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Mineiro organiza debate sobre seca e crise ambiental na Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados debateu nesta quinta-feira (14) as previsões de seca severa atingindo a região Nordeste durante o primeiro semestre do próximo ano. A audiência pública com o tema “Seca, crise ambiental e social no Nordeste em 2024: previsões, gravidade e respostas”, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, foi promovida pelo deputado federal Fernando Mineiro (PT-RN), discutindo as previsões de pesquisadores e políticas públicas necessárias para combater e amenizar os efeitos da estiagem sinalizada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CEMADEN/MCTI).

Na ocasião, foram apontadas estratégias e ações emergenciais para enfrentar a estiagem anormal prevista para os primeiros meses de 2024, que deve afetar também a região Norte. As contribuições vieram de pesquisadores, organizações da sociedade civil, e representantes dos governos federal, de estados e municípios. O deputado Fernando Mineiro destacou a importância de ver estudos transformados e executados através de políticas públicas Brasil afora, mas considera a situação alarmante pelas consequências diretas na vida de milhões de pessoas que vivem no semiárido nordestino.

“Entre as ações resultantes da audiência, destaco que precisamos trabalhar com ações estruturantes, como o PAC, e atualizar o Plano Nacional de Combate à Desertificação. Além disso, precisamos retomar o debate no início do próximo ano, ter mais integração entre os órgãos e voltar o olhar para o Nordeste. O centro das discussões climáticas é a Amazônia, mas estamos deixando biomas fundamentais de fora, que são a Caatinga e o Cerrado”, afirmou o deputado.

De acordo com a diretora do CEMADEN, Regina Alvalá, somente neste mês de dezembro já são mais de 5 milhões de nordestinos afetados pelas secas classificadas como severa e extrema.

Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) e considerado um dos maiores especialistas em aquecimento global, foi um dos participantes da audiência e alertou: o aumento das temperaturas, além de poder ampliar as regiões semiáridas do país, tem grandes chances de transformar áreas do semiárido em semi-desertos. A população que vive nas regiões mais atingidas pela seca, além da falta de água, poderá enfrentar problemas relacionados à empregabilidade e redução da renda, provocados por possíveis prejuízos nas produções agrícolas e pecuárias. A seca antecipada e fora do normal, prevista para o período entre março e maio do ano que vem, também pode piorar a seca na Amazônia e causar a chamada “savanização”, transformando quase metade da área de floresta em savanas pobres de biodiversidade.

A pesquisadora Regina Alvalá, do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, apresentou dados referentes aos índices de chuvas previstas para as últimas semanas de 2023, assim como para o primeiro semestre de 2024, com dados indicando precipitações abaixo da média e altas temperaturas.

Já a pesquisadora em agrometeorologia Magna Moura, da Embrapa Semiárido, destacou a importância da atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com o intuito de minimizar os efeitos das secas recorrentes no Nordeste. “A gente tem que tentar minimizar esses impactos utilizando a informação científica, o conhecimento que nós temos e o monitoramento, para tentar se antecipar e trazer soluções para a população”, comentou.

De acordo com os cientistas, essa situação de extremos ambientais – chuvas intensas, ciclones e inundações, por um lado, e secas severas, com intensidade e padrão distintos do observado em períodos anteriores – decorre da combinação de fenômenos como o “El Niño” e o aquecimento global, agravados pela intensificação do efeito estufa. Também participaram da audiência o coordenador da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), Paulo Pedro Carvalho; o secretário de Recursos Hídricos de Pernambuco representando o Consórcio Nordeste, José Almir Cirilo; e o Técnico de Defesa Civil da Confederação Nacional dos Municípios, Johnny Liberato.