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Já que o negro nunca duvidou que o branco fosse gente, precisamos de um dia mundial da consciência branca?

Por César Amorim

 Quantos “George Floyds” precisarão morrer nos EUA para que a sociedade brasileira resolva discutir com afinco o problema do racismo dentro dos nossos limites territoriais? Causa espanto, de certa forma, nossa submissão aos EUA, inclusive, nesse quesito! É como se diariamente o negro brasileiro não convivesse com toda espécie de preconceito de raça, desde a formação de nossa nação.

A título exemplificativo, a polícia brasileira matou 17 vezes o número de negros que a dos EUA matou em 2019, segundo estudo feito pelo site Poder360. Não bastasse, 75% das vítimas de homicídio no Brasil são negras, aponta estudo do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança divulgado quarta-feira (03/06).

São garotos como João Pedro, morto recentemente, ou mesmo menino Miguel, “esquecido” no elevador, e tantos outros que estamos acostumados a ver na mídia.

Esse é um tema que merece profunda discussão, e quem sabe poderá ser tratado com mais profundidade em outra oportunidade. Fato é que, no Brasil, o racismo, aparentemente, autoriza a polícia a atirar indiscriminadamente contra jovens negros.

Mas a mais, falar sobre negro no Brasil é tema sempre vibrante e, por vezes, tenso! Do negro africano veio a pimenta, o acarajé, o arroz, o mungunzá, o samba, o maracatu, a capoeira e tantos outros ingredientes humanos que construíram nossa identidade nacional.

No entanto, em que pese o legado cultural negro em nosso país ser IMENSO, está se falando de gente, seres humanos, que sob o julgo de chicotes, dominados pela falsa ideia de superioridade cultural, baseada na podridão do eurocentrismo “cristão” dos “colonizadores”, já foram tratados, inclusive, como “coisa sem alma”.

É surreal, mas custou muito sangue para que fosse aceito pelo branco que o negro tinha ideias, consciência, argumentação e essência humana. Foram as mãos brancas sujas de sangue que puniram no pelourinho os negros que com seus próprios sangue e suor, construíram torres e palácios para gozo de uma elite branca sedenta.

A página mais suja de nossa história relata um terrível genocídio pelo qual somos devedores eternos! Apesar de ser considerado crime, o racismo é um problema que o Brasil nunca teve verdadeira disposição para enfrentar. Atualmente, me parece que estamos até regredindo nesse tema!

Nossa pobreza é tamanha, que em pleno século 21 ainda discutimos se negros e brancos são iguais. Bolsas, Cotas e o próprio Estatuto da Igualdade Racial, ainda não conseguem reparar o fosso escavado entre uma e outra geração.

Os recentes acontecimentos são terríveis, mostram, mais uma vez, que a Lei Aúrea, em verdade, retirou o negro da senzala e o transportou através de gerações para viadutos e periferias das médias e grandes cidades.

Precisamos, em verdade, de um dia mundial da consciência branca para que todos os que se dizem descendentes dessa “raça”, possam parar e refletir sobre o que fizemos e o que estamos por fazer, na perspectiva de uma remissão/perdão sobre esse pecado moral que pesa sobre nossa consciência, pelo que foi feito e, reiteradamente, continua a se fazer contra nossos irmãos.

Por fim, parafraseio um amigo de longa data, “há apenas um quesito entre brancos e negros que os tornam diferentes: é que o negro nunca duvidou que branco fosse gente!”.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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O Floyd nosso de cada dia – Primeira parte

Por Fhabyo Hunter*

Desde 1530, data oficial que iniciou a colonização portuguesa no Brasil, que o homem “BRANCO, PURO, CASTO E HONESTO” se sobrepôs àqueles que não tinham cultura. O bondoso colonizador trouxe luz às mentes impuras dos primitivos habitantes que aqui estavam. O índio nada mais era do que um mero instrumento que deveria servir ao seu senhor europeu, as índias deveriam satisfazer os desejos mais absurdos dos “conquistadores”.

A evolução do mal apenas tinha início. Após introduzir “noções civilizatórias” na população indígena primitiva que habitava o país, é chegada a hora de domesticar o negro escravo. Já tínhamos uma noção formada de sociedade nos moldes da Europa. Homens bons, castos e donos da verdade, atrelados à ideia de uma igreja seletiva, na qual o Deus era apenas para aqueles que estavam no padrão racial Europeu. A esposa deste cidadão perfeito era cheia de pompas, com escravos cativos para satisfazer seus desejos. Até mesmo colocar os pés no chão era uma atividade difícil para as “madames da época”.
Existiam escravos para cuidar das crianças, da cozinha, das roupas, dos afazeres domésticos e demais mimos elitistas.

Não é demais lembrar que o homem social colonial também se relacionava com suas escravas, e estas eram impedidas de engravidar, e se isso ocorresse, o aborto seria a solução mais viável. O desejo sexual do homem “BRANCO, PURO, CASTO E HONESTO” deveria prevalecer sobre a sua propriedade humana, esta, apenas teria que ser depositária dos desejos e, jamais gerar algum fruto deste “mono relacionamento”. E quando a esposa deste homem descobria o caso extra conjugal? A escrava praticamente tinha sua sentença de morte assinada. Mas antes, a tortura era a tônica. A culpa era da mulher negra que manteve relação forçada com o homem “BRANCO, PURO, CASTO E HONESTO”. Ovos quentes colocados em sua boca, retirada forçadas dos mamilos, unhas, cabelo, dentes, introdução de ferro quente em partes íntimas e demais atos eram praticados contra estas mulheres.

A evolução do mal continuou por outras décadas. Libertou-se o negro da sua condição de “escravo”. É chegada a hora de mudarmos a sociedade e seu pensamento? Ledo engano. Aquele homem “BRANCO, PURO, CASTO E HONESTO” agora observa o ex-escravo como mendigo, como um flagelado, como alguém que poderia fazer mal a ele e a sua propriedade. Não é demais lembrar que foram editadas várias leis para combaterem a massa populacional de ex-escravos. Desde esta época que começou a ser incutido na mente das pessoas que o paradigma “pobre e preto” é sinal de “bandidagem”, de “pessoas que devemos ter cuidado”, e isso perdura até o século 21.

O homem tem orgulho de ter ido à lua, de ter realizado feitos fantásticos nas ciências e na medicina, mas a maior mudança que deveria ter ocorrido não houve, evolução mental.

Quando uma cidadã “BRANCA, PURA, CASTA E HONESTA” coloca uma criança NEGRA dentro de um elevador, aperta um botão do seu prédio luxuoso, sabendo que ali estará uma criança indefesa, observamos um espírito colonial nesta atitude. Ora, uma pessoa refinada, com bons tratos sociais, com importância social a nível de primeira-dama municipal, vai cuidar de um reles menino negro filho de uma simplória empregada doméstica que tem a única função de ser subserviente aos mandos e desmandos dos seus mestres brancos? Foi mais fácil colocá-lo no elevador da morte para que não desse trabalho e assim ela pudesse voltar ao seu status RACIAL INDOLENTE.

A grande questão aqui não é apenas a condição da criança ser negra, apesar disto ser um fator social forte, mas passa também pela questão socioeconômica. Quantas e quantas festas essa mulher “BRANCA, PURA, CASTA E HONESTA” já esteve presente e tinham crianças, inclusive negras, chorando, pulando, dando trabalho e ela simplesmente sorriu, brincou com estas crianças, tirou fotos e até mesmo disse “não brinque aí, este elevador é perigoso! ” Por serem crianças “ricas e brancas ou negras” ela teve total cuidado, afinal eram filhos (as) dos seus amiguinhos que pertencem à sua casta social.

Miguel é apenas mais um, não teremos mudanças por conta deste caso, a sociedade irá continuar da mesma forma. Não iremos observar crônicas dos jornalistas famosos ou nenhuma mudança legislativa. Este caso ainda estará nas mentes das pessoas até que outro “escândalo” surja nas redes sociais e que choque mais do que este caso.

A elite “BRANCA, PURA, CASTA E HONESTA” continuará a pensar que o dinheiro ainda é fator da manutenção do status colonial, e fará de tudo para que isso não mude, até mesmo gastar seus milhares de reais para que VOCÊ acredite nesta falácia. Eles são uma elite monetária, mas imbecil das faculdades mentais.

*É professor

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