava, bem como orientava Procuradores da Repúblicas sobre como proceder nos casos de investigações de Operação da qual ele próprio figurava como juiz.

No entanto, um tema pouco trazido à baila parece ser que a operação Lava Jato não apenas cumpriu sua missão de criminalizar o PT, como foi cirúrgica no desmonte de um importante setor da economia brasileira.

Da forma como foi conduzida a operação, fica perceptível que o interesse da “República de Curitiba” não era acabar com a corrupção, senão que destruir um dos nossos maiores patrimônios, que é a Petrobras e toda a cadeia produtiva de empresas nacionais a ela relacionada.

Neste caso, para os conservadores que bradam contra o isolamento social, evocando “a defesa da economia, empresas e empregos” não valeu a máxima “primeiro precisamos salvar a economia”.

Sob a denúncia de que os totais extirpados da Petrobras nos diversos esquemas de corrupção somavam os vultuosos R$ 6 bilhões, operou-se uma paralisia que retirou da economia, segundo dados, nada menos que R$ 146 bilhões entre 2014 e 2015. Do ponto de vista da contração do emprego não foi diferente. Neste mesmo período, o setor da Construção pesada dispensou um milhão de trabalhadores diretos, resultado da paralisia das atividades, principalmente, dos setores metalomecânico, naval, construção civil e engenharia pesada.

Os dados dessa tabela, considerando apenas os trabalhadores diretamente vinculados a produção industrial e de serviços de engenharia entre as empresas fornecedoras da Petrobras dá a tônica do escândalo. Entre 2014 e 2016, enquanto o desemprego elevou-se 6% no Brasil, o desemprego entre trabalhadores da produção de empresas fornecedoras da Petrobras despencou 31%.

Aos trabalhadores contratados diretamente na atividade industrial e de serviço especializado estão relacionados, pelo menos, mais uma diversidade de trabalhadores, alocados nas atividades de apoio, como secretários, contadores, faxineiros entre outros.

Assim, aos dirigentes da operação, bem como aos setores que acriticamente a apoiavam, pouco importava que os impactos econômicos e sociais da desastrosa ação anticorrupção fossem muito mais danosos aos cofres públicos do que a parcela alienada em contratos superfaturados. Valia qualquer coisa para retirar o Partido dos Trabalhadores da arena política e “combater a corrupção”. Ao não separar a Pessoa Física da Pessoa Jurídica, buscou-se “combater a corrupção” sem levar em consideração a função social da empresa e sua preservação, no transcorrer de investigação criminal que a envolvesse.

O resultado da criminalização e do punitivismo com que foi levada adiante a operação Lava Jato – à revelia das garantias legais do processo penal e com apoio de setores da mídia – nos logrou como herança a destruição do mercado nacional de infraestrutura e a abertura de condições plena a sua internacionalização. Bom negócio para outras empresas concorrentes, que por coincidência, são de residentes do país que se descobriu amalgamado e relações indecentes com os nossos procuradores.

Assim, a Lava Jato, além de servir como sustentação política ao processo de criminalização do PT e inviabilização do seu principal candidato por meio da instrumentalização da Justiça, também operou como preposto aos interesses estadunidenses e de suas empresas, atuando para destruir um dos pilares do desenvolvimento econômico brasileiro recente e dos poucos setores não primarizados onde detínhamos níveis de competitividade internacional.

Não funcionou o “salvar a economia” na Lava Jato justamente porque o que estava por trás da operação era o esfacelamento do nosso parque produtivo local e de um projeto soberano e nacional de desenvolvimento. A operação Lava Jato foi uma resposta a uma política exitosa de condução soberana do setor de petróleo e gás. Foi uma resposta à atuação, inclusive internacional, das construtoras brasileiras e uma resposta – tipicamente assentada no imperialismo yankee – de “cortar” as assas de governos que ultrapassam a tênue linha da autodeterminação nacional.

Na pandemia, o argumento “em defesa da economia”, no entanto, serviu a toda espécie de reacionarismo e obscurantismo que em última instância servem, como sempre, a obstrução do nosso desenvolvimento. Na medida em que por meio dele se negou a gravidade do problema e a necessidade do Estado intervir, para salvar empregos e empresas, como deveria ter feito aliás, ao tempo da ilegal e desastrosa operação.

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Como a Lava Jato virou puxadinho do FBI

09/08/2016 – Brasília – DF, Brasil Audiência Pública sobre o PL 4850/16, estabelece medidas contra a corrupção. Procurador da República, Dr. Deltan Dallagnol. Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Por Marcelo Tognozzi*

Edward Bernays morreu em 1995 com 103 anos. Considerado um dos americanos mais influentes do século 20, ele dizia que as pessoas são irracionais, suas decisões e ações são manipuladas facilmente e que a “minoria inteligente” necessita fazer uso contínuo e sistemático da propaganda.

Quase 25 anos depois da sua morte, Bernays foi resgatado por Mário Vargas Llosa no seu livro “Tiempos Recios”, lançado no ano passado. Vargas mostra como Bernays, um sobrinho de Freud e autor do best-seller “Propaganda”, elaborou e executou a doutrina de defesa dos interesses dos Estados Unidos e suas empresas. O principal cliente de Bernays era a United Fruit.

Como responsável pela estratégia de propaganda da empresa, mexeu os pauzinhos para a contratação da cantora Carmen Miranda por Hollywood em 1940. A pequena notável, com seu rebolado e os arranjos de bananas e outras frutas na cabeça, foi a mais eficiente garota propaganda da companhia que mais produzia bananas no continente.

Os Estados Unidos investiram pesado na manipulação política dos países da América Central e Caribe desde a época da construção do Canal do Panamá, no fim do século 19, quando também derrotaram a Espanha na guerra hispano-americana de 1898, ajudando Cuba a se tornar independente e enterrando de vez o já moribundo império espanhol.

Depois da 2ª Guerra, os americanos ficaram impossíveis. Meteram as mãos e os pés na região e foram ampliando sua influência em direção do Cone Sul. Já haviam se conectado por aqui pelo caminho cultural do cinema, música, literatura e histórias em quadrinhos.

Nos anos 1950 e até o início dos anos 1960, o Brasil foi resistente à sua influência política. JK peitou o FMI e tinha uma relação difícil – para dizer o mínimo – com o ex-secretário de Estado Foster Dulles, sintetizada na famosa foto de Antônio Andrade publicada em 1958 pelo Jornal do Brasil com a legenda: me dá um dinheiro aí.

O livro de Vargas Llosa é importante não somente pelo que revela do passado, as tramas de um golpe de Estado na Guatemala e a história de Johnny Abbes Garcia, agente da CIA que também serviu aos ditadores Trujillo, da República Dominicana, e Papa Doc, do Haiti. Garcia foi trucidado junto com a família pelos Tonton Macoute, misto de polícia e milícia de Papa Doc.

Com o golpe militar de 1964, os americanos derrubaram toda e qualquer resistência à sua ação de manipulação. O general Vernon Walters foi o eficiente e competente coordenador desta “ocupação”.

Oficiais do Exército brasileiro passaram a fazer estágio em instalações da Flórida e na famosa Academia Militar de West Point, em Nova Iorque, enquanto oficiais americanos davam assessoria para as forças de repressão ao comunismo no Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai. O lendário Cabo Anselmo, líder dos marinheiros em 1964, era na verdade um agente infiltrado na esquerda e há várias versões de que tenha trabalhado para CIA.

Desde então, nunca mais os americanos deixaram de ter bases no Brasil ocupadas por agentes de seus órgãos de segurança, especialmente CIA e FBI. Em 2015, eles grampearam a presidente Dilma e alguns ministros. Portanto, não é de se estranhar que o chefe da Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, tenha sido tirado para dançar pelo FBI.

No diálogo entre Deltan e o colega Vladimir Aras, da Secretaria de Cooperação Internacional (SCI), publicado em 1º de julho pela Agência Pública, os repórteres Natália Viana e Rafael Neves mostram como Deltan passou por cima da lei de da hierarquia sem a menor cerimônia:

  • Deltan – Obrigado Vlad por todas as ponderações. Conversamos aqui e entendemos que não vale o risco de passar pelo executivo, nesse caso concreto. A própria PF foi a primeira a dizer que não confia e preferia não fazer rs.
  • Vladimir Aras – Já tivemos casos difíceis, que foram conduzidos com êxito.
  • Deltan – Obrigado, Vlad, mas entendemos com a PF que neste caso não é conveniente passar algo pelo executivo.
  • Vladimir Aras – A questão não é de conveniência. É de legalidade, Delta. O tratado tem força de lei federal ordinária e atribui ao MJ (Ministério da Justiça) a intermediação.

Vladimir Aras, primo do atual procurador-geral Augusto Aras, é tido e havido como homem sério, respeitador da lei. Difícil entender por que não pediu providências contra esta ilegalidade cometida por Deltan. Hoje, por tudo o que foi publicado pela Agência Pública, fica claro que a Lava Jato tinha virado um puxadinho do FBI.

Imagine se fosse ao contrário. Um procurador americano passando por cima da lei e da hierarquia para trocar informações com agentes públicos de outro país. Pura encrenca. A grande imprensa jamais ignoraria o fato e a longa mão do Estado americano estrangularia o engraçadinho.

O grupo de Curitiba sempre manteve um pé nos EUA. Sergio Moro, quando virou ministro, foi visitar a sede CIA na primeira oportunidade. Deltan fez pós-graduação em Harvard. Não foi um aluno brilhante, mas era alguém conveniente. Teve como orientador o professor Scott Brewer, um dos principais pilares da doutrina anticorrupção desenvolvida ao longo dos últimos 20, 25 anos, cuja fada madrinha foi a professora de Yale Susan Rose-Ackerman, hoje crítica dos métodos de Deltan e Sergio Moro.

A Lava Jato seguiu a doutrina anticorrupção americana, elaborada a partir de motivações mais econômicas e menos morais, já que a lei deles pune toda e qualquer empresa dos Estados Unidos que pratique corrupção no exterior. Sem uma campanha anticorrupção, a concorrência ficaria em posição de vantagem, especialmente a China, que manda fuzilar os corruptos locais, mas tem fama de fazer vista grossa para as estripulias cometidas no exterior.

A propaganda foi e a mola a empurrar a Lava Jato para o centro da política, produzindo estrelas requisitadas para palestras de todo tipo (com e sem cachê), inclusive para o FBI em Washington, e um ex-juiz hoje candidato a presidente.

Literalmente moeram o centro democrático e faliram as grandes empreiteiras brasileiras, sob o entendimento de que eram as principais financiadoras do PT, de outros partidos investigados e do Foro de São Paulo. Poderiam ter prendido e empobrecido os donos destas empresas sem mata-las nem demitir milhares de trabalhadores, mas isso seria sofisticado demais, patriótico demais.

O vento virou e os investigadores são agora investigados. A reação da professora Susan Rose-Ackerman virando as costas para Deltan em desaprovação aos seus métodos, os diálogos publicados pelo Intercept e pela Agência Pública, a tentativa de criar um fundo bilionário e a decisão da última 5ª feira do ministro Dias Toffoli, obrigando a força tarefa de Curitiba a entregar para a Procuradoria Geral da República todo e qualquer documento, expõem a decadência do grupo do Paraná, embicado ladeira abaixo. Começam a ser deglutidos pela “minoria inteligente” e manipuladora, a clientela do famoso Edward Bernays.

*É jornalista e consultor independente há 20 anos. Fez MBA em gerenciamento de campanha políticas na Graduate School Of Political Management – The George Washington University e pós-graduação em Inteligência Econômica na Universidad de Comillas, em Madrid.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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Desmandos da Lava Jato atestam que modelo atual é falho e manipulado

Por Janio de Freitas

As novas, mas não últimas, transcrições de mensagens da Lava Jato curitibana dão um salto temático no poço, tenebroso e sem fundo, das intromissões americanas na soberania brasileira.

Não foi por obra do acaso que esse capítulo a mais da amizade inconfiável se configurou no âmbito da Lava Jato, empreendimento político em área judicial e com bolsonaras consequências também nas relações externas.

As mensagens transcritas e seus aditivos dedicam-se à ação e aos agentes do FBI na América Latina, a título de investigar empresas americanas na corrupção local.

Se provada, a participação sujeita a punições, sobretudo financeiras, nos Estados Unidos. Um tratado Brasil-EUA autoriza tais investigações aqui e estende o acordo à colaboração mútua em investigações, com normas intermediadas pelo Ministério da Justiça. No mesmo gênero, há acordos sobre tráfico de drogas.

As mensagens transcritas expõem a falta de adequação, controle e limite na interação de Lava Jato e pessoal do FBI no Brasil. No muito extenso e um tanto caótico material publicado, sobressaem Deltan Dallagnol e sua tentativa de burlar as regras do acordo para obter, por desvio clandestino, a localização e prisão nos EUA de um alvo da Lava Jato, seguidas de extração para o Brasil.

Dallagnol, de maneira bem característica, prefere não obter o pretendido a se sujeitar às leis e a um acordo internacional do Brasil.

Coordenadora dos agentes secretos da alegada caça à corrupção, na América do Sul, Leslie Rodrigues Backschies não aparece bastante no material transcrito. Mas não pelo melhor.

Trata-se de sua explicação para o empenho do FBI na caça a corruptos aqui e alhures: é a segurança dos Estados Unidos e de seus cidadãos. A corrupção pode financiar o terrorismo. Mas não só. Nas sociedades onde as pessoas se sentem governadas por corruptos, “irão buscar outros elementos […] que veem como limpos. E isso se torna uma ameaça para a segurança”. A deles lá.

Curioso: combatem a corrupção da velha política, mas o novo é “uma ameaça”. A explicação da agente principal nem precisou explicitar a solução: combater a corrupção, que pode financiar o terrorismo, e impedir o novo, porque “se torna uma ameaça” de recusar a subserviência da velha política.

É assim e por isso que o FBI, a CIA, a NSA (a dos grampos em Dilma) se transfiguram em poderes eleitorais. Como sabem, muito bem, Sergio Moro, tão homenageado pelos agradecidos dos Estados Unidos, e Deltan Dallagnol, que, agradecido ele, reconhece nas mensagens o seu aprendizado com os agentes americanos.

Crítico da Lava Jato sem expor os motivos, ainda assim o procurador-geral da República, Augusto Aras, tem razão. As ilegalidades, os desmandos e desvios de finalidade da Lava Jato atestam que o modelo atual de força-tarefa é falho e manipulado com má-fé, pernicioso.

Mas seu projeto de uma central das forças-tarefas levaria as deficiências de hoje ao extremo. É um projeto de poder pessoal, não a solução. Que precisa ser buscada, assim como é necessária uma força-tarefa para investigar a força-tarefa da Lava Jato, em nome do país.

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Um bezerro feito de cartuchos de bala

Por Reinaldo Azevedo

O presidente Jair Bolsonaro concorre para degradar a qualidade da experiência democrática em muitas áreas do governo, mas não ameaça o regime democrático. Com Sergio Moro é diferente. Ele representa um risco real ao sistema de garantias individuais e públicas. Seu autoritarismo é mais instruído, vai além da bolha da extrema direita e ambiciona ser um método.

No dia em que Bolsonaro deixar o governo, esteja a economia como estiver, haverá um rastro de depredação da ética, da estética e da razão, perpetrada pelos terraplanistas de Olavo de Carvalho e outras mixuruquices da periferia do capitalismo, que aparelharam fatias do Estado. O trabalho de desintoxicação será relativamente rápido.

Veja frases de Sergio Moro em entrevista à Folha

Moro é o insidioso que se esgueira nas dobras do combate à corrupção. Ele tenta mudar os códigos, literais e metafóricos, do Estado democrático e de Direito. Suas barbaridades passam por bom senso em certos setores da imprensa, severos com Bolsonaro, mas servis ao dito paladino da moralidade.

Na agressiva entrevista publicada pela Folha nesta quinta (12), Moro tem a ousadia, por exemplo, de atribuir ao STF a responsabilidade pelo fato de 50% dos entrevistados pelo Datafolha considerarem ruim ou péssimo o combate à corrupção levado a efeito pelo governo. A soltura de presos em razão do que dispõe a Constituição —e ele pensava em apenas um: Lula— teria distorcido a avaliação, ainda que 54% dos entrevistados considerem justa a liberdade concedida ao ex-presidente.

Afirmou: “Veja, aí é a velha insistência do caso do ex-presidente. O ex-presidente foi condenado em várias instâncias, ficou provado que se corrompeu. O álibi da defesa é que foi tudo uma armação do juiz de primeira instância, mas a segunda instância condenou, a terceira condenou, em mais de um processo. Então, é uma questão de prova (…).”

Decoro, senhor! Acusar a suspeição de um juiz não é “álibi”. A condenação de Lula foi mantida em terceira instância (STJ) em apenas um processo. Reitero o desafio a ele e a quem topar a parada: apontar em que página da sentença está a prova que corrobora a denúncia do MPF. Nem sequer era ele o juiz natural da causa, uma vez que confessou de próprio punho inexistir vínculo entre o tríplex e os contratos das empreiteiras com a Petrobras. A 13ª Vara Federal de Curitiba é o foro dos processos relativos à roubalheira naquela empresa.

Tampouco o sítio de Atibaia (SP) deveria estar lá. O mesmo vale para os pagamentos supostamente irregulares feitos pela Oi e pela Vivo às empresas de Jonas Suassuna e Fábio Luís da Silva. Nada têm a ver com a petroleira. O procurador Roberson Pozzobon tentando evidenciar o contrário lembra malabarista mal treinado pedindo gorjeta. É a cultura Moro do vale-tudo. Um dia ela se volta contra seus beneficiários de turno.

Bolsonaro percebeu o perigo faz tempo. Na correta e lhana entrevista à Folha, o ministro Eduardo Ramos evidenciou manter o doutor na rédea curta: “[Moro] É um cara muito bem respeitado, é um ícone do Brasil. É inegável, ele catalisa. Agora, ele é extremamente leal ao presidente. Ele diz que não é candidato, e eu acredito. A não ser que ele mude, não vai ser candidato”. Ramos é militar. “Si vis pacem, para bellum”.

Uma alma insidiosa contra a ordem legal não se subordina a comandos. Bolsonaro se arrependeu de tê-lo indicado ministro antes ainda da posse.

Moro recebe painel formado por cartuchos de bala que formam seu rosto
Moro recebe painel formado por cartuchos de bala que formam seu rosto; obra foi feita pelo artesão Rodrigo Camacho – Rodrigo Camacho no Facebook

No país das balas perdidas do Rio e do massacre de Paraisópolis, em São Paulo, o ministro não se intimida, na entrevista, em insistir na excludente de ilicitude para fazer um aceno à extrema direita que lhe dá suporte nas redes sociais. Tenta fagocitar a plateia de seu chefe. Na segunda (9), posou ao lado de uma escultura em que sua efígie é desenhada por cartuchos.

Este bezerro, adorado por setores da imprensa que confundem política com polícia, não é feito de ouro, mas de balas.

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Lavar a Lava Jato

Por Jânio de Freitas

Folha de S. Paulo

Só com uma Lava Jato da Lava Jato, uma Lava Jato honesta para investigar a Lava Jato deformada, sob manipulação de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, para interferências políticas e eleitorais. E ainda para ganhos pecuniários pessoais.

As revelações do site The Intercept Brasil, quase todas em associação com a Folha, tornam impossível qualquer dúvida respeitável sobre o desvirtuamento, passível de configuração criminal, do ataque à corrupção. Mas, dada a gravidade das revelações, provoca uma outra dúvida: a de que haja, entre as instituições apropriadas, ao menos uma capaz de investigação tão profunda e consequente quanto necessário.

Veja as possíveis consequências do vazamento de mensagens entre Moro e Deltan

O Ministério Público, no qual se enquadram a Procuradoria-Geral da República e os procuradores, já fez muitas exibições do seu corporativismo, um apego de proteção mútua entre os integrantes, com mais serviços aos próprios do que ao interesse geral. Seu Conselho Nacional é um exemplo admirável de omissão por coleguismo: nunca viu um desmando nas acusações públicas e sem provas, nas fake news de inúmeros vazamentos, nas entrevistas insolentes com o Supremo e o Congresso.

A Polícia Federal nem sempre é polícia. Cinco anos para explicar um gravador clandestino que o doleiro Alberto Youssef, malandro velho de guerra, procurou e descobriu em sua cela na PF. Afinal, veio uma explicação falsa, que não condiz com os fatos: o gravador foi para Fernandinho Beira-Mar quando hóspede ali, e ali ficou esquecido. Se gravados sem autorização, seria ilegalidade continuada, sendo Beira-Mar e Youssef iguais na condição de presos. E a PF obrigada à mesma conduta legal.

Passar por investigação e punição são coisas para policiais caídos em desgraça, mesmo que tenham feito o que muitos fazem sem problemas. O exonerado Protógenes Queiroz, da muito esquisita Satiagraha, explicaria isso melhor.

Confirmação das indisposições da PF para casos de gente sua, dois do principais delegados da Lava Jato hoje ocupam postos influentes na PF, levados por seu colega de Curitiba e hoje ministro —também por terem sido o que foram na Lava Jato. Ambos foram os braços de Moro para prisões coercitivas sem justificava e sem intimação prévia, revistas domésticas abrutalhadas e diante de crianças, encenações de prisão em que o ridículo fazia a violência. E montado nessa barragem de autoproteção está o próprio Sergio Moro.

Guardião derradeiro, o Supremo intimidou-se diante da Lava Jato e das manchetes vindas dos jatistas. O Conselho Nacional da Magistratura entregou-se a uma demissão moral. Relator no STF dos processos da Lava Jato, o ministro Teori Zavascki irritou-se com o abuso de abusos de poder por Moro. Mas, no fim, decidiu reuni-los todos em uma só, embora dura, advertência. Deixou a via aberta para mais e piores abusos. Que o Supremo permitiu correrem ou os endossou.

Não há quem investigue e quem julgue os maus investigadores, maus acusadores e maus julgadores. E, com isso, os próprios combatentes contra a corrupção confirmam e aumentam a impunidade incumbidos de combater.

Muitos preços estão com aumentos fortes sem, no entanto, influírem nas taxas de inflação e custo de vida. Como ninguém dá atenção aos rótulos de compras frequentes, em muitos produtos passa despercebido um aviso em letras mínimas: “redução de 10%”, “menos 5 tabletes”, “agora 90g”. Menos produtos pelo mesmo ou por maior preço. Sem o consumidor notar o aumento de dez vezes a inflação e até mais.

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Dois deputados do RN assinam CPI da Lava Jato. Um já admite recuar

Natália e Beto assinam instalação de CPI (Foto: montagem Blog Saulo Vale)

Blog Saulo Vale

Dos oito deputados federais do Rio Grande do Norte, dois assinaram em favor da criação da CPI da Lava Jato: Natália Bonavides (PT) e Beto Rosado (Progressistas).

A dupla costuma estar em campos absolutamente opostos nas votações de matérias polêmicas, como a reforma da Previdência, mas se encontraram na turma de congressistas que defende investigação à operação.

Beto, inclusive, na legislatura passada, em 2018, foi o único do RN a assinar pela criação de uma CPI que investigasse a Lava Jato, mas o pedido do grupo de deputados acabou arquivado, à época.

‘The Intercept’

O pedido de instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar supostas arbitrariedades e ilegalidades cometidas por membros da Força Tarefa da Lava Jato e pelo então juiz Sérgio Moro, foi validado nesta sexta-feira (13) pela Mesa da Câmara dos Deputados com 175 assinaturas das mais de 200 coletadas.

O documento, de autoria da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), tem como uma das principais bases as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil e as recusas do procurador Deltan Dallagnol em comparecer à Câmara para explicações.

Ainda é necessário, contudo, que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), autorize a instalação da CPI.

Veja a lista das assinaturas completa AQUI.

Beto se manifesta por meio de nota

Nota de Esclarecimento

O deputado federal Beto Rosado (PP/RN) desconhece ter assinado a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lava-Jato que visa investigar suposta articulação entre o ministro Sergio Moro e membros da Procuradoria da República no Paraná, tornada pública pelo site The Intercept, no mês de junho deste ano.

O teor da CPI foi alterado sem aviso prévio ao parlamentar.

Caso a CPI se mantenha desta forma, Beto irá apresentar à Secretaria Geral da Mesa, na próxima segunda-feira (16), um requerimento para a retirada da assinatura.

O deputado Beto Rosado aproveita para reiterar o apoio total à Lava Jato e a toda e qualquer investigação que tem como princípio o combate à corrupção. O deputado também é a favor de que se investigue de maneira geral a invasão de privacidade feita por hackers.

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A Operação Lava Jato, nem de longe, detém o monopólio da virtude

Por Fernando Haddad

Diante do desmonte de órgãos de Estado promovido pelo atual governo, um membro da força-tarefa da LavaJato disse numa entrevista à GloboNews que aquele grupo apoiou Bolsonaro para evitar o fim da operação que, segundo ele, eu patrocinaria se ganhasse a eleição.

Antes de tudo, não custa lembrar que Sergio Moro, quando condenou Lula, apontou o ex-presidente como aquele que fortaleceu como poucos as instituições de combate à corrupção, como a Receita Federal, a Polícia Federal, o Coaf, a CGU, a PGR etc., hoje enfraquecidas com sua complacência.

Esta Folha, diga-se, fez reportagem, bem antes das eleições, sobre a inexplicável evolução patrimonial do clã Bolsonaro, origem das investigações recém-paralisadas que tinham por alvo o milionário acervo de bens imóveis transacionados pelo senador Flávio Bolsonaro, para não falar de Fabricio Queiroz e seu “comércio” de veículos, tão ignorado quanto era o seu paradeiro até ontem.

No que me diz respeito, minhas iniciativas no combate à corrupção são bem anteriores ao início da Operação Lava Jato, e eu jamais deixaria de apoiar iniciativas de moralização do serviço público, como demonstra minha conduta à frente do MEC e da Prefeitura de São Paulo.

A criação da Controladoria-Geral do Município de São Paulo foi um marco histórico.

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 Fachada do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, onde Jair Bolsonaro tem duas casas – Raquel Cunha – 28.jan.2018/Folhapress

Nos primeiros meses da minha administração, desbaratamos a máfia do ISS, que desviou quantia estimada em meio bilhão de reais dos cofres públicos. Recuperamos boa parte daquele dinheiro, punimos corruptores e afastamos dezenas de auditores fiscais, parte dos quais já processados e sentenciados.

Suspendemos a construção do túnel Roberto Marinho a partir da mera suspeita de que a obra estava superfaturada. Odebrecht, UTC e outras empreiteiras foram contrariadas, sendo que a primeira, em acordo de leniência firmado anos depois, confirmou a formação de cartel na licitação da obra, ocorrida muito antes da minha posse.

Tomamos todas as medidas necessárias para pôr fim à inspeção veicular. O Ministério Público tentou, por anos, questionar, sem sucesso, o contrato firmado ainda na gestão Pitta. Só no nosso governo, por determinação do Executivo municipal, o caça-níqueis da Controlar deixou de funcionar.

Tudo isso aconteceu antes da Lava Jato.

O que incomoda na Lava Jato é a sua seletividade e falta de transparência, sugerida, por exemplo, por esta mensagem de membro da força-tarefa captada pelo site The Intercept Brasil: “meus vazamentos objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”.

Como se vê, a Lava Jato, nem de longe, detém o monopólio da virtude.

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Lula será transferido

Marlene Bergamo/Folhapress

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

A Justiça Federal do Paraná autorizou hoje a transferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para São Paulo. A decisão é da juíza federal Carolina Lebbos, responsável pela execução penal do petista, que cumpre pena na sede da Superintendência da PF (Polícia Federal), em Curitiba, desde abril de 2018. A data da transferência e para onde Lula será levado ainda não foram definidos. Lula foi condenado pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva no âmbito da Operação Lava Jato.

No despacho, a juíza autoriza a transferência de Lula a um estabelecimento localizado no estado de São Paulo, mas não especifica qual. “Caberá à Autoridade Policial adotar as providências pertinentes. Tratando-se de matéria que foge à competência deste Juízo, por não possuir ingerência sobre os estabelecimentos localizados naquele Estado da Federação, solicite-se ao Juízo de execução penal competente do local de destino a indicação do estabelecimento onde o apenado deverá permanecer recolhido”, escreveu.