Há 12 anos nenhum candidato consegue ultrapassar a barreira dos 3.370 votos nas eleições para vereador em Mossoró. Está é a votação do 10 º vereador mais votado da história de Mossoró, Ricardo de Dodoca, que na época estava no PDT e já perambulou por vários partidos e hoje disputa o quinto mandato pelo União Brasil.
O vereador mais votado é Alex Moacir (na época no PMDB) que obteve 4.701 sufrágios em 2012, batendo o recorde de Francisco José Junior (na época no PP) que recebeu 4.308 votos em 2000.
O segundo vereador mais votado da história é Francisco Carlos (na época no PV) que recebeu 4.452 votos.
A mulher mais votada é Cláudia Regina (na época no extinto DEM) que recebeu 4.205 votos em 2008.
Só estes quatro receberam mais de quatro mil votos em Mossoró.
Por 28 anos, Vingt-un Rosado (na época na Arena) foi o vereador mais votados com incríveis 3.797 votos num contexto em que Mossoró tinha apenas 28.690 eleitores. Um percentual espetacular de 13,46% dos votos válidos. Ele é até hoje proporcionalmente o mais votados de todos os tempos.
Para se ter ideia do tamanho da marca, para um candidato a vereador na eleição de hoje repetir esse feito vai precisar ter inalcançáveis 18.844 votos.
O centenário do escritor Vingt-un Rosado será homenageado por meio de um cordel com a assinatura do ex-editor da Coleção Mossoroense, poeta e jornalista Caio César Muniz.
O lançamento será no próximo dia 25 de setembro no Teatro Dix-huit Rosado a partir das 19h30. A organização do evento informa que todos os protocolos de segurança para evitar o contágio do novo coronavírus serão aplicados.
O cordel que tem ilustração do chargista Brito e Silva está inserido na programação em homenagem ao centenário de Vingt-un Rosado, criador da Coleção Mossoroense em 1949. O trabalho chama-se “Parabéns, Vingt-un Rosado” e foi inteiramente financiado pela Fundação.
Caio trabalhou diretamente com Vingt-un no período entre 1999 e 2005, quando o escritor faleceu (21 de dezembro). Ele ainda manteve-se ligado à Fundação Vingt-un Rosado até 2015, na coordenação de projetos e na edição de obras da Coleção Mossoroense.
Aluízio Alves foi o político mais importante do Rio Grande do Norte na segunda metade do Século XX. Talvez tivesse sido mais vezes governador e chegado ao Senado se não tivesse acontecido o Golpe de 1964.
No último domingo, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Alves escreveu um artigo no Jornal Tribuna do Norte que ganhou ampla repercussão nos veículos de comunicação da capital. Tudo por causa da última frase em que ele afirma que “a luta continua” dando a entender que em breve volta a política.
O fato histórico foi completamente ignorado pelos colegas.
A mim, o texto chama atenção justamente pelo resgate do passado de nossa política muito embora, neste caso, seja mais pelo viés emotivo que pelo científico.
Henrique, de forma compreensível, floreia a relação de Aluízio com os militares. Um desavisado ao ler o texto do ex-deputado acha que o “Cigano Feiticeiro” está no patamar de Miguel Arraes e Tancredo Neves, que resistiram ao golpe desde a primeira hora.
Aluízio, na verdade, apoiou o Golpe e, inclusive, colaborou com a repressão realizada no Rio Grande Norte na condição de governador não expurgado do cargo como aconteceu com outros colegas que ficaram contra a ruptura democrática. Há um livro chamado “Subversão no Rio Grande do Norte: relatórios dos inquéritos realizados por José Domingos da Silva e Carlos Moura de Morais Veras a mando do governo Aluízio Alves” que explica muito bem como isso aconteceu, inclusive mostrando a importação de Pernambuco de policiais para atuarem na repressão.
Em 1965, Aluízio fez de Walfredo Gurgel, seu vice em 1960, seu sucessor no Governo do Rio Grande do Norte. A vitória foi questionada na Justiça Eleitoral pelo candidato derrotado Dinarte Mariz (UDN) que tentara subverter o resultado das urnas no “tapetão”. O candidato do “Cigano Feiticeiro” levou a melhor também nos tribunais.
Os potiguares só voltariam a votar para governador em 1982.
Em 1966, já com o bipartidarismo, o “Cigano Feiticeiro” se filiou a Arena (que sustentava o regime) e elegeu-se deputado federal. Aluízio e Walfredo formavam a “Arena Verde”, em alusão as cores do aluizismo. A “Arena Vermelha” estava sob a batuta de Dinarte.
Nos anos de 1967 e 1968, Aluízio estava no grupo de arenistas insatisfeitos com o excesso de poder dos ex-membros da UDN dentro do partido. Queria a implantação das sublegendas.
Alinhado a Carlos Lacerda, que se tornara uma figura rejeitada pelos militares, Aluízo seguia mostrando força política no Rio Grande do Norte. Numa campanha memorável ajudou a eleger Antônio Rodrigues de Carvalho prefeito de Mossoró abatendo nas urnas Vingt-un Rosado por 98 votos. Tão cedo o líder da “Cruzada da Esperança” voltaria a fazer campanha em palanques.
Esse conjunto de acontecimentos custou caro ao “Cigano Feiticeiro”.
Aluízio é de fato uma vítima do Ato Institucional número 5. Em 7 de fevereiro de 1969, o mandato de deputado federal e os seus direitos políticos foram cassados por imposição do governo.
Foram 9 anos de ostracismo. Deveriam ser dez, incialmente. Mais adiante eu explico.
Segundo relatos da época, tudo foi articulado pelo desafeto político Dinarte Mariz. A alegação oficial foi de corrupção.
Os irmãos de Aluízio, Garibaldi e Agnelo Alves, também foram cassados. Restou lançar Henrique e Garibaldi Alves Filho na política nas eleições de 1970.
A perseguição a Aluízio aconteceu, mas foi branda numa época em que adversários do regime eram presos, torturados ou até mesmo mortos. Quando davam sorte exilados.
Adversário involuntário da ditadura, Aluízio manteve relações amistosas com os militares e seguia fazendo política nos bastidores e ocupando mandatos através de filho e sobrinho.
Mesmo impedido de disputar eleições, durante o ciclo dos governadores biônicos (1970/78), Aluízio influenciou nas decisões da elite política do Estado sendo consultado nas escolhas de Cortez Pereira (1970), Tarcísio Maia (1974) e Lavoisier Maia (1978). Neste último período sucessório, o “Cigano Feiticeiro” ajudou a construir a “Paz Pública” unindo-se em palanque com seus “algozes” para eleger Jessé Freire contra o correligionário Radir Pereira na disputa pelo Senado.
Em troca, ele ganhou uma espécie de “liberdade condicional” em que, se ainda não podia ser candidato, ao menos estava autorizado a subir num palanque.
Isso está relatado no livro “Como se Fazia Governador Durante o Regime Militar: o ciclo biônico no Rio Grande do Norte” do jornalista João Batista Machado.
Aluízio se juntou ao MDB após perder os direitos políticos e de lá saiu em 1979 para um curto período no Partido Popular (PP) onde se juntou a Tancredo Neves. Ficou por lá pouco tempo e voltou ao PMDB, já com o “P” de partido, em 1980.
Mesmo sem diretos políticos, Aluízio buscava manter boas relações com a ditadura e era amigo do general Golbery do Couto e Silva, famoso articulador político do regime. Os militares reconheciam a popularidade do “Cigano Feiticeiro”, mas o queriam de fora da política eleitoral por causa de seu perfil populista.
O último capítulo da relação entre Aluízio com a ditadura militar transcorreu nas eleições de 1982 quando o voto vinculado o impediu de se eleger governador pela segunda vez sendo derrotado por um garoto de 36 anos chamado José Agripino Maia por uma maioria de 106 mil votos.
Henrique, como filho, tem licença poética para florear a relação de Aluízio Alves com o a ditadura militar, mas a história é implacável para mostrar que o “Cigano Feiticeiro” vagueou ao sabor das conveniências para sobreviver em tempos autoritários tanto que manteve boas relações com um entusiasta da ditadura militar, o político mineiro Magalhães Pinto e isso fica bem claro no artigo de Henrique.
Aluízio Alves fez jus ao apelido “Cigano Feiticeiro” ao conseguir a mágica de deixar para posteridade a impressão de que fora apenas mais um dos perseguidos pelo regime. Henrique reforça essa meia verdade no artigo, mas não foi bem assim.