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Deputado evangélico ironiza morte de Olavo de Carvalho: “se juntou às mais de 620 mil vítimas de quem tanto debochou”

O deputado estadual Jacó Jácome (PSD), evangélico e estudante de medicina, não perdoou a colaboração do escritor Olavo de Carvalho em difundir desinformação na pandemia.

Ao comentar a morte de Olavo no Twiter ele lembrou o histórico negacionista do escritor famoso por espalhar teorias conspiratórias na Internet, inclusive sobre a vacinação contra a covid.

Ele também lembrou que Olavo debochou das vítimas. “Morreu hoje Olavo de Carvalho.  Negacionista e antivacina, contraiu COVID-19 há 15 dias e se juntou às mais de 620 mil vítimas de quem tanto debochou. A ignorância mata! E que ele descanse”, disparou.

Jacó desde o início da pandemia vem atuando na conscientização sobre a pandemia refutando os remédios sem eficácia comprovada contra a covid e defendendo a vacina.

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Foro de Moscow

Foro de Moscow 25 jan 2022 – A morte do guru da extrema-direita

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Olavo de Carvalho: um mártir às avessas e ícone dos intelectualmente ressentidos

O assunto do dia hoje no Brasil é a morte de Olavo de Carvalho, considerado por muitos o “guru” do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A alcunha é um tanto exagerada. Os gurus de Bolsonaro são Donald Trump e o torturador Carlos Alberto Brilhant Ustra. Olavo era guru dos filhos do presidente Carlos e Eduardo Bolsonaro.

Mas suas ideias influenciaram o bolsonarismo e indiretamente Bolsonaro.

O autodeclarado filósofo, apesar de só ter estudado até a quarta série, era sim um homem culto e inteligente. Escrevia bem, apesar de usar esta qualidade para distorcer tudo e ludibriar uma legião de pessoas intelectualmente ressentidas.

Olavo manipulou o debate público fazendo uma parcela da sociedade acreditar que estamos sob uma ameaça comunista globalista financiada por George Soros, um mega investidor do mercado financeiro.

A junção do personagem com essas ideias é um desafio a lógica, mas ele convenceu uma parcela da elite nacional.

Olavo não tinha nada de conservador. Era um reacionário que combatia a ciência e usava a inteligência para distorcer o conhecimento. Se ele queria conservar alguma coisa eram as injustiças que assolam o Brasil daí o conceito de guerra cultura sob o pretexto de atacar negros, LGBTs e mulheres.

Olavo deixou a vida na madrugada neste 25 de janeiro para entrar no lixo da história.  Seu (des)legado ainda vai durar algum tempo, mas não para sempre. Será no futuro uma nota de rodapé quando os historiadores forem tentar explicar o governo Bolsonaro.

Olavo contribuiu muito para a piora na qualidade do debate público no Brasil, incluindo posturas incivilizadas ao pregar o insulto como método no debate público.

Ele conseguiu dar um (falso) verniz intelectual a uma gente ressentida pelo fracasso acadêmico e até fez alguns deles chegarem ao cargo de ministro como Ernesto Araújo, Vélez Rodrigues e Abraham Weintraub. Uma gente excluída da academia que se escudava nos ataques as universidades.

Olavo morreu antes de assistir o funeral do fracasso de suas ideias cujo cortejo fúnebre será no dia 2 de outubro.

Defensor do tratamento precoce contra a covid que se empenhou em desqualificar a eficácia das vacinas, ele morreu nove dias após ser diagnosticado por covid, o que faz dele um mártir às avessas.

Sua morte prova que ele estava errado também nisso.

Olavo morto não o redime do mal que ele causou e continuará causando por algum tempo ao Brasil.

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Análise

Fábio Faria estará provando do próprio veneno se estiver falando a verdade sobre suposta fuga de guru do bolsonarismo

Nos últimos anos Fábio Faria ocupou espaços na mídia potiguar espalhando informações falsas ou distorcidas. Aqui no Rio Grande do Norte ele chegou a dizer que o pagamento de três das quatro folhas deixadas atrasadas pelo pai dele foram com dinheiro federal.

A fala foi tão absurda que foi necessário o Tribunal de Contas do Estado (TCE) emitir uma inédita nota desmentindo um político que atacou um governo.

Em junho ele chegou a espalhar que o Rio Grande do Norte teria distribuído 56% das vacinas contra a covid-19 recebidas pelo Ministério da Saúde quando na verdade o dado correto era 89%.

Agora Fábio acusa os outros de espalharem fake News e apela ao STF nas redes sociais.

Vamos ao caso: a escritora Daniela Abade relatou no Twitter que o voo da FAB enviado aos EUA para buscar Fábio Faria teria dado uma carona ao guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho. Este mesmo revelou que teria saído do Brasil às pressas após passar por um tratamento de saúde na rede pública e estar prestes a ser intimado pela Polícia Federal para prestar depoimento no inquérito das fake News.

Segundo Abade, Olavo teria partido de São Paulo no dia 13 de novembro e desembarcado no Aeroporto Mac Arthur, em Long Island, um terminal doméstico e não usado em voos internacionais.

No dia 14 o mesmo avião teria trazido Fábio de volta ao Brasil. A história repercutiu em alguns dos principais sites e jornais do país.

A história é cabeluda e precisa ser esclarecida.

O Centro de Comunicação da Aeronáutica chegou a enviar uma nota negando o transporte de Olavo para os EUA.

Se a história for falsa Fábio Faria estará provando do próprio veneno.

 

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Artigo

Olavo de Carvalho, prejudicial influência para o Brasil

Olavo de Carvalho é ideólogo do bolsonarismo (Foto: Reprodução/Youtube)

Por Luiz Carlos Borges da Silveira*

Para se analisar com mais precisão um governo é indispensável conhecer quem são seus teóricos, ideólogos e influenciadores. Dependendo destes é possível projetar com muita probabilidade de acerto o comportamento geral da administração.

Partindo dessa premissa pode-se entender os desacertos administrativos e as incoerências políticas do governo Bolsonaro. Durante a campanha e depois, na formação e condução da incipiente administração, o influenciador mais notório foi o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, tido como “guru” do bolsonarismo, que preferia agir na sombra, isto é, sem muito aparecer e utilizando seu poder de manipulação. Era ouvido, consultado e interferia, inclusive com indicações de nomes para postos importantes.

Não se trata de um teórico de respeito, muito menos de cientista político como tenta fazer crer. Sua formação acadêmica não passa da quarta série do antigo curso ginasial – conforme declarou em entrevista. Escritos que produziu no campo da filosofia são rejeitados pelos especialistas. Seus críticos sustentam que os livros e artigos publicados divulgam teorias conspiratórias e fomentam o discurso do ódio. Desde 2005 vive em Richmond, no estado da Virginia (EUA).

O ex-astrólogo Olavo de Carvalho não apenas doutrina como exerce forte pressão sobre seus seguidores, dos quais fazem parte os filho de Jair Bolsonaro e muitos dos indicados para o primeiro e segundo escalões, entre eles os atuais ministros do Meio Ambiente Ricardo Salles, e das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Esses, por limitação da própria inteligência são induzidos e atuam como caixa de ressonância para as ideias e insensatas teorias de Carvalho. Algumas dessas posições já causaram constrangimentos e arranharam a imagem do Brasil no exterior.

Embora vivendo nos Estados Unidos, alienado e sem real vivência da política no país, Carvalho é constante no cenário através das redes sociais. Em essência, é pessoa prejudicial ao Brasil, sua sinistra presença virtual no seio governamental precisa ser neutralizada. Ele se vale das plataformas eletrônicas para publicar vídeos e textos, não raro com conteúdos perpassados de ofensas e termos chulos incompatíveis com o intelectual que se imagina ser.

É contumaz na confrontação verbal com ministros que não sejam seus indicados e de todos que discordem de suas ideias ultrapassadas e virulentas. Tem feito críticas públicas ao governo e recentemente divulgou estapafúrdia e disparatada sugestão de renúncia do presidente da República.

No início de 2019, criticou o presidente Bolsonaro por haver colocado poucos militares no governo, afirmando que as Forças Armadas teriam de ser mais prestigiadas. Um ano depois, inverteu o posicionamento e publicou duras críticas aos militares que estariam, segundo ele, povoando em demasia a administração. Em resposta, o vice-presidente Hamilton Mourão ironicamente sugeriu que Carvalho voltasse à função de astrólogo.

As declarações de Olavo de Carvalho e seus seguidores no governo causam danos que vão além do plano político-administrativo. Exemplo disso foram os ataques à China relativamente ao coronavírus e mais recentemente sobre o sistema de internet móvel 5G. O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub criou constrangimento diplomático ao insinuar que o governo chinês se beneficiou propositalmente com a pandemia, posição seguida também por Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos do presidente, dententores de mandato e intimamente ligados ao governo.

Tratamento ou insinuações irresponsáveis são inaceitáveis com qualquer país e prejudiciais economicamente quando se trata de importante parceiro comercial que ocupa o primeiro lugar como destinatário das exportações brasileiras (US$ 51,3 bilhões de dólares nos primeiros dez meses deste ano). A china é também importante parceiro em acordos comerciais e intercâmbios nas áreas de saúde, tecnologia e infraestrutura.

Portanto, esses ataques sistematicamente potencializados pela mídia oposicionista geram imagem negativa para o país e causam prejuízos diversos, porque governos de extremos e instáveis são vistos com desconfiança pelo mercado externo, pelos grandes investidores.

Olavo de Carvalho é figura polêmica, controversa e até bizarra, qualquer pessoa pode pesquisar e conhecer o seu perfil nada abonador. Porém, é inteligente e obstinado o bastante para buscar e consolidar seus propósitos. Vem plantando em milhares de seguidores manipulados a semente de seus ideais anacrônicos e questionáveis. É de se esperar natural germinação e multiplicação de tais ideias. Então, quantas centenas de “olavos” a sociedade brasileira poderá colher em breve futuro? Isto é suficiente motivo para preocupação no presente.

*É  empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal. Como ministro foi o criador do “Zé Gotinha”.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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O que Olavo e Greta têm em comum?

Por Hamilton Carvalho

Se tem uma coisa que eu sempre senti falta em automóvel foi um sensor para me alertar sobre o nível da bateria. Em várias oportunidades, inclusive com bebê no colo, fiquei completamente vendido. Ela pifava sem qualquer sinal prévio.

A mesma ideia de sensores de problemas pode ser aplicada às sociedades humanas. Como veremos, nem sempre esses sensores apontam para problemas reais, mas a ideia é útil para compreender como sociedades mudam para o bem e para o mal.

Represento esse processo de mudança social usando uma abordagem sistêmica, mostrada na figura abaixo. Não se assuste. O conceito é simples.

Sensores são o início do processo. São indivíduos que percebem uma tensão entre as coisas como elas são e como eles gostariam que elas fossem. Isto é, percebem, a seu modo, que algo não vai bem.

Greta Thunberg e Olavo de Carvalho exerceram esse papel nos últimos anos. Evidentemente, a primeira está amparada em ciência sólida, enquanto o mundo sonhado pelo segundo é um em que eu certamente não quero viver.

O modelo, como pode ser percebido, é neutro em relação ao grau de racionalidade da mudança pretendida. Ele serve para explicar o avanço do bolsonarismo, o (inacreditável) endosso oficial no Brasil a terapias “alternativas” para enfrentar o coronavírus e a dificuldade no progresso de boas soluções, como a proposta de reforma tributária desenhada pelo economista Bernard Appy.

Vale dizer que as tensões percebidas pelos sensores costumam vir de algumas fontes conhecidas, como novas evidências científicas, ideias e práticas internacionais e tendências sociais de longo prazo. Um exemplo das últimas é a inequívoca tendência à suavização do poder e de hierarquias que testemunhamos desde meados do século passado, em contextos familiares, corporativos e sociais, muito bem contada no livro “O Fim da Liderança”, da professora Barbara Kellerman.

A tensão percebida entre a realidade desagradável e aquela desejada, por sua vez, tende a se transformar em uma narrativa, com apelo variado. Alguns fatores influenciam na força desse apelo, como a coerência interna da narrativa, a credibilidade percebida dos proponentes e a identidade conferida aos apoiadores. Como diz o guru de marketing Seth Godin, crie um bom mapa e as pessoas te seguirão. Dependendo da atratividade da ideia, grupos de apoio se formam facilmente.

Porém a mudança social seria menos provável se não fosse pela ocorrência fortuita de eventos catalisadores. Como vimos com o triste assassinato de George Floyd, são eventos que catalisam de fato a atenção da sociedade para uma causa ou problema até então percebidos como algo abstrato. Novamente, a causa pode nem ser a de nosso gosto, mas o ponto é que eventos traumáticos – uma facada em um candidato presidencial, um desastre climático, a cobertura vívida da imprensa americana de uma operação na Guerra do Vietnã – costumam levar adiante a pressão pelo que se pretende mudar.

É comum também que haja grupos contrários. Pense, por exemplo, na dificuldade que tem sido avançar com propostas de tributação do CO2 mundo afora ou mesmo com medidas racionais e promotoras de eficiência econômica, como a reforma tributária no Brasil. Para cada causa de natureza socioeconômica –violência, racismo, tabagismo, emergência climática– costuma haver um equilíbrio de poder que favorece quem se beneficia de um status quo ruim.

Mesmo assim, o processo de mudança às vezes tropeça para frente, mobilizando setores crescentes da sociedade e, em menor grau, do governo, em um ciclo recíproco de influência. Hoje então isso é muito claro: tem ator político que só governa à base do humor e das ondas captadas nas redes sociais.

Mas nada é determinístico nesse processo. O apoio encontrado nos canais institucionais pode simplesmente ficar travado ou minguar, dependendo do balanço de forças e de outros fatores aleatórios, ou pode evoluir fortuitamente para o desenho de alguma política pública ou medida mais simbólica.

Aqui é que a porca geralmente torce o rabo no Brasil, pois temos clara alergia à racionalidade e uma inescapável atração pelo pensamento mágico. Tenho tratado neste espaço de políticas públicas equivocadas produzidas em série por nossas instituições, como os tiros no pé dados na atual pandemia. Às vezes a gente acerta, mas infelizmente tem sido raro.

Perceba, por fim, que o resultado do processo nem sempre é uma política pública formal. Pode acontecer também aquilo que se conhece como empreendedorismo de normas sociais – uma alteração na tolerância social para determinadas práticas. Um exemplo negativo é o problema da violência, que tem levado a incentivos implícitos ou explícitos de agentes públicos à brutalidade policial. Um exemplo positivo é a maior intolerância social para tristes práticas outrora vistas como normais, como o racismo e a discriminação sexual.

Uma coisa é certa: a mudança social é tudo, menos linear.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

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Olavo de Carvalho e a “ausência que preenche”

Olavo Carvalho é o enfadonho astrólogo autoproclamado filósofo (Foto: reprodução/Youtube)

Por Emerson Linhares*

“Para agir corretamente no governo de um Estado, é preciso ouvir muito e falar pouco.”

CARDEAL DE RICHELIEU

Abrir o computador para escrever sobre o “guru” e filósofo Olavo de Carvalho dá até preguiça. Primeiro porque a gente pensa logo na sombra proporcionada pela árvore de grande porte, de uma longevidade magnífica (pode atingir mais de mil anos de existência) e, de acordo com botânicos e geólogos, é utilizada como um medidor de catástrofes naturais do ambiente. Daí para armar uma redinha no carvalho, sobrenome do brasileiro que mora nos Estados Unidos e se balançar como um bom nordestino, seria um bom começo.

Segundo porque Olavo está se tornando enfadonho, metendo o bedelho onde não é chamado e querendo colocar chifres em cabeça de cavalo.

Mesmo assim o notebook foi acionado porque jornalista quer só um mote para fazer a glosa. Eu achei genial a resposta a uma pergunta feita em entrevista ao senador veterano Álvaro Dias (PODEMOS), ex-candidato a presidente da República ano passado. Álvaro foi indagado sobre como ele avaliava a influência de Olavo de Carvalho no governo e ele foi certeiro, cirúrgico: “Se ele se ausentasse, a ausência dele preencheria uma grande lacuna no governo.”

A frase do político paranaense soou poética, mas entra como um uppercut desferido pelo pugilista Rocky Balboa, personagem antológico de Sylvester Stallone. E não é somente isso: muitas pessoas, perto ou longe do presidente Bolsonaro, sabem que a influência é negativa (e enquanto eu escrevia esse artigo, o governo soltava nota asseverando que as críticas do escritor a militares não contribuem com o governo, apesar de mais adiante afagá-lo ao afirmar que ele tem “espírito patriótico”). Bom, isso eu também tenho!

E enquanto não sai de minha cabeça a frase melódica de Álvaro e que me inspirou a escrever não só este artigo, mas que daria para iniciar uma bela letra de música – a ausência que preenche -, a preguiça vai se esvaindo. E só sei que nessa briga verbal de Olavo com os militares, em especial com o vice-presidente da República Hamilton Mourão, não tem como o “guru” mandar um cabo e um soldado para apear o general do poder, como sugeriu um dos filhos de Bolsonaro em relação ao STF.

Inclusive Mourão, que tem se movimentando muito bem nesse xadrez político em Brasília, um terreno sempre movediço e traiçoeiro em várias circunstâncias, não economiza munição para passar recado: “Olavo deve se limitar à função de astrólogo”. Ou de tarólogo né Mourão? Porque ele quer dar as cartas. Não é isso?

Por fim, parece que vai por água abaixo essa ideia de Olavo de influir de forma incisiva nas decisões, posições e pensamentos do governo Bolsonaro. Se queria ser a reencarnação de Armand Jean du Plessis, o Cardeal de Richelieu, a iminência parda do reinado de Luiz XIII, na França do século 17, ao que tudo indica nem se vivesse mil anos como os frondosos carvalhos ele conseguiria. Já para relinchar é só dobrar a esquina do continente, armar uma rede e aproveitar a sombra de sua inutilidade.

*é bacharel em Direito, pós-graduando em Direito Previdenciário e diretor de Jornalismo e Programação da Rádio Difusora de Mossoró

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Por que o Brasil de Olavo e Bolsonaro vê em Paulo Freire um inimigo

Sérgio Haddad*

Folha de S. Paulo

[RESUMO] Biógrafo de Paulo Freire analisa como o principal educador brasileiro, autor de método de alfabetização que estimula alunos a refletirem sobre sua realidade, passou a ser visto como inimigo público e responsabilizado por maus resultados educacionais do país.

Em 29 de maio de 1994, em longa entrevista publicada no caderno “Mais”, da Folha, Paulo Freire comentou as razões de seu método não ter erradicado o analfabetismo no Brasil.

“Em tese, o analfabetismo poderia ter sido erradicado com ou sem Paulo Freire. O que faltou foi decisão política. A sociedade brasileira é profundamente autoritária e elitista. Nos anos 60 fui considerado um inimigo de Deus e da pátria, um bandido terrível. Pois bem, hoje eu já não seria mais considerado inimigo de Deus. Você veja o que é a história. Hoje diriam apenas que sou um saudosista das esquerdas. O discurso da classe dominante mudou, mas ela continua não concordando, de jeito nenhum, que as massas populares se tornem lúcidas”, afirmou na ocasião.

Passados 25 anos, Paulo Freire voltou a ser alvo de ataques nas redes sociais e nos discursos políticos, consequência da nova onda conservadora que assola o país.

Parece ser essa a sina do mais importante educador brasileiro (1921-1997). Cinco décadas atrás, Freire foi preso e exilado pelos militares após o golpe de 1964. Ele desenvolvia na época um programa nacional de alfabetização que seria implantado por João Goulart, inspirado em projeto que desenvolveu no Rio Grande do Norte com cerca de 400 jovens e adultos.

A experiência na cidade de Angicos ganhou notoriedade internacional por se propor a concluir em 40 horas o processo de alfabetização e a formar cidadãos mais conscientes de seus direitos e dispostos a defendê-los de maneira democrática.

O método partia de palavras selecionadas entre as questões existenciais dos alunos, fazendo com que se alfabetizassem dialogando acerca de suas condições de vida, trabalho, saúde, educação e lazer, por exemplo. Unia, portanto, educação com cultura, ao tomar as experiências dos alunos e seus conhecimentos como parte integrante do ato de educar.

Os golpistas de 64 intuíram que o programa, ganhando dimensão nacional, poderia desestabilizar poderes constituídos ao capacitar, no curto prazo, grande quantidade de pessoas para o voto, então vedado aos analfabetos, permitindo que setores populares influíssem de maneira mais consciente em seus destinos. Seria necessário, portanto, banir e deslegitimar o método e seu autor.

Em 18 de outubro de 1964, alguns dias depois de Paulo Freire ter partido para o exílio, o tenente-coronel Hélio Ibiapina Lima —um dos 377 agentes do Estado apontados pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade por violar direitos humanos e cometer crimes durante o regime militar— divulgou o texto final do inquérito que comandou, acusando Paulo Freire de ser “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”.

“Sua atuação no campo da alfabetização de adultos nada mais é que uma extraordinária tarefa marxista de politização das mesmas”, escreveu. Para Ibiapina Lima, Freire não teria criado método algum e sua fama viria da propaganda feita pelos agentes do Partido Comunista da União Soviética. “É um cripto-comunista encapuçado sob a forma de alfabetizador”, informava o relatório.

Na apresentação ao livro de Freire “Educação como Prática da Liberdade”, Francisco Weffort, ministro da Cultura no governo FHC, assim analisou os fatos ocorridos no Brasil: “Nestes últimos anos, o fantasma do comunismo, que as classes dominantes agitam contra qualquer governo democrático da América Latina, teria alcançado feições reais aos olhos dos reacionários na presença política das classes populares… Todos sabiam da formação católica do seu inspirador e do seu objetivo básico: efetivar uma aspiração nacional apregoada, desde 1920, por todos os grupos políticos, a alfabetização do povo brasileiro e a ampliação democrática da participação popular… Preferiram acusar Paulo Freire por ideias que não professa a atacar esse movimento de democratização cultural, pois percebiam nele o gérmen da derrota”.

E acrescentaria: “Se a tomada de consciência abre caminho à expressão das insatisfações sociais, é porque estas são componentes reais de uma situação de opressão”.

Exilado por 15 anos —tendo passado por Bolívia, Chile, EUA e Suíça—, Freire regressaria ao Brasil em 1980, reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes educadores do mundo. Havia percorrido diversos países a convite de universidades, igrejas, grupos de base, movimentos sociais e governos. Nos últimos dez anos de seu exílio, trabalhando no Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, totalizaria cerca de 150 viagens a mais de 30 países.

No seu retorno, começaria a dar aulas na PUC de São Paulo e na Unicamp. Em fins de 1988 seria convidado pela prefeita eleita de São Paulo Luiza Erundina para ser secretário municipal da Educação. As eleições daquele ano marcariam o início da ascensão dos governos de oposição aos grupos que se mantinham no poder desde o golpe militar, com o PT governando vários municípios, posteriormente estados, e, finalmente, assumindo a Presidência da República, nas eleições de Lula e Dilma.

Frente às inúmeras pressões das quais era alvo, Paulo Freire não completou sua gestão como secretário, passando o cargo ao professor Mário Sérgio Cortella, chefe de gabinete, em 1991. Suas orientações, no entanto, foram mantidas até o final da gestão, e acabariam por influenciar outros municípios e governos estaduais no campo da democratização da gestão e das inovações pedagógicas.

Em 1º de maio de 1997, com a saúde fragilizada, Paulo Freire daria entrada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para uma angioplastia, mas complicações na reabilitação o levariam à morte no dia seguinte.

Paulo Freire seria agraciado em vida e in memoriam com 48 títulos de doutor honoris causa por diversas universidades no Brasil e no exterior. Instituições de ensino de várias partes do mundo o convidaram para tê-lo no corpo docente. Foi presidente honorário de pelo menos 13 organizações internacionais.

Diversos outros títulos, homenagens e prêmios lhe seriam concedidos ao longo da vida e depois da morte: mais de 350 escolas no Brasil e no exterior receberiam seu nome, assim como diretórios e centros acadêmicos, grêmios estudantis, teatros, bibliotecas, centros de pesquisa, cátedras, ruas, avenidas, praças, monumentos e espaços de movimentos sociais e sindicais.

Em 1995, seria indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Em 13 de abril de 2012, foi declarado patrono da educação brasileira por iniciativa da agora deputada federal Luiza Erundina (então no PSB, hoje no PSOL).

Seus livros se espalharam pelo mundo. “Pedagogia do Oprimido” ganhou tradução em mais de 20 idiomas. Estudo de junho de 2016 do professor Elliott Green, da London School of Economics, afirma que essa era a terceira obra mais citada em trabalhos da área de humanas em todo o mundo, à frente de trabalhos de pensadores como Michel Foucault e Karl Marx.

É também o único título brasileiro a aparecer na lista dos cem livros mais requisitados por universidades de língua inglesa. Em dezembro de 2018, a Revue Internationale d’Éducation de Sèvres, publicação francesa de prestígio, apontou Freire como um dos principais educadores da humanidade.

A despeito de tão vasto reconhecimento, Freire vem sendo reiteradamente desqualificado no debate público brasileiro desde a recente ascensão de setores conservadores.

Na onda intolerante que se formou no país após 2015, a partir da crise do governo Dilma Rousseff (PT), grupos foram às ruas com propostas antidemocráticas, homofóbicas, racistas e machistas. Era comum encontrar nas manifestações frases do tipo “Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo Freire!”.

Com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado, as críticas ao educador e ao seu pensamento ganharam reforço contundente, estimuladas pelo escritor Olavo de Carvalho, de quem o presidente é seguidor.

Durante a campanha eleitoral, em palestra para empresários no Espírito Santo, o então candidato Bolsonaro afirmou: “A educação brasileira está afundando. Temos que debater a ideologia de gênero e a escola sem partido. Entrar com um lança-chamas no MEC para tirar o Paulo Freire de lá”. E complementou: “Eles defendem que tem que ter senso crítico. Vai lá no Japão, vai ver se eles estão preocupados com o pensamento crítico”.

Em seu discurso de posse, o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, insistiu: “Se o Brasil tem uma filosofia de educação tão boa, Paulo Freire é uma unanimidade, por que a gente tem resultados tão ruins comparativamente a outros países? A gente gasta em patamares do PIB igual aos países ricos”.

A tentativa de banir Freire das escolas angariou forte apoio nas redes sociais desde a campanha. Grupos atacam a qualidade literária dos textos e da pedagogia de Freire, acusando-a de proselitismo político em favor do comunismo; responsabilizam o educador pela piora na qualidade do ensino, argumentando que, quanto mais é estudado e lido nas universidades, mais a educação anda para trás; afirmam que seus escritos estão ultrapassados, que o lugar de fazer política é nos partidos, não nas escolas.

Não há base empírica que comprove essas afirmações. Freire nunca foi comunista, ainda é mais lido nas universidades do exterior do que nas brasileiras, nunca pregou uma educação partidária nas escolas. Do mesmo modo, a crítica à qualidade literária de seus livros não se sustenta. Tais opiniões são proferidas por setores atrasados, que desrespeitam a pluralidade de ideias, sem compromisso com os ideais democráticos de liberdade de opinião. Não reconhecem no educador, tendo lido ou não as suas obras, concordando ou não com o seu pensamento, um interlocutor consagrado e respeitado.

Um dos principais adversários das ideias de Paulo Freire, o movimento Escola Sem Partido se propõe a coibir a doutrinação ideológica nas escolas. Estabeleceu como estratégia política aprovar leis para vigiar as ações de professores nas escolas, produzindo um clima de perseguição política e denuncismo. Em nome de uma inexistente neutralidade, omissos em relação aos verdadeiros dilemas da educação brasileira, tentam desqualificar Freire.

Uma proposta legislativa patrocinada pelo movimento obteve as assinaturas necessárias para que o Senado discutisse retirar o título de patrono da educação brasileira de Freire. Depois de uma intensa batalha, a demanda não foi aprovada.

Freire acreditava no diálogo como método de apreensão do conhecimento e aumento da consciência cidadã. Defendia que os educandos fossem ouvidos, que exprimissem as suas ideias como exercício democrático e de construção de autonomia, de preparação para a vida. Propunha o diálogo efetivo, crítico, respeitoso, sem que o professor abrisse mão de sua responsabilidade como educador no preparo das aulas e no domínio dos conteúdos.

Era contra a educação de uma via só, em que o professor dita aulas e o aluno escuta; em que o primeiro sabe e o segundo, não; em que um é sujeito e o outro, objeto. Para ele, todos tinham o que aportar neste processo de diálogo, assim como todos aprendiam em qualquer processo educativo: “Não há docência sem discência”, afirmaria.

Freire foi criticado também em setores progressistas por ser idealista, por sua linguagem com ênfase no masculino nos primeiros trabalhos, por ser contra o aborto, por desconsiderar os conteúdos nos processos educativos, pela insuficiência do seu método. Nunca foi unanimidade nos corredores das universidades, e nem esperava por isso.

Coerente com o que escrevia e pensava, procurou tratar seus interlocutores e críticos, fossem eles de qualquer espectro, com igual respeito. Aprendia com os diálogos, os debates e as polêmicas nos quais se envolvia, refazendo muitas das suas posições. Olhava a educação como um produto da sociedade, reflexo de projetos políticos em disputa, naturais em qualquer sociedade democrática que aposta no debate de ideias para constituição do seu futuro.

Não acreditava em uma educação neutra, verdade reconhecida há anos pela sociologia da educação, mais uma vez constatada na gestão do ex-ministro da Educação de Bolsonaro Ricardo Vélez Rodríguez.

Indicado por Olavo de Carvalho, tentou impor comportamentos e valores para toda a rede de ensino, com propostas de obrigar os alunos a cantarem o hino nacional, controlar as provas do Enem, alterar os livros didáticos para negar que tenha havido golpe militar em 1964, numa clara tentativa de reescrever a história aos moldes do seu grupo político.

Demitido antes de completar cem dias no cargo, Vélez apresentava claro apetite para a guerra cultural, mas se mostrava totalmente inoperante para os problemas reais da sua pasta.

O novo ministro, Weintraub, economista com mestrado em administração, atuou por mais de 20 anos no mercado financeiro. A exemplo de Vélez, nunca exerceu cargo de gestor público em educação. É também um seguidor de Olavo de Carvalho e, aparentemente, não deixará de lado o discurso de combate ideológico. Weintraub é mais um que enxerga comunistas em todas as partes, dominando as universidades, os meios de comunicação e, inclusive, setores do mercado.

Em sentido oposto, Paulo Freire, como cristão comprometido com os mais pobres e discriminados, bebeu de diversas teorias para realizar pedagogicamente valores que tinham como fundamento uma profunda crença na capacidade de o ser humano se educar para ser partícipe na construção de um mundo melhor, de acordo com os seus interesses.

Em seu percurso intelectual, não se ateve a uma corrente de pensamento, tendo sido muitas vezes criticado por isso. Escolhia, dentre as diversas teorias, aquelas que melhor ajudassem a realizar o seu compromisso ético de cristão ao lado dos oprimidos, inclusive o marxismo. Em diálogo com Myles Horton, educador norte-americano, no livro “O Caminho se Faz Caminhando”, reafirmaria sua postura: “Minhas reuniões com Marx nunca me sugeriram que parasse de ter reuniões com Cristo”.

Quando perguntado, Freire não se recusava comentar de forma crítica os abusos do regime comunista. Na mesma entrevista citada no início deste artigo, afirmou que o fim do comunismo no Leste Europeu havia representado uma queda necessária não do socialismo, mas de sua “moldura autoritária, reacionária, discricionária, stalinista”.

Freire deixou um texto inacabado, interrompido pela sua morte, posteriormente publicado por Nita, sua segunda esposa, em “Pedagogia da Indignação”. Nele, comentava o assassinato do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo por cinco jovens em Brasília. “Tocaram fogo no corpo do índio como quem queima uma nulidade. Um trapo imprestável”, escreveu. Refletindo sobre quem seriam os jovens, indagou que exemplos, testemunhos e ética os levariam a essa “estranha brincadeira” de matar gente. “Qual a posição do pobre, do mendigo, do negro, da mulher, do camponês, do operário, do índio neste pensar?”

Diante do ocorrido, proclamaria o dever de qualquer pessoa que educa de lutar pelos princípios éticos mais fundamentais. Concluiria afirmando que, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Em “Política e Educação Popular”, um dos mais importantes trabalhos sobre Freire, o professor Celso Beisiegel afirma que o seu compromisso do educador com os oprimidos estaria levando a um estreitamento das possibilidades de utilização das suas práticas pedagógicas —referia-se ao tempo dos governos autoritários instalados na América Latina nos anos 1960 e 1970. Beisiegel questionava se o educador não estaria se aproximando da realização daquela imagem do “ser proibido de ser”, concluindo: “Não seria inaceitável dizer que Paulo Freire veio se aproximando da realização da figura do educador proibido de educar”.

Não é muito distante do que está ocorrendo hoje no Brasil.

*é doutor em educação pela USP, pesquisador da Ação Educativa e professor da Universidade de Caxias do Sul. Prepara biografia de Paulo Freire a ser lançada pela editora Todavia.

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Artigo

Hitler gargalhava quando o nazismo era confundido com a esquerda

Por João Carlos Magalhães

The Intercept

O que Adolf Hitler diria do disparate de que o nazismo “é de esquerda”, como afirmam o presidente Jair Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, e o guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho? Ele provavelmente iria rir alto.

De fato, gargalhar era o que Hitler e seus colegas nazistas faziam quando eram confundidos com os “vermelhos”, com quem disputaram na porrada o poder durante os turbulentos anos que antecederam o início do Terceiro Reich. Quem conta é o próprio Hitler, em “Minha Luta”, o misto de autobiografia e manifesto de ódio lançado em 1925 no qual a ideologia nazista foi consolidada.

Em um capítulo devidamente intitulado “A Luta com os Vermelhos”, Hitler narra como seu partido era muitas vezes confundido com o do seus inimigos da esquerda, principalmente pelos “burgueses comuns” que, escreveu Hitler, “ficavam muito chocados por nós termos também recorrido à simbólica cor vermelha do bolchevismo”.

Segundo ele, muitas pessoas “nos círculos nacionalistas sussurravam que éramos apenas uma variação de marxistas, talvez marxistas disfarçados ou, melhor, socialistas.” Mais do que a cor vermelha, escreveu o futuro Führer, esses “nacionalistas” pareciam preocupados com a linguagem usada pelos nazistas, que chamavam um ao outro de “camaradas”, como comunistas faziam.

Hitler afirma que a confusão – em certa medida incitada pelos próprios nazis como estratégia publicitária – era, para ele, hilária.

“Quantas boas gargalhadas demos à custa desses idiotas e poltrões burgueses, nas suas tentativas de decifrarem o enigma da nossa origem, nossas intenções e nossa finalidade! A cor vermelha de nossos cartazes foi por nós escolhida, após reflexão exata e profunda, com o fito de excitar a esquerda, de revoltá-la e induzi-la a frequentar nossas assembleias; isso tudo nem que fosse só para nos permitir entrar em contato e falar com essa gente.”

Anos depois de ter escrito o livro, Hitler usaria esse mesmo horror da “burguesia” nacionalista ao marxismo para arregimentar apoio da elite industrial alemã ao seu projeto autoritário. Uma vez empossado chanceler, em 1933, Hitler usou o incêndio no Reichstag como prova que de os comunistas estavam conspirando contra o seu governo. E, em 1934, ordenou a destruição das chamadas SA, uma facção paramilitar nazista comandada por Ernst Röhm, mais simpático às ideias comunistas. O violento expurgo, no qual centenas foram assassinados, foi apelidado de a Noite dos Longos Punhais.

O completo absurdo das declarações de Bolsonaro e companhia fica imediatamente claro para qualquer leitor mediano que tenha estômago para consultar o “Minha Luta” – proibido em vários países, mas facilmente encontrável na internet. Desde o início do livro, Hitler explicita que o anti-marxismo era, para ele, inseparável do antissemitismo e que ambos são o motivo fundante do nazismo. Em uma passagem em que explica seu processo de politização em Viena, Hitler chega a listar o primeiro antes do segundo: “Meus olhos se abriram para dois perigos, cujos nomes e significado terrível para a existência do povo alemão eu mal conhecia. Esses dois perigos eram o marxismo e o judaísmo”.

Mais do que essa imaginada conexão entre marxistas e judeus, Hitler tinha repulsa ao ideário igualitário universal comunista. Com razão, já que ele contradiz o núcleo ideológico nazista, segundo o qual a “raça” ariana seria inerentemente superior, tendo, portanto, direito sobre as demais. Como escreveu o propagandista do Reich, Joseph Goebbels, num famoso livreto de propaganda de 1926: “O marxismo, cujas teorias são fatais para os povos e raças, é exatamente o oposto do [nacional] socialismo.”

Ao longo de sua autobiografia, Hitler descreve o marxismo diversas vezes como uma doença pestilenta, uma doutrina irracional e um risco existencial à Alemanha, que deveria ser combatido e aniquilado. Diz ele:

“Nos anos de 1913 e 1914, expressei minha opinião pela primeira vez em vários círculos, alguns dos quais agora são defensores do movimento nacional socialista, de que o problema sobre como o futuro da nação alemã pode ser assegurado é o problema sobre como o marxismo pode ser exterminado”.

Depois, reafirma: “No dia em que o marxismo for quebrado na Alemanha, os grilhões que nos prendem serão esmagados para sempre”. Disse ainda, ao rememorar eventos de 1923: “A primeira tarefa em um governo verdadeiramente nacionalista era procurar e achar as forças que estivessem decididas a lutar uma guerra de aniquilação contra o marxismo e, em seguida, dar liberdade de ação a essas forças.”

Não surpreende que os marxistas tenham sido um dos primeiros grupos a ser levados para campos de concentração, nos quais foram assassinados às centenas de milhares. Nem que todos os grupos neonazistas do pós-guerra mantenham o ódio à esquerda como ponto ideológico central.

Ninguém, no Brasil ou no exterior, precisa acreditar em jornalistas ou em historiadores para saber que o nazismo se opunha frontalmente ao comunismo. Basta ler as palavras de Hitler.

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Reportagem

CARTA DE OLAVO DE CARVALHO EM 2006 ANUNCIAVA AS DISCUSSÕES DO BRASIL DE HOJE

Por João Brizzi e Fabricio Pontin

The Intercept

EM JUNHO DE 2006, Olavo de Carvalho estava em um beco sem saída.

Ele havia se mudado há pouco mais de um ano para os Estados Unidos, época em que também perdeu sua coluna no jornal O Globo. Seu estilo bonachão e irônico, um estranho cruzamento da sofisticação clássica com a gritaria patriótica de Enéas Carneiro, não tinha feito muitos amigos para Olavo nos círculos intelectuais.

Parece estranho imaginá-lo andando entre jornalistas, mas Olavo acumulava passagens por Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, entre outros. Em dado momento dos anos 90, chegou a trocar farpas com Muniz Sodré, um dos fundadores da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar dos desafetos criados, Olavo teve todo o tempo do mundo para estudar seu alvo – a esquerda brasileira – com alguma proximidade.

Planos traçados, o filósofo escreveu, no dia 20 de junho de 2006, uma carta pedindo doações pela internet para terminar um livro.

Identificando o inimigo

“Desde que cheguei aos EUA, em maio de 2005, assumi como dever pessoal, fora e independentemente do meu trabalho de correspondente jornalístico e da preparação do livro A Mente Revolucionária, informar ao maior número possível de jornalistas, intelectuais, empresários e políticos americanos a verdade sobre o estado de coisas no Brasil, a abrangência dos planos do Foro de São Paulo, a aliança entre partidos de esquerda e organizações criminosas, a colaboração ativa e essencial do governo Lula na revolução continental cujas personificações mais vistosas são Hugo Chávez e Evo Morales.”

No espaço de uma década, a ideologia de Olavo conseguiu derrubar um presidente e eleger outro.

Como diabos um intelectual marginalizado e exilado consegue influenciar, longe do Brasil, um movimento e se torna um dos maiores atores da direita na história recente do Brasil?

Para compreender isso precisamos, antes de mais nada, fazer algo que é proibido dentro dos altos círculos intelectuais brasileiros. Teremos de reconhecer alguns méritos de Olavão.

Entre 1994 e 1996, o escritor lançou uma triologia mezzo filosófica mezzo crítica à esquerda, na qual ele diz que a “elite formadora da opinião pública” teria aparelhado universidades, veículos de comunicação e o raio que o parta na missão de instaurar a mentalidade comunista sobre a incauta população brasileira. Na carta em que pede doações, ele explica as intenções do livro, nunca publicado e que teria objetivo imediato de “conscientizar a elite americana da loucura que faz ao dar suporte político, jornalístico e financeiro a organizações latinoamericanas de esquerda” que conspirariam “no sentido de manter uma ajuda bilionária sem a qual a revolução comunista na América Latina morreria de inanição”.

Olavo vai adiante e explica como, nos Estados Unidos, aprendeu o que é democracia:

“A democracia não dá liberdade a ninguém. Apenas dá a cada um a chance de lutar pela liberdade. A gente percebe isso, materialmente, na coragem e disposição de combate com que tantos americanos, hoje, se erguem contra o establishment esquerdista chique e não raro conseguem vencê-lo usando os meios postos à sua disposição pelo Estado de direito. Esses meios estão também ao alcance de quem deseje restabelecer a verdade sobre o Brasil.”

Para além disso, o filósofo goteja nomes famosos – Rockefeller, Foro de São Paulo, Ford e por aí vai – na missão de estabelecer ligações financeiras e políticas que justificariam a tal ascensão da esquerda no Brasil.

De certa forma, é como se a carta de Olavo fosse recitada a cada defesa de Bolsonaro, a cada fala de Kim Kataguiri pelo MBL e a cada briga no Zap da família. Mas se A Mente Revolucionária nunca saiu, como ele conseguiu espalhar a palavra?

O período de transição

No mesmo ano, Olavo começou a publicar o True Outspeak, podcast que usava para comentar política e cultura. Mas foi só em 2009 que ele deu início ao que seja, talvez, seu trabalho mais importante: o Curso Online de Filosofia.

Olavo reconheceu uma carência enorme de orientação por parte não apenas de jovens de direita, mas de jovens – ponto. Olavo ofereceu uma saída com uma linguagem sofisticada o suficiente para que o seu alvo não se sentisse burro, mas engraçada o suficiente para que ele se sentisse legal, e ofereceu isso nos termos da internet. Olavo criou fóruns de discussão, fazia crônicas semanais temáticas junto com apostilas de orientação intelectual falando dos clássicos gregos em uma linguagem acessível. Olavo, acima de tudo, entregava (e ainda entrega!) um excelente produto que dava retorno ao investimento feito pelo aluno.

Imaginem a surpresa de seus estudantes. Este cara que está nos Estados Unidos e manja de filosofia, misticismo, política e fala um monte de palavrão, esse cara responde minhas mensagens!, fala comigo como se eu fosse uma pessoa normal!, diz que eu sou inteligente!

Diante da postura intelectual dos baluartes da alta cultura nacional, que perdem tempo falando mal de funk enquanto vomitam lugares comuns sobre psicanálise e ignoram qualquer manifestação ou sentimento popular como uma espécie de sujeira acrítica, Olavão oferece uma alternativa: um mecanismo de inclusão dentro de uma espécie de alta cultura alternativa, algo que é, ao mesmo tempo, uma contracultura e uma comunidade onde transitam pessoas que acreditam ter acesso a um caminho alternativo – e melhor! – para pensar o mundo.

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Eram quatro os livros na mesa de Jair Bolsonaro durante o primeiro discurso do Presidente eleito: a ‘Bíblia Sagrada’; a constituição brasileira de 1988; ‘Memórias da Segunda Guerra Mundial’, de Winston Churchill; e ‘O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota’, de Olavo de Carvalho.

Até 2013, o olavismo era consideravelmente periférico, ainda que bem-sucedido. Entre 2006 e 2013, Olavo alimentou seus fóruns, fez visitas guiadas para seu bunker nos EUA, editou livros e organizou transmissões semanais em áudio e vídeo com sucesso absurdo. Também reeditou seus trabalhos de leitura dos clássicos (especialmente o Jardim das Aflições, livro da trilogia que o próprio Olavo ainda encara como sua magnum opus), e foi editado por Felipe Moura Brasil, influenciador político da Jovem Pan e O Antagonista, em O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota, coletânea de escritos seus.

Este último foi um divisor de águas: lançado em 2013, chegou às prateleiras das livrarias ao mesmo tempo em que o pessoal de verde e amarelo vagarosamente começava a aparecer nas ruas e a bater panelas. De repente, a frase “Olavo tem razão” aparecia em protestos. Figuras em preto e branco com o Olavão fumando eram carregadas por jovens que agora repetiam incessantemente uma ladainha sobre Foro de São Paulo, doutrinação gayzista-comunista e a presença de cloro na água para emascular nossos jovens – essa última é do Doutor Fantástico, mas vá lá. O livro teve mais de 300 mil cópias vendidas; mais de 12 mil alunos passaram pelas fileiras de seus cursos.

O estrago ainda era ignorado, mas já estava feito.

Olavo hoje

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Foto: Vivi Zanatta/Folhapress

De lá para cá, Olavo deixou de ser uma figura periférica para gradualmente se tornar a figura intelectual mais importante e influente do Brasil. Essa frase não vai nos fazer nenhum novo amigo nas universidades públicas, mas dane-se: Olavo de Carvalho se torna a figura intelectual mais importante e influente do Brasil ao entender que existe um movimento carente de uma linguagem que possa criar aderência rápida, que possa capturar a imaginação das pessoas sem grandes complicações e que, sobretudo, não ofenda as pessoas as chamando de burras – ou, para ser mais preciso, dizendo a todos que são burros, menos a seus seguidores.

Olavo detesta Gramsci. O velho marxista italiano admirado por muitos dos ideólogos do PT, inclusive, é um dos alvos mais constantes de ataque por parte do Olavão. Desde 1994 alguém – não nós – ouve o Olavão falando da nova classe intelectual, da multiplicação de uma hegemonia de esquerda, e usando os conceitos de Gramsci para acusar o governo Fernando Henrique Cardoso, ou Lula, ou Dilma, desta ou daquela nova e relevante conspiração para dominar tudo que a sociedade civilizada considera importante. É irônico, portanto, que Olavo, mais que ninguém no Brasil de hoje, se encaixe tão bem com o que Gramsci chamava de “intelectual orgânico” – aquele que se mantém conectado aos dilemas que o originaram.

Olavão, ao verificar que não havia clima para o tipo de discurso que ele andava fazendo ali no início dos anos 2000, fez um movimento estratégico para criar esse clima. Ele explora vulnerabilidades do nosso sistema educacional e da própria configuração do nosso ensino superior; ele explora a atitude classista da alta intelectualidade carioca e paulistana que teima em discutir esse ou aquele detalhe na obra de Adorno e não se dá conta que está alienando uma fatia enorme da população que teria, inclusive, potencial de colaborar para a construção de uma universidade realmente plural.

É fácil acusar seus admiradores de serem burros, manipulados, idiotas. Mas fazer isso é garantir uma manada de novos admiradores ao Olavo. É fácil dizer que Olavo é maluco, pirado, que ele comete erros na interpretação do livro Z da Metafísica de Aristóteles no Imbecil Coletivo, ou que a interpretação que ele faz deste ou daquele aspecto da fenomenologia husserliana é completamente inaceitável. Tudo isso é muito fácil. E também estúpido.

O leitor de Olavo está feliz da vida que alguém esteja falando com ele sobre todos esses temas ao mesmo tempo que fala sobre política, religião, mostra foto dos cachorros, vai caçar, admite que errou ou que acertou e ainda por cima lacra muito nos debates com esquerdopatas. O leitor do Olavo tem uma comunidade de afeto, política e intelectual, que ele dificilmente teria conseguido em qualquer universidade, especialmente nos termos que o professor oferece: uma inclusão sem conversão automática. É uma conversão gradual, voluntária, comunitária. Quando visto de perto, o fenômeno é absolutamente espantoso.

Agora, em 2018, Olavo pauta a direta e, indiretamente, a linguagem de Bolsonaro no horário eleitoral e tem impacto relevante em alguns dos deputados federais mais votados em São Paulo. Olavo virou um guru para toda a nova direita que se consolidou nestas eleições. Essa consolidação do discurso de Olavo, que passou da insignificância para a periferia e da periferia para o mainstream talvez tenha atingido seu ponto mais alto no último capítulo dessa novela ridícula, com Caetano Veloso atacando Olavo por ser autoritário e pedindo a “mobilização daqueles que não concordam com esse tipo de discurso”.

O ataque soa como um ato de desespero, fruto da percepção de que uma oportunidade foi perdida; uma tentativa de entrar correndo num trem que já passou. Caetano agora – quem diria? – ocupa posição periférica no discurso cultural brasileiro. Ele precisa surfar a onda de Olavo para tentar aparecer para além de seu público podre de rico sedento por rimas ricas. Caetano Veloso, um dos grandes símbolos da alta cultura, que já foi notícia até quando estacionou o carro no Leblon, precisa apelar para ser reconhecido por Olavo como alguém digno de discussão para realmente aparecer.

Caetano agora – quem diria? – ocupa posição periférica no discurso cultural brasileiro. Ele precisa surfar a onda de Olavo para tentar aparecer para além de seu público podre de rico sedento por rimas ricas.

Exausto, ele declara no final da carta:

“Preciso de ajuda já. Não quis pedi-la antes de chegar ao meu limite. Já cheguei. Por favor, me ajudem a salvar a honra do Brasil. Não quero chegar à velhice extrema pensando que vim de um país que se deixou estrangular sem exercer nem mesmo o direito de espernear. Quero exercer esse direito até o fim, com esperneadas vigorosas que pelo menos deixem o assassino da pátria com uma inesquecível dor na bunda.”

Se ele era uma piada, cabe perguntar quem está rindo agora.

A cultura agora é do Olavão. A gente só vive nela.