Um dos assuntos mais comentados no final de semana no país foi o desabafo do ator Pedro Cardoso no programa “CNN Arena”, da CNN Brasil, em que ele faz um desabafo sobre a qualidade do debate no jornalismo brasileiro.
Pedro disse o que muitos brasileiros sentem ao ligar a TV ou acessar a Internet e acessar um canal da mídia hegemônica, totalmente submetida as vontades do mercado financeiro.
O ator mostrou que não importa a quantidade de debatedores se praticamente todos dizem a mesma coisa ao mostrar que CNN pratica o que ele classificou como “imobilidade de pensamento”. “Há uma questão de linguagem. O fascismo brasileiro exerce um domínio sobre as consciências do povo ao controlar os discursos. Então quando fiz um comentário sobre o que nós estamos discutindo aqui é um convite a vocês, que são profissionais, que reflitam sobre essa prática que simula um diálogo, que na verdade é uma sucessão de monólogos e eu explico: o diálogo pressupõe um sincero interesse pelo pensamento do outro. Se nenhum de nós não temos um sincero interesse no pensamento do outro nós vamos ouvir e esperar a nossa vez de falar e então confirmar aquilo que sempre achamos porque não estamos nos deixando modificar em momento algum pelo pensamento do outro”, disparou.
O debate girava em torno do debate sobre as ameaças sofridas pelo senador Sérgio Moro (União Brasil/PR). “Me causa espanto. O Brasil está profundamente adoecido moralmente porque nós estamos aqui falando há dez minutos sobre uma pessoa chamada Sérgio Moro e ele está sendo tratado aqui como se ele fosse uma pessoa muito digna, muito correta… enquanto que ele é uma pessoa que tramou com o acusador para colocar uma pessoa na cadeia. Ninguém tem que ser ameaçado de coisa alguma, mas, me desculpe, milhões de brasileiros são ameaçados de morte pela pobreza que vivem e proximidade do crime organizado”, lembrou.
No final da participação ele lançou um desafio aos jornalistas da bancada: “E eu pergunto a vocês: vocês são pessoas livres? Vocês quando vão trabalhar, vocês sentem alguma pressão do interesse do capitalista que emprega vocês?”, questionou.
Em vez de responder a pergunta o jornalista Felipe Moura Brasil encerrou a conversa e anunciou a entrevista com o ministro chefe da secretaria de comunicação social Paulo Pimenta.
De forma empírica, Pedro Cardoso deu uma aula sobre uma das teorias clássicas do jornalismo: o “Gatekeeper”. Em tradução literal a palavra significa “porteiro”. É uma teoria adaptada da psicologia para a comunicação pelo pesquisador David Manning White nos anos 1950 que trata das decisões subjetivas e arbitrárias tomadas pelos que têm poder de decisão sobre o que pode ou não ser noticiado.
A seleção de notícias na CNN e nas outras empresas segue uma regra de interesses do mercado financeiro, produzindo falsos consensos diante da falta de opiniões discordantes. Assim, numa reforma como a previdenciária todos a tratam como a solução para os males do país como se não houvesse economistas com pontos de vista diferentes. A nomeação de Dilma Rousseff para presidir o banco dos BRICs é um absurdo para todos os debatedores, da bancada, para citar um exemplo de tema político.
A CNN é um caso mais grave por apostar no “doiladismo” em questões civilizatórias e científicas, abrindo espaço para preconceitos, mas se abstendo dessa prática em temas políticos e econômicos.
Pedro Cardoso colocou o dedo na ferida num problema que há décadas tem uma discussão restrita a academia e deveria ser comentado pela própria mídia, mas segue solenemente ignorado.
Mas aí o porteiro, ou melhor, o “gatekeeper”, é o patrão daí a fuga constrangedora do jornalista Felipe Moura Brasil, que fugiu da resposta a pergunta feita pelo ator.